Isaac Silva, 2024
Isaac Silva apresenta sua nova coleção em homenagem ao bloco afro Ilê Aiyê e à estilista de seus figurinos, Dete Lima
Foi também em uma sexta-feira, neste mesmo parque, que a Isaac Silva estreou na SPFW em 2019. Cinco anos se passaram daquela apresentação histórica, com sal grosso e arruda no chão, cobrindo a passarela e vibrando axé. Neste três de maio, a estilista retorna ao Parque do Ibirapuera, agora embaixo da marquise do Museu Afro, para apresentar sua mais nova coleção.
Muita coisa mudou nesses últimos anos. Isa passou por um processo de transição, sua marca cresceu, abriu lojas próprias e ajudou a mudar a cara da SPFW, que hoje foi uma das parceiras da apresentação mesmo não fazendo parte do line-up oficial do evento. Mas teve uma coisa que não mudou: a influência de sua ancestralidade, das suas origens e das suas vivências na sua moda.
Isaac Silva. Foto: De Macedo / Divulgação
Em homenagem ao aniversário de 50 anos do bloco afro Ilê Aiyê e dos 70 anos da estilista Dete Lima, responsável pelos figurinos do bloco, Isa olhou para Salvador como ponto de partida. E, como explica nossa repórter Lelê Santhana, natural da cidade, não dá para falar que o bloco ou a estilista são só o que suas nomenclaturas indicam. O Ilê Aiyê e a Dete Lima são fenômenos culturais. Fenômenos culturais essencialmente brasileiros e que movimentam Curuzu, o bairro onde ele foi criado, em 1974, bem como toda a capital baiana. Isa Silva conheceu Dete Lima quando cursava faculdade de moda e buscava algum tipo de representatividade na area. Encontrou nela a inspiração que precisava.
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O dia escolhido para este desfile não foi à toa, como quase nada que Isa faz: além dele fazer parte da programação do Festival Feira Preta, a sexta-feira é um dia santo de agradecimentos para as religiões de matriz africana. Por isso os looks brancos abrem a apresentação, com vestidos alongados cheios de babados, peplums e mangas bufantes que marcam a moda da estilista.
Isaac Silva. Foto: De Macedo / Divulgação
Isaac Silva. Foto: De Macedo / Divulgação
Em seguida, há boas versões de camisas alongadas e calças amplas em preto. As cores do Ilê, vermelho, amarelo, branco e preto, colorem o terceiro bloco da apresentação em peças lisas e em uma estampa feita exclusivamente para a coleção. Capas, saias e túnicas compõem essas criações.
Alguns turbantes vistos na passarela foram feitos pela própria Dete Lima, que assistiu ao desfile da primeira fila e recebeu os aplausos junto à estilista. Nos acessórios, a novidade fica para as bolsas decoradas com búzios, feitas em parceria com a marca Africalion, inéditas para a Isaac Silva.
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O casting é um show à parte: entre modelos negras, indígenas e mais velhas, 60% delas eram trans. A lendária drag queen Marcia Pantera, que já foi tema de uma coleção inteira da marca, deu seu pivô, assim como Larissa Valéria, coroada Deusa do Ébano pelo Ilê em 2024. É que Isa, mais do que ninguém, sabe que representatividade importa.
Isaac Silva. Foto: De Macedo / Divulgação
Isaac Silva. Foto: De Macedo / Divulgação
Já faz algum tempo que a moda da marca se afasta do streetwear que marcava os seus primeiros desfiles, mostrando que a moda afro-brasileira pode ser muito variada — e é. Se o lema “Acredite no seu axé” fez uma de suas primeiras aparições naquele desfile em 2019, quando a estilista estreou na SPFW, neste três de maio, ele não aparece em nenhuma peça. É que agora, quem conhece Isa Silva, já acredita nele. Axé.
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