Os 10 momentos mais marcantes da Versace

Antes de Dario Vitale dar os primeiros passos na direção criativa da marca italiana, a gente relembra os trunfos de Gianni e Donatella Versace.


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Versace, verão 2020. Foto: Getty Images



“Não acredito em bom gosto.” Ainda hoje, essa é uma das falas de Gianni Versace mais reproduzidas e parafraseadas. A marca, que leva seu sobrenome, não estará na passarela nesta temporada de verão 2026. Isso porque o novo diretor criativo, Dario Vitale, preferiu chegar devagar ao cargo ao qual foi nomeado em março de 2025. Em vez de um desfile, um evento intimista durante a semana de moda de Milão mostrará um pouco da sua visão sobre a etiqueta. A escolha é um tanto curiosa, dada a preferência do fundador por grandes espetáculos com supermodelos e celebridades.

Nascido em 1946, em Régio da Calábria, cidade costeira no sul da Itália, Gianni pegou gosto pela moda dentro de casa. Sua mãe, Francesca, era costureira e o ajudou a fazer seu primeiro vestido, quando ele tinha apenas nove anos. A brincadeira de criança logo virou ofício. Na juventude, Gianni se mudou para Milão e passou pela equipe de alguns ateliês pequenos até abrir as portas de sua Versace, em 1978, na Via della Spiga. 

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Gianni Versace, em 1985. Foto: Getty Images

A marca era bem diferente de tudo o que havia no mercado italiano. Na época, grifes como Fendi, Max Mara, Gucci e Bottega Veneta já faziam a moda do país ser respeitada. Acontece que ela era muito mais associada à excelência na alfaiataria e no manuseio do couro. Essa discrição, até então dominante por lá, em nada tinha a ver com o designer. Fascinado pela extravagância, Gianni estava mais interessado em quebrar as normas tradicionais do guarda-roupa feminino – em outras palavras, do tal bom gosto.

A visão arriscada e maximalista convergiu com o exagero que dominaria o estilo dos anos 1980. Foi nesse cenário favorável e com o apoio dos irmãos (Santo nas finanças e Donatella nas relações públicas) que o sucesso da Versace se deu de um jeito quase instantâneo. Na década seguinte, apesar de a moda ter se inclinado para uma imagem reduzida e grunge, Gianni não quis saber: seguiu fiel a sua assinatura. E não só isso. Como você vai acompanhar na lista abaixo, nesse período, entre coleções e estratégias pioneiras, o estilista só cresceu, chegando ao auge de sua carreira. 

Tudo mudou em 1997. No dia 15 de julho, o mundo acordou com a notícia do falecimento do italiano. Na escada da porta de sua casa em Miami, ele foi morto a tiros depois da caminhada que fazia todas as manhãs. O homem, o ícone, a lenda, chame como quiser, Gianni Versace criou um universo fantástico, difícil de ser replicado, complexo de ser sucedido. O desafio ficou a cargo de Donatella, que após a tragédia assumiu a direção criativa da marca. A decisão não foi estranha à relação que eles possuíam: Gianni sempre pediu a opinião da irmã sobre as coleções e sua aprovação era essencial para ele.

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Donatella e Gianni Versace, em 1996. Foto: Getty Images

Trabalhar duro com tanta resiliência e paixão, mesmo com o desconsolo da perda, foi um dos grandes méritos da caçula. Por quase três décadas, ela gloriosamente manteve a empresa viva, respeitando o que seu irmão havia construído, mas também dando suas próprias contribuições. É bastante simbólico, aliás, que essa fibra toda tenha vindo de uma mulher. A liderança de Donatella não só honrou a família Versace, como fortaleceu as ideias sobre autoridade feminina, tão presentes na moda proposta por Gianni. Ela foi uma das poucas mulheres no comando de uma etiqueta de luxo.

Depois de 28 anos, a italiana deixou o cargo em março para assumir o papel de embaixadora-chefe. Em seu lugar, entrou Dario Vitale, ex-diretor de design da Miu Miu. “Defender a próxima geração de estilistas sempre foi importante para mim”, escreveu Donatella em um comunicado. O anúncio veio junto de outro: em um acordo avaliado em 1,5 bilhão de dólares, o Grupo Prada comprou a Versace da Capri Holdings, conglomerado estadunidense que detinha a grife desde 2018. 

Antes de um novo caminho se abrir, a gente relembra o que faz a Versace ser a Versace.

Bem-vindo, Oroton

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Naomi Campbell e Kate Moss, em 1999. Foto: Getty Images

Quando Gianni desenvolveu o Oroton, em 1982, o fascínio de estilistas por armaduras não era uma novidade. Antes dele, Paco Rabanne, André Courrèges e Pierre Cardin já haviam se dedicado às matérias-primas metálicas, em uma referência às roupas de proteção. Só que, até então, tudo o que havia sido feito era engenhoso demais e usável de menos. Foi pensando nisso que o italiano propôs um tecido com a aparência de metal, mas com a flexibilidade de uma malha. Mais leve e maleável, o material, que cai sobre o corpo como ouro, se tornou uma de suas assinaturas mais identificáveis.

Herança de mãe 

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Gianni Versace trabalhando para o Atelier Versace, em 1995. Foto: Getty Images

De olho no prestígio francês, o designer fundou o Atelier Versace, centrado na alta-costura, em 1989. Na época, ele disse que esse novo braço da etiqueta era um tributo a sua costureira favorita, sua mãe. Entre alguns hiatos, a linha desfilou em Paris por pouco mais de duas décadas, na maioria das vezes na piscina do hotel Ritz. Ela deixou as passarelas de vez na semana de inverno 2016. Isso, porém, não significou seu fim. Ainda hoje, o ateliê está de pé, mas agora todos seus esforços são direcionados ao tapete vermelho. 

Com vocês, as supermodelos 

No desfile de inverno 1991, em meio ao silêncio da multidão, “Freedom” (1990), de George Michael, ecoou pelo salão, abrindo os caminhos para a chegada de Naomi Campbell, Linda Evangelista, Cindy Crawford e Christy Turlington. O quarteto, que havia acabado de estrelar o videoclipe da canção, cruzou a passarela em vestidos coloridos de comprimentos mini, com os braços dados, passos dançantes e sorrisos largos. Cristalizados, aqueles minutos se tornaram o momento definidor da era das supermodelos. 

Fetiche sem culpa, sem vergonha

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Versace, inverno 1992. Foto: Getty Images

Conhecido como Miss S&M, o inverno 1992 dividiu opiniões. Isso porque a inspiração para os looks sensuais de couro preto, com tiras e fivelas de metal, vinham do universo BDSM, que na época era visto como algo desviante, quase amoral. É justo aí, porém, que mora a graça da coleção. Em um momento em que a sexualidade, especialmente a feminina, ainda era tão reprimida, Gianni estava interessado em falar de sexo sem culpa e sem vergonha. Mais reproduzido que o próprio desfile, um registro de Donatella usando uma das peças, em uma festa em Nova York, é lembrado até hoje.

Medusa, a mulher Versace

Símbolo máximo da etiqueta, a Medusa não foi escolhida à toa por Gianni. Sua cidade de origem, colonizada pela Grécia, tem a influência helênica por toda a parte, das ruínas arquitetônicas aos contos passados de geração em geração. Daí vem sua obsessão pela mitologia grega. A Medusa, em especial, representa bem o magnetismo e a fortaleza da mulher Versace. Reza a lenda que a criatura tinha cobras em vez de fios de cabelo e, com sua beleza atraente e ao mesmo tempo letal, era capaz de petrificar qualquer um que ousasse olhar em seus olhos. A marca a introduziu ao logo em 1992 e, desde então, o símbolo pouco mudou.

O vestido que parou Hollywood

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Elizabeth Hurley, em 1994. Foto: Getty Images

Em 1994, uma jovem atriz, então pouco conhecida, alcançou o estrelato global ao surgir na estreia do filme Quatro casamentos e um funeral. Além de estar acompanhada do protagonista, Hugh Grant, com quem namorava – o que certamente a ajudou –, Elizabeth Hurley usava um vestido preto com fendas reveladoras, presas por alfinetes de segurança dourados. A peça era Versace, claro. Vinda do desfile de inverno 1994, ela foi emprestada a Elizabeth, depois de a aspirante ter sido rejeitada por várias outras maisons. Com sorte, a marca italiana garantiu um momento de tapete vermelho digno dos livros de história.

De Jennifer Lopez a Jennifer Garner

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Jennifer Lopez, em 2000. Foto: Getty Images

O vestido de chiffon de seda, com estampa selvagem e decote que ultrapassava o umbigo, usado por Jennifer Lopez no Grammy, em 2000, mudou a internet para sempre. “Na época, essa foi a busca mais popular que já tínhamos visto. Mas as pessoas queriam mais que o texto, então criamos o Google Imagens”, escreveu o ex-diretor do Google, Eric Schmidt, em um artigo publicado no Project Syndicate, em 2015. Sob a direção de Donatella, o momento fez parte de uma estratégia de celebridades ainda mais expandida. Além de JLo, lembre também do look de Jennifer Garner, em De repente 30 (2004), e da campanha de verão 2014, estrelada por Lady Gaga.

Uma ode a Gianni

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Versace, verão 2018. Foto: Getty Images

A morte de Gianni foi contada e recontada ad infinitum. Desde 1997, foram feitos livros, documentários e até uma temporada inteira de American Horror Story (2011-). O assunto e os rumores, porém, foram (legitimamente) evitados por Donatella. Foi só no verão 2018, que marcou os 20 anos de sua partida, que a estilista decidiu falar sobre o irmão. Mas não pense que o foco do desfile estava no fim violento que ele teve. Estava, na verdade, na vida, graça e na eternidade de Gianni e de seu trabalho. Em uma apresentação eletrizante, os elementos mais memoráveis propostos pelo designer estavam todos lá, um por um, assim como as supermodelos.  

Corpos (todos eles) à mostra

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Versace, verão 2021. Foto: Getty Images

Ambientado com pilastras gregas e muita areia, o desfile de verão 2021 mergulhou no fundo do mar, trazendo de volta a estampa Trésor de la Mer, criada por Gianni nos anos 1990. A novidade maior ficou por conta do casting. Reluzentes, modelos gordas e curvilíneas cruzaram a passarela da Versace pela primeira vez. Eram elas: Jill Kortleve, Precious Lee e Alva Claire. O trunfo estava, sobretudo, nas roupas que elas vestiam. Enquanto outras casas diversificavam seus castings, ao mesmo tempo em que escondiam os corpos dessas mulheres por baixo de peças fechadas, a Versace as deixou com a pele à mostra e a barriga de fora, em toda sua glória. 

Fendace

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Fendace, pre-fall 2022. Foto: Getty Images

Em uma parceria histórica, a Versace se juntou a Fendi na temporada de pre-fall 2022. A ideia, em celebração à amizade e ao respeito mútuo, nasceu em um jantar em que a italiana recebeu Kim Jones e Silvia Venturini em sua casa. Para desenvolver a coleção, as marcas trocaram de papéis: Donatella desenhou para a Fendi e Kim desenhou para a Versace. Ali, eles deixaram de lado qualquer rivalidade especulada entre as duas empresas de grupos concorrentes. O feito conversa bem com a visão generosa e, sobretudo, humana pela qual Donatella é conhecida nos bastidores da indústria.

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