Wagner Moura fala à ELLE sobre prêmios, militância e como segue fiel ao que acredita
Ator protagoniza O agente secreto, que estreia nos cinemas brasileiros.
Na próxima quinta-feira (06.11), O agente secreto, novo filme do diretor Kleber Mendonça Filho, protagonizado por Wagner Moura, estreia em 700 salas no Brasil, depois de receber quase 20 prêmios, começando pelo Festival de Cannes, onde foi apresentado. O ator conversou com a ELLE em agosto, quando se preparava para iniciar a divulgação do filme, que só deve terminar às vésperas do Oscar. Confira abaixo parte da entrevista com Wagner publicada ELLE Men Volume 05:
Um grupo de curiosos, com celulares em punho, vai se formando nas areias da Praia de Copacabana para acompanhar Wagner Moura posar para este ensaio. O segurança pede espaço. Quando o ator precisa trocar de blusa, escuta uma plateia entusiasmada e tenta não esboçar nenhuma reação.
Wagner procura ser discreto – na areia e fora dela. Ele não tem redes sociais e só aparece na imprensa para falar de seus trabalhos ou quando sente necessidade de se posicionar sobre assuntos que acredita serem necessários, certos, justos. Se somos todos seres políticos, é provável que ele seja um pouco mais do que a média, pelo menos em termos de engajamento.
Seus próximos trabalhos (como alguns anteriores) são bons exemplos. Em outubro, ele volta aos palcos, 17 anos após encenar Hamlet, com uma livre adaptação de O inimigo do povo, do norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), que Wagner já havia tentado levar ao cinema. Com direção de Christiane Jatahy, única brasileira a ganhar o Leão de Ouro de Veneza, a peça O julgamento estreia em Salvador, onde ele iniciou sua carreira de ator.
LEIA MAIS: A produtora Emilie Lesclaux fala sobre a carreira e as expectativas em torno de O Agente Secreto

Foto: Bob Wolfenson
Os novos personagens de Wagner Moura
“Comecei a me entender como artista fazendo teatro”, diz. Wagner já acompanhava o trabalho da dramaturga e, depois de assistir a uma peça dela em Los Angeles, onde mora há sete anos, engatou uma série de conversas para encenar algo juntos. A montagem parte do texto original para criar um tribunal para Thomas Stockmann, o protagonista, que denuncia a contaminação da água de uma cidade que vive do turismo. Se o balneário fechar, a economia colapsa. “Gosto de várias coisas na peça. Uma é a discussão entre economia e verdade, o imperativo moral de dizer o que você acredita. A coragem de seguir falando, apesar de tudo o que vem contra, me comove muito. De alguma forma, isso conversa com O agente secreto.”
Com estreia prevista para novembro no Brasil, o filme O agente secreto saiu do Festival de Cannes, em maio, com os prêmios de melhores diretor e ator – um feito inédito para o país –, conquistados por Kleber Mendonça Filho e Wagner. No longa, ambientado em 1977, em meio à ditadura militar, ele interpreta Marcelo, um especialista em tecnologia que foge para o Recife para reencontrar o filho. Ao chegar lá, descobre que não está tão seguro como imaginava.
Assim como a peça com Christiane, a produção é fruto de um encontro que vinha sendo ensaiado havia anos por Kleber e Wagner. Os dois se conheceram quando o ator foi a Cannes apresentar Cidade Baixa (2005). Na época, o futuro diretor de Aquarius (2016) e Bacurau (2019) ainda era um crítico de cinema. “Em um passado não muito distante, as coisas ficaram difíceis para os artistas. Quando você se expõe, sobretudo em circunstâncias adversas, tem que estar disposto a sofrer consequências. Nós nos ajudamos bastante. Foi muito difícil com Marighella (filme que Wagner dirigiu e lançou em 2021). Kleber também levou muita porrada, depois do protesto em Cannes com Aquarius (contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff).”
LEIA MAIS: Como Rita Azevedo construiu o figurino de O agente secreto

Foto: Bob Wolfenson
Para o baiano, tanto O agente secreto quanto O julgamento falam sobre valores “e sobre como se manter fiel ao que você acredita quando tudo ao seu redor diz o oposto”, resume. “Ele (Marcelo, protagonista de O agente secreto) é só um cara que quer viver de acordo com as coisas que pensa. É um pouco esta lógica: como ser quem você é e se manter fiel a isso.”
