Marta Minujín convida o público para viver a arte
Primeira mostra panorâmica da artista argentina no Brasil traz uma explosão de cores e instalações imersivas.
A argentina Marta Minujín é uma celebridade em seu país. “Isso me dá forças, mas também me aborrece um pouco. Vou ao médico e, em vez de me curar, ele quer conversar e tirar foto comigo”, diz ela, com uma expressão entre divertida e resignada.
Marta é constantemente abordada por fãs nas ruas de Buenos Aires e conta que tem até sósias, que tentam replicar seu visual com cabelos loiros quase brancos, óculos escuros e looks coloridíssimos (ela costuma criar suas próprias roupas).
Marta Minujín e a curadora Ana Maria Maia Foto: Patricia Oyama
Nos próximos meses, o público brasileiro vai ter a oportunidade de entender esse fascínio exercido entre os argentinos e por que Marta é um dos nomes mais relevantes da arte latino-americana contemporânea. A partir deste sábado, 29 de julho, a 28 de janeiro de 2024, a Pinacoteca de São Paulo abriga a exposição Marta Minujín: Ao vivo, a primeira mostra panorâmica dessa artista de 80 anos de idade e 60 de carreira.
Em obras como El Batacazo (1965) e Galeria Blanda (1973), Marta quer que o público não apenas olhe suas criações, mas que vivencie a arte, como explicou no evento acompanhado por ELLE a convite do Iguatemi, um dos patrocinadores da mostra.
A Galeria Blanda recriada na Pinacoteca Foto: Levi Fanan
As duas obras citadas acima foram recriadas na Pinacoteca. Em El Batacazo (que não tem uma tradução precisa em português, mas é algo como “o golpe”), o visitante sobe as escadas macias da instalação multicolorida, encontra jogadores de futebol infláveis no topo, desce por um escorregador e aterrisa ao lado de uma imensa mulher inflável, inspirada na atriz italiana Virna Lisi, musa dos anos 1960. Já a Galeria Blanda (galeria mole) é um espaço coberto por colchões amarrados do chão ao teto, onde o público pode pular, deitar e rolar à vontade (em ambas as instalações, é preciso tirar os sapatos para entrar, então, a dica é ir com calçados fáceis de pôr e tirar).
Os colchões de Marta Minujín
Colchões, por sinal, são um item importante na obra de Marta, que entrou na carreira artística por meio da pintura. Quando começou a trabalhar com materiais alternativos, esses objetos tão corriqueiros foram escolhidos por ela como ponto de partida para várias obras. “Nós nascemos nos colchões. Morremos e vivemos nos colchões”, diz a artista.
Além de forrarem a Galeria Blanda, dezenas de colchões e almofadas costurados por Marta decoram a primeira sala da mostra. São peças listradas em cores fluorescentes, presas às paredes, como quadros, ou em pedestais, como esculturas.
Colchões e tramas coloridas preenchem a primeira sala da mostra. Foto: Levi Fanan
As listras dos colchões voltam a aparecer no ponto alto da exposição, a videoinstalação imersiva Implosión (2021). Com projeções em movimento da padronagem listrada fluorescente, a obra envolve o visitante numa viagem lisérgica e estonteante.
Mas não pense que o mundo multicolorido de Marta Minujin é só ludicidade e fantasia. Crítica ferrenha da ditadura militar na Argentina e de políticas opressoras, ela expôs seu posicionamento em diversos trabalhos, que podem ser conferidos na Pinacoteca. Entre eles, está a série de fotos com Marta, Andy Warhol e um monte de espigas de milho, numa simbologia em que a argentina paga com o cereal a dívida externa ao artista estadunidense.
Videoinstalação Implosión (2021) Foto: Levi Fanan
Uma das pioneiras dos happenings, Marta também tem essa vertente abordada na panorâmica por meio de registros em fotos e vídeos, como a série Arte Agrícola em Acción (1978-1979). Num desses happenings, pessoas com macacões brancos e baldes amarelos na cabeça cantam, enquanto manipulam caixas e caixas de grapefruit em Nova York.
A mostra traz ainda imagens de obras absurdamente grandiosas de Marta, como sua proposta de construir monumentos efêmeros. Assim, em 1979, ela criou uma réplica do Obelisco de Buenos Aires com pães doces e, em 1983, um Partenon com 70 mil livros. Ao final, o público era convidado a levar pedaços da instalação para casa.
Fotos do Obelisco de pão doce montado em Buenos Aires em 1979. Foto: Levi Fanan
“Marta Minujín prova que a utopia é realizável”, resume a curadora da mostra, Ana Maria Maia. Até janeiro do ano que vem, na Pinacoteca, será possível tirar os sapatos e embarcar nos sonhos e aventuras da artista argentina.
Marta Minujín: Ao vivo – até 28 de janeiro de 2024, na Pina Luz, 1º andar. Praça da Luz, 2, São Paulo, SP. Horário de funcionamento: de quarta a segunda, das 10h às 18h (quintas-feiras estendidas: das 10h às 20h, com entrada gratuita a partir das 18h). Ingresso: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia).
Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes