Na Chanel, é tudo sobre intimidade e possibilidade

Virginie Viard leva o desfile da Chanel para o interior de um clube noturno e aposta em tendências e peças que fazem todo sentido para o atual momento.


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Ninguém precisa ser especialista em moda para perceber que roupas esportivas dominam boa parte de nossas vidas já faz algum tempo. Durante a pandemia mais ainda. A tendência até ganhou novo nome: gorpcore. É que, agora, a pedida são itens usados em atividades ao ar livre, como trilha e montanhismo. Isso explica o aumento expressivo na procura por marcas como Salomon e The North Face. Explica também muito do que se viu nos desfiles internacionais de inverno 2021.

A apresentação da Chanel, por exemplo, aconteceu dentro de uma buatchy, mas as roupas eram mais après-ski do que avant-drinks. Dirigido pela dupla de fotógrafos Inez & Vinoodh, o vídeo começa com as modelos de conversinha, se maquiando e chegando no famoso Chez Castel, clubinho parisiense conhecido por reunir nomes como Amanda Lear, Mick Jagger e Françoise Hardy. Elas vestem longos casacos de alfaiataria (geralmente de tweed, lã ou veludo) ou com pegada street e utilitária. Tem ainda as versões com pêlo de ovelha colorido, inspiradas numa coleção de 1994 da Chanel, toda sobre pele falsa, e tricôs com motivos alpinos.

Em coleções passadas, a diretora de criação Virginie Viard já dera sinais do quanto gosta de trabalhar com as partes de cima – jaquetas, paletós e camisas. Nesta coleção, sua paixão é declarada. São essas peças que roubam a cena em quase toda a apresentação. Tanto que o filme é basicamente sobre as modelos tirando seus casacos e os colocando, displicentemente, no balcão da chapelaria, antes de correr para a pista.

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Por baixo dessas quase peça-chave, aprecem looks mais delicados e um tanto despreocupados com tradições do passado. Começando pelos comprimentos, muitos deles mini, como pede esta estação. Tem também camisetas de seda transparentes sobre tops geométricos e saias de tweed, bustiês rendados e famosas combinação de hotpant com body. Vez ou outra, aparece um jeans larguinho, uma camisa igualmente ampla e… botas felpudas, macacões e calças de esqui.

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Aqui, importa menos o gropcore em si do que o significado da tendência na Chanel de Virginie. Desde que assumiu o posto ocupado por Karl Lagerfeld de 1983 até 2019, a diretora tenta tirar a maison do pedestal. Sua intenção é reaproximar a grife da vida e cotidiano das mulheres – e quer isso 360º, da roupa a maneira como são apresentadas. Ninguém está podendo ir em clubinho algum, mas a ideia de desfilar uma coleção dentro de um ambiente intimista e tão saudoso é bem esperta. É mais fácil uma possível consumidora se ver nessa situação do que num caminhando ao lado de um iceberg ou acompanhando o lançamento de um foguete grifado. Mais ainda se essa representação for um mix entre as roupas que a gente não vê a hora de voltar a usar e aquelas que não nos vemos mais sem.

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