Lenny Niemeyer antecipa detalhes da coleção de alto verão 2024
Em colaboração com mulheres da Associação de Artesãs de Barreirinhas, no Maranhão, Lenny Niemeyer ressalta a importância da preservação do artesanato brasileiro e da cultura nacional.
Quando Lenny Niemeyer veio a São Paulo em busca de uma locação para seu próximo desfile, sua equipe viajou preparada para um dia intenso de visitas e horas no trânsito. Não foi o que aconteceu. A primeira parada foi a última. “Ela não queria ir para nenhum outro lugar”, brinca a diretora de estilo Telma Azevedo.
“Coloquei os pés na Cinemateca Brasileira e soube que teria que ser lá”, diz Lenny, sobre o local em que apresentará, na segunda-feira (27.11) a coleção de alto verão 2024. “A gente vem de dois eventos em espaços grandiosos do Oscar Niemeyer: o Caminho Niemeyer, na comemoração dos 30 anos, e o Auditório do Ibirapuera, que também tem o Ruy Ohtake (a língua vermelha da entrada é assinada por ele)”, explica a estilista. “Então, pensei em um lugar um pouco mais rústico, que tivesse um bom link com a coleção.”
Rústico não é um adjetivo imediatamente associado a Lenny Niemeyer, a pessoas e a marca. Sofisticado é uma opção mais comum às descrições sobre a própria e sobre seu apreço por design de aparente simplicidade, precisão de corte e modelagem impecável. E a ideia é exatamente essa.
Lenny Niemeyer, alto verão 2024. Foto: Divulgação
“Queremos mostrar que materiais técnicas artesanais brasileiras não são só souvenirs para turistas, são produtos de qualidade”, fala a diretora de criação e fundadora da etiqueta de moda praia. Entre os destaques da coleção de alto verão 2024, estão peças de crochê de palha de buriti e de seda rústica (ou palha de seda).
São roupas com formas esculturais, tecidas e moldadas à mão, que serão vendidas em quantidades limitadas ou sob demanda, devido à complexidade e tempo necessário dos trabalhos manuais.
As sedas são de uma parceria com o Casulo Feliz, empresa que produz o tecido em sistema semi-industrial – o fio orgânico passa por processos de tingimento natural e é combinado à reciclagem de fibras têxteis. Já os buritis são criações das mulheres membro da Associação de Artesãs de Barreirinhas, no Maranhão, fornecedor de longa data da marca. “Elas trabalham com a gente já faz quatro anos”, fala Telma Azevedo, diretora de estilo.
Lenny Niemeyer, alto verão 2024. Foto: Divulgação
Quem fez o match foi a estilista de acessórios Raissa Colela. Ela conheceu as profissionais da cidade maranhense em 2014. “São nove anos juntos, minha marca de acessórios são elas que fazem”, diz. O ano era 2019 e uma das bolsas mais queridinhas de Lenny era um modelo de palha feito com buriti de Madagascar. “Peguei aquela bolsa e pensei: ‘mas é igual ao nosso buriti’”, relembra Telma.
Telma e Raissa já se conheciam de outros tempos, chegaram até a trabalhar juntas em outra empresa. Bastou uma ligação para que parte dos acessórios da Lenny Niemeyer fosse produzida com matéria-prima e artesanato de uma comunidade quilombola do nordeste brasileiro.
Durante a entrevista, Lenny mencionou a vontade de falar sobre o Brasil, das coisas do Brasil, das coisas feitas no Brasil. Não que nunca tivesse abordado o assunto. A paixão pelo modernismo brasileiro, a conexão com o Rio de Janeiro (ela é a estilista paulista mais carioca que existe), com a praia, com o corpo tornam impossíveis qualquer desconexão com o nacional.
Veio daí a ideia de expandir a atuação das artesãs de Barreirinhas. “A gente fez uma curadoria de materiais, uns mais duros, outros mais macios, para entender o que seria possível aplicar em roupas”, explica Telma. Mais do que isso, já configura spoiler.
Lenny Niemeyer, alto verão 2024. Foto: Divulgação
Voltando à locação, o link com a coleção não é só estético. A Cinemateca Brasileira é a instituição federal responsável pela preservação e promoção da produção audiovisual do Brasil. Ou seja, é que promove, cuida e guarda registros em imagens da história, memória e gente deste país.
Em 2021, um incêndio em um dos galpões que serviam de arquivo para a Cinemateca queimou, entre outros materiais, cerca de quatro toneladas do acervo documental de toda política pública do cinema brasileiro. O acidente escancarou o descaso com a instituição naquela época, com meses de ingerências, cortes de funcionários e de investimento.
Ao unir sua moda praia ao trabalho artesanal de profissionais brasileiros na essência, Lenny faz o que está na base de qualquer forma de produção, criação e representação cultural: registrar, preservar e valorizar a nossa história.
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