Brasil Eco Fashion Week 7: confira os destaques de dentro e fora das passarelas
Maior evento de moda sustentável da América Latina, o Brasil Eco Fashion Week chega à 7ª edição com três dias de desfiles, rodas de conversa, exposições e experiências interativas.
A 7ª edição da Brasil Eco Fashion Week (BEFW) aconteceu entre os dias 07 a 09 de dezembro, em São Paulo. Sob o tema Ecoinovação e Desenvolvimento Sustentável, a agenda gratuita contou com um mercado eco, desfiles, exposições, workshops, rodas de conversa e experiências interativas.
“É um espaço para informar e influenciar as decisões na cadeia produtiva da indústria da moda a fim de torná-la mais justa e responsável”, explica Rafael Morais, diretor executivo da BEFW, realizada desde 2017 na capital paulista.
A seguir, comentamos os principais destaques do maior evento de moda sustentável da América Latina:
Brasil Eco Fashion Week: melhores desfiles
No primeiro dia, quem ocupou as passarelas do Brasil Eco Fashion Week foram as marcas e iniciativas Stúdio Orla, Morada Rico Bracco, Luan Valloto, Altair Santo, VB Atelier, Trama Afetiva, Sioduhi Studio e Projeto Algodão Paraíba.
Trama Afetiva. Foto: Agência Fotosite
Trama Afetiva. Foto: Agência Fotosite
Trama Afetiva. Foto: Agência Fotosite
Muita gente conecta a moda sustentável a cores neutras, modelagens básicas e minimalismo. Mas o que vimos na apresentação da plataforma de design social Trama Afetiva foi bem diferente. “Mais é mais” é um dos motes da coleção desfilada sob direção da estilista e consultora Thais Losso.
As peças foram produzidas com restos de guarda-chuvas, por meio da técnica de upcycling, e deram um show de cores vibrantes, com bolsas gigantes e roupas volumosas. Todas contaram com vários parceiros durante a manufatura: de grupos de costureiras até cooperativas de tratamento de resíduos e coletivos de artesanato.
Segundo Thaís, a ideia era trazer humor aliado ao design pop – o que foi muito bem realizado. A diretora também destaca o protagonismo das mulheres durante a criação.
Sioduhi Studio. Foto: Agência Fotosite
Sioduhi Studio. Foto: Agência Fotosite
Sioduhi Studio. Foto: Agência Fotosite
Já nas propostas do estilista indígena Sioduhi Piratapuya, o conhecimento de mulheres do Alto Rio Negro é resgatado e traduzido em peças fluidas, com tons majoritariamente beges, tingidos naturalmente, e tecidos tramados com fibras de tucum. A coleção referencia as Amõ Numiã, as primeiras mulheres, filhas do Ʉmʉkoho Mahsʉ, o criador do universo. “É um desfile que fala sobre o que aconteceu e está acontecendo na Amazônia que aconteceram nesse meio período”, explica Siodhui.
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Elis Cardim, René Orozco, Kunpi Arqueomoda Andina, We’e’ena Tikuna Arte Indigena, Demodê, Min, Transmuta + Ruth Kuriyama e Maju Convida foram os nomes do segundo dia de desfiles da BEFW.
Ventana. Foto: Agência Fotosite
Ventana. Foto: Agência Fotosite
No terceiro dia, um dos destaques é a Ventana, marca que aposta em peças maximalistas e já bem conhecida pelo uso do upcycling. Além dela também se apresentaram Atêlie Camila Machado, Ludimila, Heringer, NUZ + Naisha Cardoso, Repassa, No.WasTee, Christian Sato e Moda do João.
A coleção da Ventana é baseada em um texto homônimo da escritora Helena Clarão. “É sobre uma mulher nascida nos anos 1990, que passou boa parte da sua vida atrás de um grande amor. Essa mulher já entende que esse não é o foco da sua vida, mas ainda não entende muito bem o que de fato quer”, explica Gabrielle Pilotto, fundadora e diretora criativa da etiqueta.
É uma situação – ou realidade – não muito diferente daquela em que muita gente se encontra “Com um mundo cheio de possibilidades e ao mesmo tempo tão caótico, corrido e muitas vezes solitário, Helena se sente exausta e perdida”, fala a estilista. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
Ventana. Foto: Agência Fotosite
Ventana. Foto: Agência Fotosite
As peças são oriundas de brechós ou foram cedidas pela marca de vestidos de noiva Atelieria. A sensibilidade de Helena, aliada ao DNA da Ventana, resulta em uma sequência de looks em tons claros, com rendas, bordados e padronagens que remetem a um imaginário de feminilidade, sem perder a característica de desconstrução tão presente nos produtos da etiqueta.
Brasil Eco Fashion Week: experiência moda circular
Durante os três dias da Brasil Eco Fashion Week, o público pôde participar da Experiência Moda Circular. Trata-se de parte das pesquisas voltadas aos consumidores da instituição britânica Textiles Circularity Centre, vinculada ao Royal College of Art.
A atividade é inédita no Brasil, mas já foi aplicada em Londres em 2022. Funciona assim: numa primeira etapa, os participantes interagem com cinco tipos diferentes de tecidos e respondem um questionário relacionado ao toque, caimento, gramatura e outras características dos materiais. Depois, é possível construir uma camisa a partir de elementos modulares à disposição (com punhos, golas, laterais e bolsos), tornando o participante um cocriador do produto.
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Bruna Petreca, pesquisadora sênior do Royal College of Art, explica que o objetivo é integrar os consumidores à moda circular a partir de conexão com as roupas. “A maioria das pesquisas lidavam com um desafio mais técnico ou focado na cadeia de suprimento. Ninguém trazia o consumidor como parte definitiva dessa equação de fechar”, diz ela.
“Se crio um material melhor, mas as pessoas continuam consumindo e descartando do mesmo jeito, não acontece nada. Não adianta só substituir o material para conseguir alguma redução de emissão (de gases de efeito estufa). Precisamos de tudo: material, reduzir consumo, melhorar a transparência e até a eficiência da cadeia de suprimentos”, argumenta Bruna.
Brasil Eco Fashion Week: diálogos, workshops, lançamentos
Ainda na agenda de circularidade, a empresa de cuidados para a casa Positiv.a lançou o Guia do Guarda-Roupa Sustentável em colaboração com a Cora Design. O material reúne informações e indicações para a manutenção mais responsável de roupas, calçados e acessórios e conta com o apoio de 25 marcas de moda. Teve ainda o lançamento da Fibershed no Brasil, uma organização sem fins lucrativos que visa conectar, desenvolver e melhorar as cadeias têxteis locais.
As rodas de conversa envolveram temas como moda amazônica, internacionalização de negócios, ESG e empreendedorismo sustentável. Já os workshops abordaram assuntos relacionados a tingimentos naturais, biomateriais, modelagens sem resíduos, upcycling e compliance para empresas.
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