Skin purging: o que explica o surgimento de espinhas após o uso de um novo cosmético?

Alguma vez ao começar um cosmético, você percebeu uma reação imediata estranha, quase contrária ao prometido na embalagem? O produto que você comprou para melhorar a acne e textura da pele trouxe, na verdade, uma piora na qualidade da derme. O fenômeno – que não é anormal, não se preocupe! – recebeu nas redes sociais o nome de skin purging, entendido como “purificação da pele” no bom português.

Purificação porque, conforme reza a lenda, ou melhor, as máximas compartilhadas na internet, o período se trataria de uma piora temporária, relacionada à expulsão mais rápida das diversas espinhas que se formariam no futuro. A teoria, porém, gera debates entre os profissionais.

@nahhlengler

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Quando o skin purging pode acontecer?

“O skin purging não é um termo médico”, afirma o dermatologista e professor da UFRJ Victor Bechara. “No entanto, é algo que pode acontecer com pacientes que começam um tratamento com Vitamina A e seus derivados, caso do ácido retinóico ou retinol“, salienta. Diferentemente dos comentários nas redes sociais, isso não acontece pelo aceleramento do funcionamento do ciclo da pele, mas porque estes ingredientes aumentam a proliferação das células – e a existência de mais células pode levar à oclusão dos poros. “No entanto, essa reação é passageira e acontece sobretudo no primeiro mês, podendo se estender até o terceiro.”

Isso não significa, por outro lado, que a vitamina A não seja propícia para peles acneicas. Ao contrário: ela serve como um tratamento para o quadro, uma vez que a longo prazo traz os efeitos anti-inflamatórios, reguladores da produção do sebo e redutores da espessura da epiderme (a camada superior e mais fina da pele).

Retinóides podem levar ao aumento temporário da acne. Foto: Getty Imaes

É por este motivo que nem todos os médicos concordam sobre a existência do período de adaptação. “O ácido retinóico não é um elemento que acelera o aparecimento da espinha, já que na verdade, reduz os mecanismos que levam à obstrução”, defende o dermatologista Daniel Dziabas, sediado em São Paulo. Resultados, como ressaltam do outro lado, que não acontecem de imediato.

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Ambos concordam que o tratamento com ácido retinóico aconteça com o acompanhamento de um profissional. “O uso dos retinóides deve ser cauteloso. Indico para os pacientes começarem com a aplicação em dias alternados ou em doses mais baixas”, aconselha Bechara. “Para quem já tem predisposição à acne, recomendo a limpeza de pele em clínicas, o uso de esfoliantes e outros ativos anti-inflamatórios, que é o caso da niacinamida e do alfa bisabolol”, acrescenta o dermatologista.

A acne resultante deste processo, no entanto, só acontece nos locais em que o paciente já costuma ter espinhas. Se você notou o aparecimento de uma pústula em um local inédito, melhor ficar alerta: pode ser um caso de acne cosmética.

A acne cosmética

Victor Bechara explica que a acne cosmética, ao contrário do purging, não acontece pelo aumento das células, mas, sim, pela característica de alguns ingredientes. “A principal causa do surgimento de acne é o uso incorreto de cosméticos para o seu tipo de pele”, complementa Daniel Dziabas. “Cosméticos pesados, que trazem ingredientes gordurosos, como manteigas e óleos, que podem favorecer a obstrução das glândulas sebáceas e o surgimento da inflamação”, explica.

Cosméticos inapropriados podem levar à acne. Foto: Unsplash

Este tipo de acne acontece logo em seguida do uso do cosmético e se concentra nas áreas em que o cosmético é aplicado. “A acne comum normalmente está concentrada na zona T, onde existe uma maior concentração de glândulas sebáceas, ou na região mandibular, que é o caso da acne da mulher adulta”, continua sobre a diferenciação entre os dois tipos de acne.

Por isso, vale se fazer algumas perguntas antes de começar um novo produto no skincare. “Primeiro se pergunte: esse tratamento é para mim? Se a resposta for sim, avalie se os benefícios são superiores aos efeitos colaterais”, indica Bechara. “Depois de entender a indicação e a segurança do produto, deve-se pensar nas estratégias de adaptação para o tratamento, como a concentração do ingrediente, a regularidade do uso e outras associações possíveis.”

Mas há ressalvas: caso o produto não tenha efeito de renovação celular, como têm os retinóides, e houver o surgimento de acne, é provável que as espinhas sejam constantes durante seu uso. O melhor, neste caso, é deixar o produto no escanteio. “Ele precisa ser compatível – se você tem a pele oleosa, prefira séruns ou géis, já se sua pele é seca, cremes são indicados”, explica Dziabas.

Entender sua pele e os melhores produtos para ela é crucial para evitar acne. Foto: Unsplash

Outras causas da acne cosmética e alergias

O professor da UFRJ destaca que a acne cosmética pode acontecer também pelo uso de cosméticos contaminados por bactérias. Se este for o caso, entre em contato com a marca e relate sua experiência para que medidas sejam tomadas.

Alergia é a outra causa de reações adversas. “Geralmente, ela é acompanhada de vermelhidão, aspereza, sensação de queimação e o surgimento de pequenas bolas que não chegam a formar pus”, comenta Daniel Dziabas sobre a diferença entre acne e alergias.

Experiências como essas provam que, apesar do skincare estar em alta, os cuidados não podem ser encarados como uma brincadeira. Na dúvida se quer se jogar numa novidade ou não, passe com um dermatologista.