“Kingdom of dreams” passa a limpo a moda dos anos 90 e 2000
Série, disponível na HBO Max, examina o cenário da época costurando as trajetórias de Alexander McQueen, John Galliano, Marc Jacobs e Tom Ford.
Estreou com discrição no fim do ano passado, na HBO Max, Kingdom of dreams, série documental em quatro episódios, que passa a limpo a moda dos anos 90 e da primeira década dos anos 2000. Baseada no livro Deluxe: How luxury lost its luster (2007), de Dana Thomas, e dos mesmos produtores de McQueen (2018), a produção foca em quatro protagonistas da época – Alexander McQueen, John Galliano, Marc Jacobs e Tom Ford.
Galliano era um talento em ascensão da moda inglesa no início dos anos 90, contratado por Bernard Arnault, que solidificava o grupo LVMH, para assumir a Givenchy. Depois de adquirir a Dior, o empresário moveu Galliano para casa francesa e convidou McQueen para assumir a Givenchy. Arnault ainda contrataria Jacobs, outro então talento em ascensão, mas da moda estadunidense, para criar a linha ready to wear da Louis Vuitton.
Ford, que já trabalhava para a Gucci, assumiu a direção criativa da casa à beira da falência, uma parceria com o empresário Domenico de Sole, dando um rumo meteórico à grife, que viria a ser adquirida por François Pinault e seu grupo PPR. Pinault ainda colocaria o texano na direção criativa da Saint Laurent, parte do império de luxo que ele sedimentava (o atual grupo Kering).
A delicada equação entre criatividade e sucesso comercial, a enorme pressão e o número significativo de coleções por ano custou caro aos estilistas. McQueen se suicidou. Galliano foi condenado por injúria racial e demitido da Dior, enquanto enfrentava problemas com álcool e outras substâncias, uma questão que Jacobs, que deixou a Vuitton, também precisou lidar. Já Ford também se despediu da Gucci, após divergências com Pinault. Apesar de documental, a série mais parece o enredo de uma novela, entre ascensões, quedas e manipulações.
John Galliano na sede da Dior, em 2005 Foto: Derek Hudson/Getty Images
Kingdom of dreams se diferencia de tantos documentários de moda por costurar a trajetória dos quatro estilistas, destacando o protagonismo de Arnault (hoje um dos homens mais ricos do mundo) e de Pinault, além da rivalidade entre os dois. Entre uma ótima pesquisa de arquivo, conta com depoimentos de Stephen Jones, Tim Blanks, Amanda Harlech, Carine Roitfeld e Lily Cole. A seguir, quatro fatos lembrados pela série:
As críticas de Saint Laurent a Tom Ford
Saint Laurent torceu o nariz para as coleções de Tom Ford à frente da maison que leva seu nome. O estadunidense assumiu a marca quando ela foi adquirida por Pinault, em 1999. Em imagens de arquivo da série, Ford lembra das cartas nada afetuosas que recebeu de Saint Laurent, em que o francês afirmava que o texano levou minutos para destruir seu trabalho de anos. Em outra sequência do documentário, durante um desfile, Saint Laurent pede que Arnault, rival de Pinault, salve a label que leva seu nome, sem notar que os microfones na sala captavam o que dizia.
Tom Ford em desfile da Yves Saint Laurent, em 2003 Foto: Pool BASSIGNAC/BUU/Gamma-Rapho via Getty Images
McQueen, o patinho feito do grupo LVMH
À frente da Givenchy, McQueen dispunha de um orçamento muito inferior ao de Galliano na Dior, que realizava desfiles cinematográficos para a maison. O inglês se ressentia da pouca atenção que recebia do grupo LVMH e de Arnault. Sua então assistente lembra na série como McQueen passou a usar suas melhores ideias para sua própria label, em vez de empregá-las na Givenchy. O estilista afirmava publicamente que trabalhava na casa francesa apenas para financiar sua própria marca.
Alexander McQueen em desfile de sua marca homônima, em 2009 Foto: Michel Dufour/WireImage
A admiração de McQueen por Tom Ford
O inglês deixou então a Givenchy e o grupo LVMH e vendeu sua marca para o grupo PPR. O documentário lembra como McQueen admirava Tom Ford – na época, a estrela do grupo – na moda (apesar de propostas distantes) e nos negócios, passando até a usar ternos ao fim dos seus desfiles, como o estadunidense.
O dia que Arnault perdeu uma guerra para Pinault
No fim dos anos 90, Arnault vinha acumulando ações da Gucci, o que causava receio de Tom Ford e Domenico de Sole, que temiam que a casa italiana passasse ao controle do grupo LVMH. De Sole então negociou em segredo a venda da marca para Pinault, o que acentuou ainda mais a rivalidade com Arnault.
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