Cat Power fala à ELLE sobre novo disco

Em "Covers", ela retoma regravações de nomes que vão de Billie Holiday a Frank Ocean; cantora conta sobre sua experiência como mãe solo.


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Neste mês de janeiro, quando completa 50 anos, Cat Power lança Covers, seu 11º disco. Como o nome sugere, o álbum é dedicado a canções de outros compositores. São nomes contemporâneos, como Frank Ocean e Lana Del Rey, e de outras gerações, como Nick Cave e Iggy Pop. “O disco tem faixas de artistas de diferentes eras e estilos, como se eu tentasse abranger toda a minha experiência com a música”, diz à ELLE Brasil Chan Marshall, a.k.a. Cat Power, cantora referência da cena alternativa estadunidense.

Engana-se quem pensa que esse seria o encerramento de uma trilogia de discos de regravações dela, que começou com The covers record (2000) e seguiu com Jukebox (2008). “Se tiver sorte de continuar nesse mundo de estúdio e shows, sempre cantarei músicas que amo, escritas por outras pessoas. Simplesmente não consigo evitar. É o que adoro fazer.”

As canções de Covers vêm sendo lapidadas desde a turnê do seu penúltimo álbum, Wanderer (2018), em que, como de costume, misturou faixas autorais e covers em seu setlist. Mas, no lugar de uma reprodução ao pé da letra, Chan costura um novo universo para cada palavra. Durante o processo de gravação de Covers, acabou registrando mais canções do que previa. “Não tinha ideia de que ficaria motivada para criar músicas para mais quatro faixas não planejadas. Acabei gravando essas canções com a banda logo no nosso primeiro dia de estúdio.”

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Foto: Divuçgação

Chan fez também uma versão de sua “Hate”, do disco The greatest (2006), atualizada com o nome de “Unhate”. Para “Bad religion”, de Frank Ocean, ela tomou emprestado os acordes de sua “In your face”, de Wanderer. “‘Bad religion’ foi a primeira música que quis gravar porque representa muita coisa. Frank consegue combinar uma escrita emocional intensa com um canto inacreditável, e esses elementos criam uma intimidade instantânea dentro de mim.”

Na leva de amores antigos, a cantora revisitou “I’ll be seeing you”, de Billie Holiday, como uma homenagem ao amigo e colaborador Philippe Zdar, o produtor francês do duo Cassius, morto em 2019. Chan se prepara para cantar essa e outras músicas numa turnê que começará em abril pelos Estados Unidos, após ser postergada por causa do avanço da Covid, e seguirá pela Europa, com mais de 40 datas até agosto ‒ ainda não há planos para shows no Brasil, onde já se apresentou algumas vezes. “O que mais sinto falta é a conexão que dividimos durante a jornada de uma música. Os fãs podem esperar a mesma vibe e todas as músicas que eu conseguir fazer caber no meu fôlego.”

Com quase 30 anos de carreira, ela conta não ter abandonado o entusiasmo pela música. “Sinto a mesma coisa. A minha voz está diferente, assim como as minhas experiências.” Nos últimos dois anos, ela trocou o ambiente noturno dos shows pela vida doméstica na companhia do filho de 7 anos, Boaz. No período em casa, ela o ensinou a ler, escrever e fazer contas. “Fico com o coração cheio sabendo que me conectei com ele dessa forma. Consegui ser mais do que pensei que poderia como uma mãe solteira, isolada por tanto tempo. Sou muito grata por nossa saúde e pelo presente que é a nossa relação.”

Durante esse tempo, não escreveu novas músicas nem acompanhou todos os lançamentos da cena. Em sua casa, contou com a rádio estadunidense NPR como companhia, além dos discos que escolhia para escutar com o filho, do rock ao rap. Entre os favoritos dele estão Metal circus, do Hüsker Dü, Elephant, do The White Stripes, Licensed to ill, dos Beasties Boys, e Thriller, de Michael Jackson. Quando Boaz já estava dormindo, ela cultivou um ritual específico: “Escutar música country antiga e aproveitar as noites sozinha com a Lua”.

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