Ray e Charles Eames, o casal mais badalado do design
As criações de Ray e Charles Eames se mantêm vivas, desejadas e atuais ainda nos dias de hoje. De cadeiras a aviões, passando por brinquedos, eles produziram de tudo, sempre de um jeito inovador e de olho no que as pessoas realmente precisavam.
O encontro entre uma pintora abstrata e um estudante de arquitetura rendeu, além de um casamento, uma parceria que se tornaria a mais cultuada da história do design. Com seus traços limpos, sua visão moderna sobre o mobiliário e a adição de cores fortes, Ray e Charles Eames chacoalharam o jeito que as pessoas moravam até os anos 1940 e 1950 nos Estados Unidos.
Ray e Charles Eames, em 1959. Foto: Getty Images
Nascido em 1907, em St. Louis, Charles fez uma passagem meteórica pelo curso de arquitetura na Universidade de Washington, onde era bolsista. Diz a lenda (ou talvez seja pura verdade) que ele foi expulso pelas ideias progressivas demais para a época e pela defesa intransigente que fez da obra de Frank Lloyd Wright (o arquiteto acreditava que, além de confortáveis, as casas deviam trazer alegria – algo que poderia soar bastante alternativo nas primeiras décadas do século 20).
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Outra versão, mais pé no chão, dá conta de que Charles deixou o curso simplesmente porque já estava contratado em um escritório de arquitetura e não conseguia conciliar o trabalho com as demandas das aulas.
Foi a convite do arquiteto finlandês Eliel Saarinen que ele se mudou para Michigan com a família (já era casado com Catherine Woermann e tinha uma filha pequena), para concluir os estudos de arquitetura na Cranbrook Academy of Art. Mais tarde, nessa mesma instituição, trabalhou como professor e ocupou a cadeira de chefe do departamento de design. Um sucesso consistente para quem começou a carreira de um jeito meio atabalhoado.
Admirador confesso dos finlandeses, Charles se tornaria amigo de Eero (filho de Eliel), com quem produziu peças premiadas pelo Museu de Arte Moderna de Nova York, dentro do conceito de design orgânico.
Cadeira Organic, desenhada por Charles Eames e Eero Saarinen, em 1940. Foto: Vitra
O início da dupla Ray e Charles Eames
A carreira engrenou, mas o casamento desandou. Charles e Catherine se divorciaram em 1941. No mesmo ano, ele se casaria com Bernice, sua colega na Cranbrook, uma californiana de Sacramento cujo apelido era Ray.
Os dois se mudaram para Los Angeles, onde ergueram a casa onde passariam o resto de suas vidas. A construção icônica sobre um penhasco à beira do Pacífico foi a resposta dos dois a um desafio da revista Arts & Architecture. Montada em poucos dias com chapas de aço pré-fabricadas, a Casa Eames, ou Case Study House #8, alternava painéis de vidro com outros coloridos, lembrando uma tela de Mondrian materializada em arquitetura. Com dois blocos (no formato de caixas), um para a casa e outro para o estúdio, interligados por um jardim, hoje abriga a Fundação Eames.
Um dos pontos altos da carreira de Ray e Charles Eames foi desenvolver um método para moldar a madeira compensada, criando móveis e objetos que se tornaram símbolos do design moderno. A cadeira LCW, de 1945, é o maior exemplo. Tanto que foi considerada a “cadeira do século” pela crítica de arquitetura Esther McCoy. O material também seria transformado em esculturas curvilíneas para decoração.
“O que funciona bem é melhor do que o que parece bom, porque o que funciona bem dura” Ray Eames
A dupla cresceu unindo técnica perfeita, disciplina e espírito lúdico e se aventurou em todo tipo de projeto. Fizeram móveis, construíram casas (entre elas, a do diretor de cinema Billy Wilder, em Beverly Hills) e aderiram ao esforço de guerra, nos anos 1940, desenvolvendo de talas e macas a fuselagens para aviões. Ainda produziram filmes, fotografaram muito e organizaram exposições.
Entre suas invenções mais deliciosas estão os brinquedos, como o Elefante Eames, as pipas e os jogos de cartas para montar estruturas em três dimensões. Ray ainda levou seu entusiasmo para a moda, criando tecidos com estamparia abstrata, sua paixão.
O Elefante Eames, de 1945, projetado em madeira compensada, ganhou posteriomente versões em polipropileno. Foto: Vitra
Mas foi no mobiliário que eles deixaram sua marca mais notável. Cadeiras como a DCM, a DAL, a inacreditável La Chaise e a clássica Lounge Chair, de 1956, estofada, com a banqueta para apoiar os pés, são admiradas e desejadas até hoje. Suas escrivaninhas e estantes partem da mesma inspiração que moldou a moradia do casal. Vale muito conhecer também seus trabalhos experimentais. A Experimental Lounge Chair, de 1944, é um assombro de delicadeza, equilíbrio e criatividade. Uma suave armadura para sentar.
La Chaise, de 1948. Foto: Vitra
O ponto de partida para o processo criativo era sempre buscar a solução para um problema. Os dois observavam a necessidade das pessoas, os traços comuns que as uniam e não seus desejos individuais. Em seguida, em vez de fazer esboços, fotografavam tudo e montavam maquetes. Repetiam esses modelos em tamanho real à exaustão até encontrar a forma perfeita.
“O que funciona bem é melhor do que o que parece bom, porque o que funciona bem dura”, costumava dizer Ray. Charles seguia na mesma linha de pensamento. “Tudo se conecta – pessoas, ideias, objetos. A qualidade das conexões é a chave para a qualidade. Não acredito que existam alguns “poucos talentos geniais”, mas sim em pessoas fazendo coisas que estão realmente interessadas em fazer”.
O legado de Ray e Charles se mantém vivo e de pé desde que a Herman Miller se interessou por suas peças e a Vitra passou a fabricar seus móveis na Europa e no Oriente Médio, nos anos 1950, uma relação que permanece até os dias atuais. As obras com assinatura dos Eames também são o foco de boa parte do acervo do Museu de Design Vitra, em Weil am Rhein, na Alemanha, que reúne mais de 50 peças do casal e onde várias das preciosidades que criaram podem ser admiradas.
Para saber mais:
https://www.eamesoffice.com/
https://eamesfoundation.org/
https://www.vitra.com/en-un/product/designer/details/charles-ray-eames
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