Amadeu Marins inaugura novo espaço de beauté no Rio de Janeiro 

Depois de trabalhar no David Mallet, um dos salões mais prestigiados de Paris, o colorista desembarca na capital fluminense para abrir uma pop-up que une arte e beleza. Aqui você confere um bate-papo com ele. 


Amadeu Marins
@amadeumarins



Com o objetivo de unir os universos da beleza e da arte, o hairstylist Amadeu Marins inaugura um novo espaço no Rio de Janeiro. Além dos atendimentos tradicionais de um salão de cabeleireiro, ele conta com uma galeria, que será ocupada pelo Instituto Artistas Latinas. A exposição, batizada de “O que sentimos”, reúne trabalhos produzidos por 20 mulheres latino-americanas. O hairstylist ainda fechou uma parceria com o Flora, um dos bares mais badalados do momento, para que uma pop-up fosse aberta dentro do salão. 

O espaço está localizado no centro da capital fluminense e não é à toa. “Sou apaixonado pelo glamour da região central do Rio – é onde a história do nosso país começa. É um lugar que me inspira muito”, conta Amadeu. À princípio, ele ficará aberto entre os dias 24 de julho e 24 setembro. “A ideia é ver como vai ser a repercussão para entender se conseguimos fazer algo mais definitivo”, almeja.  

Novo espaço de Amadeu Marins

Amadeu Marins em seu novo espaço no Rio de Janeiro @lucaolucaolucaolucao

Quem é Amadeu Marins? 

Como primeiro latino-americano negro a trabalhar no David Mallet, um dos salões mais prestigiados de Paris, Amadeu Marins está em um dos melhores momentos da sua carreira – mas ele quer mais. “Sou resiliente, determinado e focado. Quero sempre o melhor, então dou o meu melhor”, conta o hairstylist em entrevista à ELLE Brasil. A seguir, você conhece um pouco mais sobre a sua trajetória dentro e fora do universo de beauté.

Quem é Amadeu Marins antes da beleza? 

Nasci no subúrbio do Rio de Janeiro, na comunidade de Manguinhos. Meus pais faleceram quando eu era criança – minha mãe quando eu tinha 6 anos, e meu pai dois anos depois – e, por isso, fui criado por duas famílias adotivas diferentes. Aos 13, tive contato com o esporte, que foi o que me deu um caminho na educação, abrindo as portas para que eu estudasse em bons colégios. Inclusive, cheguei a cursar educação física, mas tive uma lesão que me obrigou a encerrar a vida de atleta. Isso acabou comigo e demorei um tempo para conseguir me recuperar psicologicamente.

Mas acredito que o esporte tenha me ensinado algumas das coisas que mais valorizo na vida, como o senso de coletivo e de conseguir pensar em equipe. Levo isso muito para o meu trabalho no salão, porque ele envolve muitas pessoas. Não consigo me ver sendo o profissional que sou hoje sem ter passado por essa experiência no esporte. 

Como você descobriu o universo da beleza? 

Uma amiga minha me convidou para participar de uma palestra no Instituto L’Oréal com foco em cabeleireiros. Eu não tinha o mínimo interesse no assunto, afinal, eu era atleta e vivia em um mundo 100% masculinizado – inclusive, tinha nojo de cabelo! (risos) Mas acabei indo e, acredite ou não, ela nunca apareceu, porque encontrou o amor da vida dela na porta do espaço enquanto fumava um cigarro antes do evento. (risos) Mas eu entrei de cabeça e saí de lá completamente apaixonado e decidido de que isso era o que eu queria fazer. 

O que fez com que você se apaixonasse? 

Acho que a beleza tem tudo a ver com os meus valores: eu gosto de poder cuidar das pessoas, de ter trocas reais e fazer a diferença na vida de alguém. E isso, na minha opinião, é o maior trabalho de um cabeleireiro. 

Leia mais: O que explica o corte pós-término?

Quais foram seus próximos passos? 

Comecei a fazer cursos e formações. Eu não tinha talento ou dom, e também não tinha prática, não sabia nem segurar uma escova. Pensei em desistir várias vezes, mas tive professores incríveis que, além de me ensinarem muito, cuidaram de mim. O ponto de virada foi quando as aulas de coloração começaram, porque me apaixonei completamente. 

O que na coloração te chamou a atenção? 

Sempre fui uma pessoa muito visual, desde criança. Então, a magia de poder transformar as pessoas, de ajudá-las a se encontrarem, através das cores, me encantou. É sobre poder dar vida a diferentes personalidades – com cores diferentes, você pode ser sexy, séria ou descolada. Acho que, no limite, pintar o cabelo é algo que traz muito impacto – para o bem e para o mal. (risos) 

Conta um pouco sobre o afro ginger? 

Há 8 anos, a revolução dos cachos e crespos ainda não havia acontecido. Não havia treinamentos, produtos ou referências, então comecei a buscar por conta própria. Por acaso, descobri uma ilha que fica próxima a Madagascar, na África, que tem uma pequena quantidade de habitantes que, apesar de serem negros, nascem ruivos naturais. Isso me inspirou muito: chamei uma menina que tinha um black lindo e pintei ele todo de ruivo – e ainda fiz umas sardas de rena nela. A foto desse visual bombou! Vários sites e revistas, inclusive a ELLE, falaram sobre o assunto. Isso levou meu nome para muitos outros lugares e ajudou a elevar o afro ginger a outro patamar. 

Amadeu Marins

Amadeu Marins pelas ruas de Paris. Foto: Reprodução/Instagram

Quando isso se tornou uma carreira? 

Sou do signo de capricórnio com ascendente em touro e lua em áries. (risos) Sou resiliente, determinado e focado. Quero sempre o melhor, então dou o meu melhor. Antes de terminar meu primeiro curso, entendi que precisava encontrar um lugar para trabalhar. Como eu morava e estudava na Tijuca, comecei a buscar os melhores salões da região. Logo estava trabalhando como assistente de uma colorista incrível. Depois, abri uma salinha na casa da minha sogra, onde comecei a fazer várias modelos para poder testar e conhecer a coloração de todas as marcas, e assim fui me desenvolvendo.

Passei por outros salões no Rio de Janeiro, inclusive um grande na zona sul fluminense onde atendia celebridades, personalidades da alta sociedade e pessoas que movimentavam a indústria do entretenimento no Brasil. Imagina, um preto, suburbano e favelado alcançar tudo isso? Nesse meio tempo, também trabalhei como educador, fazendo treinamentos nacionais e internacionais. Foi assim que as pessoas começaram a lembrar o meu nome, falar sobre o meu trabalho e entender a minha estética. 

Como você foi parar em Paris? 

Do Rio de Janeiro, fui para São Paulo, que foi a minha grande escola para sequer pensar trabalhar fora do Brasil. Sinto que a capital paulista é muito mais plural e diversa e foi lá onde pude ter contato com todos os tipos e texturas de cabelo. Mas foi também onde percebi que precisava de mais técnica, o que me levou a procurar academia internacionais. Passei um tempo na Europa sozinho, sem falar inglês ou francês, e fiz três formações diferentes, em Paris, Londres e Berlim, todas focadas em coloração. Voltei para o Brasil, mas depois de seis meses, me mudei definitivamente para Paris.

Como você começou a trabalhar no David Mallett? 

Um amigo meu disse que esse era o melhor salão de Paris e que trabalhar lá era o sonho de todo cabeleireiro. Então, decidi que, de um jeito ou de outro, iria conseguir trabalhar lá – mesmo sabendo que o processo seletivo, que raramente acontecia, era extremamente difícil e concorrido. No mesmo dia, comecei a seguir o David no Instagram, que me seguiu de volta. Mandei meu portfólio, mas a primeira coisa que ele me perguntou foi quantos idiomas eu falava, porque isso era um pré-requisito para trabalhar lá. Na época, eu não falava nenhum outro além do português, mas falei pra ele que aprenderia.

Trabalhei em outros lugares, fiz mais cursos e, sete meses depois, voltamos a nos falar. Fiz entrevistas, testes práticos, provas de política, comportamento e arte – tudo isso porque as pessoas mais importantes do mundo passam por lá, líderes políticos, diretoras de grandes marcas, princesas do oriente médio. Passei no processo seletivo e trabalhei lá alguns meses, até a pandemia começar. Nesse meio tempo, precisei voltar para o Brasil para renovar meu visto e, como não podia mais ficar fixo em Paris enquanto ele não saísse, passei a viajar para diversos lugares, de Nova York à Dubai, em nome do David. 

E agora você pretende ficar por aqui? 

Percebi que sou muito mais feliz morando no Rio e acredito que não precise morar em Paris para o meu trabalho poder acontecer lá. Eu e o David ainda estamos tentando entender um formato que funcione para ambos. Enquanto isso, estou focado na inauguração da minha pop-up para atender os meus clientes em um ambiente que une beleza, arte e bons drinks. A ideia é ver como vai ser a repercusão desse espaço para entender se conseguimos fazer algo mais definitivo. 

 

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