Atualmente Wagner se prepara tanto para a peça quanto para apresentar o filme em festivais fora do Brasil, em uma campanha para conquistar espaço entre os indicados ao Oscar. “É um momento bem frenético para mim.” Saído da areia e antes de seguir para o teatro, ele conversou com a ELLE Men.
O que passou na sua cabeça quando você ganhou o prêmio de melhor ator em Cannes?
Estava fazendo um filme em Londres (a ficção científica 11817, em que contracena com Greta Lee) e o dia da premiação seria minha folga. Podia ter ido (para Cannes), estava perto, mas os caras me botaram para filmar. Eram cenas de close de mão. E não era com a equipe com a qual eu trabalhava todo dia. Eram desconhecidos. Fiquei meio puto porque queria estar lá. No fim, fiquei superfeliz, mas chateado, porque queria dividir aquele momento com o Kleber, com a Emily (Lesclaux, produtora do longa), com a equipe. Então o Léo Lacca (diretor assistente) fez uma videochamada mostrando o Kleber no palco. Falei: “Kleber ganhou!” Ele disse: “Não, você ganhou!” Ele teve que desligar, e os caras me chamaram para filmar. Voltei para fazer uma cena em que eu pegava o cocô do cachorro. Ninguém era meu amigo. Não podia dizer: “Ganhei Cannes!” Então, fiquei filmando e pensei: “Caralho, ganhei”. E peguei o cocô. Depois, fui tomar um vinho sozinho. Foi quando o Kleber me ligou no meio da coletiva (o diretor transmitiu a ligação para a plateia em Cannes).
“A gente fez um filme foda. Se vierem indicações e outras premiações, vai ser incrível. A gente quer que isso aconteça. Se não acontecer, todo mundo continua orgulhoso do filme”
Você foi apontado pela revista Variety como um dos prováveis indicados ao Oscar. Como você lida com a sua expectativa e com a dos outros?
Com esse negócio de indicação, você tem que ter muita calma. A gente gosta de criar expectativa, mas ainda vão sair os filmes do Festival de Veneza (que costuma apresentar produções que concorrem ao Oscar). O agente secreto foi muito bem em Cannes. Não estou dizendo que ele não tem chance. A gente vai trabalhar para que isso aconteça. Existe uma campanha em que a Neon (distribuidora do filme nos EUA) vai investir. Mas nós somos mais um dos 50 cavalinhos correndo na mesma direção. Então, não pode ter expectativa. Isso é muito ruim, de modo geral – e é uma coisa que tento ensinar aos meus filhos. A gente vai para Telluride (EUA) agora, para Toronto (Canadá), dois festivais grandes que podem dar mais visibilidade ao filme. Eu superacredito nele. A gente fez um filme foda. Se vierem indicações e outras premiações, vai ser incrível. A gente quer que isso aconteça. Se não acontecer, todo mundo continua orgulhoso do filme.
O que você leva dessa experiência com o Kleber?
Porra, foi massa. Não trabalhava falando português havia muito tempo, o que é uma maluquice. Fiz Marighella, que tomou um tempão (a produção começou em 2017 e foi lançada em 2021). Depois, teve a pandemia. Antes, tinha feito Narcos (2015-2017), que também demorou um tempo. Aí veio aquele governo que acabou com o cinema no Brasil. Então, foi maravilhoso voltar. E esse processo com o Kleber, que foi lento, foi bonito. Recife é muito importante na minha vida. Sou nordestino e uma parte grande da minha família mora lá. Na cidade, aconteceu um dos momentos mais importantes da minha carreira como ator: a peça A máquina, com o (diretor) João Falcão, com o Lázaro (Ramos), o
Vladimir (Brichta), o Gustavo (Lago). A gente estreou no Recife 25 anos atrás. Parecia uma coisa cíclica. Eu estava voltando para aquele lugar para fazer um filme falando português, trabalhando
como um diretor pelo qual tenho uma superadmiração, que se tornou um grande amigo, na minha região.
Clique aqui para comprar a sua ELLE Men e conferir a entrevista completa com Wagner Moura.
LEIA MAIS: O agente secreto traz estética vintage e mensagem atual
Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes



