“Rainha Charlotte” mostra o passado de “Bridgerton”

Prequela criada por Shonda Rhimes para a Netflix traz a chegada da adolescente à corte inglesa; ELLE conversou com o elenco.


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India Amarteifio como a jovem Rainha Charlotte Liam Daniel/Netflix



Uma prequela de uma série famosa nem sempre é uma boa ideia. Mas Rainha Charlotte – Uma história Bridgerton, gentis e amados leitores (como diria a narradora Lady Whistledown, personagem deste universo), traz vários dos elementos que fizeram da série criada por Shonda Rhimes e baseada nos livros de Julia Quinn um sucesso. Na lista, homens bonitos sem camisa, intrigas, romances complicados, cenas sexy e um clima de fantasia levinho como chantilly. Mas Rainha Charlotte também vem com um toque de realidade e comentário social que servem tanto para a época quanto para hoje, ausentes da série original.

Rainha Charlotte, que estreia nesta quinta-feira (04.05) na Netflix com seis episódios, conta a história da monarca decidida e empoderada, interpretada por Golda Rosheuvel, uma das personagens favoritas de Bridgerton (2020-). Na nova série, Rosheuvel está de volta, mostrando no presente sua luta para que a linhagem continue – nenhum de seus 13 filhos tem herdeiros. Ou seja, Rainha Charlotte é também uma sequência da segunda temporada de Bridgerton – a terceira acabou de ser gravada e pode estrear no segundo semestre.

Mas é, principalmente, uma história de origem, contando como foi a chegada da jovem Charlotte (interpretada pela carismática India Amarteifio, de As crônicas de Evermoor), uma aristocrata alemã, à corte do rei George 3º (Corey Mylchreest, de The sandman). Os dois vão se casar sem jamais terem se visto – e sem ela saber que o rei tem seus segredos.

Os personagens são reais: o rei George 3º governou entre 1760 e 1820, o reinado mais longo para um homem no Reino Unido. Ele casou-se com Charlotte em 1761 e tiveram 15 filhos (13 chegaram à fase adulta). Como o personagem da série, George realmente se interessava por ciências e agricultura e tinha problemas de saúde mental. Napoleão Bonaparte foi derrotado em seu reinado, e George 3º perdeu boa parte das colônias nas Américas depois da Guerra de Independência dos Estados Unidos.

Já Charlotte seria descendente do rei Afonso 3º, de Portugal, e uma de suas amantes, conhecida como Madragana, que seria moura ou moçárabe (cristãos ibéricos que adotaram a língua e a cultura árabe). Alguns historiadores defendem que a rainha seria biracial, ou seja, não seria branca, baseando-se em algumas descrições e pinturas – tradicionalmente, os artistas atenuavam traços considerados indesejados nos membros da realeza. Mas a série, claro, é uma obra de ficção inspirada por esses fatos. Conheça mais sobre a produção e aqui, mais sobre seu figurino:

A chance de conhecer Charlotte melhor
Para Rosheuvel, Rainha Charlotte foi um presente. “É uma grande exploração de sua vida privada”, disse ela em entrevista à ELLE, por videoconferência. “Em Bridgerton, tinha criado um passado para ela (como uma preparação para a atuação), coisas que não foram ditas nos roteiros ou na série. E elas foram colocadas no papel por Shonda Rhimes e realmente desenvolvidas, como a relação de Charlotte com seus filhos. Agora podemos ver seus rostos, em vez de imaginá-los.” Outras personagens conhecidas de Bridgerton também aparecem em Rainha Charlotte em suas versões jovens: Lady Violet Bridgerton (Ruth Gemmell), Lady Agatha Danbury (Adjoa Andoh) e Brimsley (Hugh Sachs), o fiel escudeiro da rainha.

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Corey Mylchreest e India Amarteifio como o jovem casal Rei George e Rainha Charlotte Nick Wall/Netflix © 2023

O passado de Charlotte
A série começa com a personagem vendo seu irmão fechar o acordo para ela se casar com o rei George. Mesmo tendo apenas 17 anos, ela é perspicaz: por que estaria o governante de uma das maiores potências do mundo procurando uma noiva de uma região sem a mesma importância? Demora um pouco para Charlotte descobrir. Mesmo sem desejar estar ali, ela tem um primeiro encontro delicioso com George. Só que estamos no universo Bridgerton, ou seja, a relação fica bem complicada. E Charlotte ainda precisa lidar com a mudança provocada por sua chegada: ela é a primeira rainha não-branca do Reino Unido.

Outras versões de personagens
Além da jovem Charlotte, a série também traz a versão mais nova de Lady Danbury, interpretada por Arsema Thomas, em um de seus primeiros trabalhos, e de Brimsley, vivido por Sam Clemmett (Cherry). O braço-direito da rainha vai ter uma relação próxima e complicada com Reynolds (Freddie Dennis, de The nevers), o valete do rei George. Também aparece na série a jovem Violet Ledger (Connie Jenkins-Greig), mais tarde conhecida como Violet Bridgerton. É uma adolescente inteligente e curiosa, que tem sua sede de saber estimulada por seu pai, o Lorde Ledger (Keir Charles, de Shadow and bone).

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India Amarteifio em cena da série Liam Daniel/Netflix © 2023

O racismo existe em Rainha Charlotte
Muita gente ama Bridgerton. Houve, porém, quem criticasse a série por se situar em uma espécie de pós-racismo, em que a cor da pele dos personagens não importava. Em Rainha Charlotte, a coroação de uma mulher não-branca faz com que a mãe do rei, a princesa Augusta (Michelle Fairley, de Game of thrones), crie o chamado “grande experimento”, visando diversificar a corte para deixar a rainha mais à vontade. Assim, homens ricos vindos das colônias, como o Lorde Danbury (Cyril Nri, de Cucumber), conquistam uma posição na corte. Mas não vai ser fácil: sua mulher, a jovem Agatha Danbury, vai lutar para que tanto seu marido quanto ela sejam, de fato, incluídos – e chamar a rainha para essa briga. “O grande experimento foi criado por pessoas brancas, sem a participação de não-brancos, ou seja, dos beneficiários dessa política. Então, muitas das medidas são só para inglês ver”, disse Thomas em entrevista à ELLE.

E o machismo também está lá
Rainha Charlotte é obviamente encabeçada por uma mulher e tem diversas personagens femininas importantes, como Lady Danbury nas versões atual e jovem, e a princesa Augusta, que manda na corte devido às limitações do rei George 3º. Mas, diferentemente de Bridgerton, com relacionamentos baseados puramente no amor, aqui há casamentos arranjados. Charlotte pode até viver uma grande paixão por George – como deixam evidente as várias cenas de sexo –, mas não se junta a ele por causa do romance, e sim por ele necessitar de herdeiros. Agatha precisa aguentar o marido mais velho e nada interessado em suas necessidades como mulher.

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Liam Daniel/Netflix © 2022

O poder da representação
Arsema Thomas, nascida nos Estados Unidos e criada entre Uganda, Quênia, Togo, Benin, Índia e Inglaterra, jamais imaginou um dia estar em um filme ou série de época sem retratar as tragédias vividas pelas pessoas negras, como a escravidão. “Tudo o que é histórico para nós se relaciona a traumas”, disse ela. “Então, ver uma série como esta, com pessoas não-brancas empoderadas e com espaço para provocar mudanças, é muito importante. O Brasil, por exemplo, é um país tão diverso, que lindo poder mostrar como os brasileiros realmente são. Eu vi Coisa mais linda e foi incrível ver a variedade de brasileiros na tela. Acho um desserviço mostrar uma única narrativa.”

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