Entre cantos, costuras e suturas: uma prosa com Rosana Paulino

Em sua coluna, Hanayrá Negreiros conversa com a artista e professora.





Oi, gente! Espero que vocês estejam bem e em segurança, apesar dos pesares e do Brasil…

Estou voltando a escrever depois de quase três meses refletindo sobre como organizar as palavras em meio a uma pandemia que parece não ter fim. Compartilhei também algumas ideias com as minhas colegas da ELLE que são pessoas maravilhosas e que realmente colocam em prática o conceito de “saúde mental no trabalho em primeiro lugar”, me dando todo o tempo necessário para voltar a escrever! Obrigada time ELLE.

Tive que recorrer à velha memória para lembrar o que eu havia pensado para esta coluna no início: falar sobre moda, memória e futuros possíveis, sejam eles quais forem. Escrever tem se tornado uma tarefa árdua e com desafios diários a serem vencidos e muitas vezes parece que não vai dar. Quando convidei a Rosana para esta prosa, lá em meados de fevereiro, eu estava reorganizando algumas pautas e maneiras de compartilhar as ideias por aqui, e é essa conversa que divido agora com vocês. Mas antes da prosa em si, gostaria de indicar para a leitura desta entrevista, uma música da Jill Scott presente não só nas playlists da Rosana, como nas minhas também (amo muito a Jill). Golden é que nos embala, uma canção do seu segundo disco Beautifully Human: Words and Sounds Vol. 2, de 2004.

Às 17:29, um minuto adiantada, Rosana entra na sala do Zoom e já vai logo abrindo o sorrisão que somente uma ariana, vestida de verde musgo e cabelos crespos presos em um quase coque, poderia nos conceder. Para além de Jill Scott, Rosana gosta de escutar e cantar black music, como ela costuma dizer, e no seu radinho toca de Racionais Mc’s a Cartola. Outros sons que estão invadindo as manhãs de Rosana são os cantos dos pássaros que ela tem escutado bastante, acordando com eles na parte noroeste de São Paulo, onde mora e possui o seu ateliê. Dentre as visitas ilustres figuram tucanos, papagaios e maritacas.

De antemão avisei só tomaria 30, no máximo 40 minutos do seu tempo, mas seguimos a conversa por quase duas horas.

Você comentou que tem cantado muito e sobre o canto como estratégia. Isso me fez lembrar de uma conversa que tive com uma amiga (a Bárbara Poerner, repórter da ELLE), sobre ter rituais cotidianos nos tempos atuais, como cozinhar comidas gostosas, ler livros, ouvir músicas e cantar. Para quem pode estar em casa em um momento como este em que vivemos, eles se tornam importantes para que consigamos levar o dia e a vida. O que você acha disso?

Acho que são importantes e pouco compreendidos por uma sociedade que é voltada para o eurocentrismo, uma sociedade que não é, mas que se pretende eurocêntrica. Então, eu canto, e canto o dia inteiro, como uma maneira de resistência. Outro dia estava vendo um pequeno vídeo do funeral da Aretha Franklin e vi como aquele povo estava dançando e cantando e como isso é para os negros descendentes uma maneira de se equilibrar.

Não é alienação, é estratégia. Existe uma diferença muito grande aí, porque se os nossos antepassados não tivessem as suas formas de estratégia, e muitas eram calcadas na música, eles não conseguiriam seguir. Nisso percebemos a importância do spiritual por exemplo, um tipo de musicalidade negra norte-americana, ou então, aqui no Brasil, a maneira como sempre se cantou nos terreiros. Isso são maneiras diferentes de se colocar diante da vida e dos problemas. Trata-se também de se pensar em um mundo que não é tão separado entre o dos vivos e o dos mortos, então não é aquele sofrimento enorme. Quando morremos, mudamos de plano.

Se a música é um recurso, faço questão de usar, porque eu não vou tombar agora não. Quero ver essa gente cair, quero estar de camarote. E se os nossos ancestrais não tivessem as suas estratégias, nós nem estaríamos aqui nesta conversa. O fato de outras pessoas não entenderem as nossas estratégias é problema deles e não nosso. No quadro atual em que estamos, a gente pira sem as estratégias. Eu devo isso aos meus ancestrais, pois se eles chegaram aqui em um tumbeiro e ainda botaram um país de pé, não sou eu quem vai tombar agora. Devemos isso a eles, que já nos mostraram um caminho, já deram as estratégias. Quando as pessoas me perguntam se eu canto, eu digo que canto e muito! Não estou dizendo que sou afinada, estou dizendo que eu canto.

Trazendo para o campo profissional e sua atuação como professora, sei da relação de exigência e dos apontamentos que você costuma fazer para os seus alunos. Algumas pessoas às vezes se chateiam? Como é isso?

Tem uma coisa do brasileiro, que eu detesto, que é a característica de não saber dialogar e ouvir crítica, no sentido do crescimento. Eu preciso da crítica, eu preciso da troca. Às vezes, falta discernimento para saber o que é a crítica profissional, eu sou uma profissional, sou professora há quase 30 anos. É preciso saber diferenciar o que seria uma grosseria. A crítica é necessária, senão você não avança. Trabalho muito fora do Brasil com universidades, dei palestras e fui bolsista de organizações internacionais, então é preciso entender que a crítica é necessária, pois quando você faz uma crítica, é para que o trabalho avance. Se for para ficar querendo like, vai para internet.

Uma profissional plural, sem rodeios e apaixonada por lecionar, Rosana alterna os seus afazeres entre pesquisas, aulas e produções artísticas. Porém, para as interessadas em terem aulas com ela, uma má notícia: ela está completamente sem tempo, logo aulas e palestras serão cada vez menos frequentes. Sua intenção é se dedicar à produção artísticia.

“Adoro dar aula! Sofro muito quando não estou fazendo isso, mas estou completamente sem tempo”, afirma, apesar de reconhecer não conseguir ficar muito tempo longe do ensino. “Quando a pessoa se envolve, já aviso logo ‘olha, o negócio é o seguinte: eu cobro, eu sou chata, eu pego pesado…quer? Se a gente trabalhar certinho, você vai avançar bastante'”. Quando a pessoa aceita, não tem nada para a professora que dá mais prazer que aluno interessado. “É uma delícia!”

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Rosana em montagem da obra Parede da Memória (1994-2015). Foto: Claudia Melo, cortesia da artista

Você tem facetas múltiplas. Ora artista visual, ora curadora, também pesquisadora e professora. Em uma fala sua, você menciona que o estar professora te requer uma postura um pouco mais delimitada, com um programa de estudos que precisa ser seguido com o aluno, mas quando você deságua para as outras facetas, como a de artista ou pesquisadora, você tem a possibilidade de mergulhar mais fundo, tendo inclusive, uma fusão entre esses dois aspectos, da arte e da pesquisa. Como se um lado seu alimentasse o outro. Essas barreiras todas acabam se entrecruzando, não é?

Sem dúvida! As facetas são alimentadas pela pesquisa, pelo fazer artístico e pelas minhas experiências. Vou te dar um exemplo prático: sou extremamente exigente em relação ao conhecimento dos materiais. Quando estou dando aula de arte, como artista e para artistas, isso é um dos pontos em que eu realmente pego pesado, pois é preciso conhecer o material com o qual se trabalha. Com a minha vivência de artista, já participei de exposições e via artistas que chegavam sem conhecer o material direito, sem fazer teste. Aí, a obra não para na parede, dá problema.

Muitas vezes acontece também – já ocorreu duas vezes comigo, uma aqui no Brasil e outra fora – de você receber a planta e o espaço expositivo ser completamente diferente do que está na ela. Um ano de trabalho com aquela planta e o lugar é diferente. Você tem 12 horas para adaptar tudo. Dá vontade de ir para o hotel chorar um pouco, pois é preciso começar a montagem, tem prazo e a exposição precisa abrir! Então, essas são as facetas da minha vivência como artista que eu passo para os alunos, avisando que é preciso saber como utilizar o espaço e de como isso precisa ser pensado e pesquisado, escolhendo bem os materiais e sabendo as diferenças, pois se você não tiver domínio, você dança.

Por ora, Rosana tem se dedicado às suas pesquisas e produções de suas obras. Ela costuma deixar de lado o suposto glamour que envolve o mundo das artes, acredita que ser artista visual é mais sobre trabalho, mão na massa e jogo de cintura. “As pessoas pensam em um suposto glamour da profissão, mas não é assim”, opina ela. “Uma vez, uma exposição minha em Portugal chegou em cima da hora, pois havia parado nas alfândegas brasileira e portuguesa. Tivemos um dia e meio para colocar de pé uma exposição individual enorme. Se você não tiver esse jogo de cintura, não acontece. Tem muito mais perrengue do que glamour.”

Fico pensando que isso tem muito a ver com o universo de moda, das passarelas, revistas. Tem um lado das muitas roupas, de se arrumar (ainda mais quando podíamos ir em festas), das marcas, e hoje isso não faz tanto sentido. O campo da moda, e acredito que o das artes visuais também, enfrenta algumas dificuldades atualmente que esbarram no consumo, no capitalismo. Porém, se percebe um outro lugar que é entender o vestir arraigado às questões políticas, sociais e, de certo modo, de revisão histórica, caindo totalmente por terra o glamour. É muito trabalho, não é?

Nossa Senhora, é muito trabalho! Senão ficamos em uma superficialidade, esse é o problema. Fica-se no raso. Como professora, uma das maiores dificuldades que tenho, é justamente fazer as pessoas compreenderem que é preciso fazer esse mergulho. A gente tem de mergulhar, temos de ir além da superfície, do brilho externo. Tem muito mais a ser pensado e colocado. Um exemplo que sempre falo em relação a questão de tecidos e costuras, que eu uso muito, é que está na moda bordar. Às vezes, chega uma aluna com aquele trabalho dizendo que levou três semanas bordando, que deu muito trabalho. Ué, por que não pensou direito? Se tivesse usado um lápis, tinha feito isso em meia hora. O trabalho pedia o bordado, ou não? Tem um significado intrínseco na obra, ou não? O bordado tem um conceito dentro dessa obra, ou não? Se não tem e se você está fazendo porque está na moda, sinto muito, mas você perdeu o seu tempo.

Aí entra a Rosana direta ao ponto.

Aí já viu! A pessoa perdeu o tempo dela, para que bordar? Por que está na moda? Por que é feminino bordar? Isso não é verdade, pois marinheiro bordava. Me lembro com emoção de quando vi um lenço bordado pelo João Cândido, lindo.

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Assentamento (2013).Foto cortesia da artista

Rosana se refere aos bordados criados pelo líder da Revolta da Chibata, João Cândido Felisberto, popularmente conhecido como o “Almirante Negro”. João ficou nacionalmente conhecido durante os primeiros anos da década de 1910 por liderar a revolta que tinha como intenção principal acabar com uma permanência da escravidão na Marinha do Brasil, mesmo após os primeiros anos pós-abolição: os castigos físicos como forma institucionalizada de punição aos marinheiros, naquele momento, majoritariamente negros. Durante seus tempos de cárcere, João bordou alguns tecidos que foram estudados posteriormente pelo historiador José Murilo de Carvalho, desestabilizando a ideia de que o bordado era só um ofício feminino.

“Temos também Arthur Bispo do Rosário, tem uma função ali, no uso do bordado, que é diferente”, diz Rosana. “Se a pessoa estiver bordando porque está na moda, sinto muito, é melhor pensar melhor sobre a produção, aprofundar a pesquisa e perguntar quando se precisa bordar. Aliás, odeio quando falam que eu bordo, porque no meu caso é mais costura e sutura.”

Eu já ia te perguntar de onde você traz o conceito de sutura e como ele se aplica em seu trabalho. Podemos ver a costura e a sutura em obras como Assentamento (2013) e Atlântico Vermelho (2017). Costuras que não encaixam e tentativas de refazimento dessa existência negra. De onde vem essa relação com a costura. Quando foi que você percebeu que esse processo cabia na sua produção artística?

Essa relação vem desde criança, minha mãe costurava apesar de não ser costureira profissional. Ela veio de uma família muito pobre, sabia e gostava muito de costurar. Se fosse nos dias de hoje, imagino que ela iria para a moda, pois ela gostava muito de fazer roupas, ela mesma pensava os modelos. O que se fazia naquela época era o seguinte: muitas vezes comprávamos o tecido e ela mesma cortava em casa. E costurava para nós, que somos em quatro irmãs. Era muito engraçado, porque ficava cada uma com a sua batinha que ela fazia, sempre muito caprichosa. Bordava tudo depois e ainda fazia as cortinas e as toalhas de casa.

Ela sabia aquela maneira de pegar o saco de estopa e ir desfiando, criando desenhos nas tramas, no próprio tecido. Então, desde criança via minha mãe fazendo isso dentro de casa e durante um período, ela nos sustentou através do bordado, trabalhando para fora. Ela e as vizinhas recebiam sacos de roupas para serem bordadas e se sentavam ali, na beirada da calçada, faziam uma roda e ficavam bordando. Eu já venho com isso de família e me lembro muito dos cadernos de bordado da minha mãe. Aprendi a bordar, fiz enxoval, para quem não sabe, mas nunca usei aquele trem.

Quando estava na faculdade [Rosana é graduada em Artes Plásticas pela USP, com especialização em Gravura pela London Print Studio e doutorado em Artes Visuais também pela USP] e comecei essa investigação sobre o que é ser mulher na sociedade brasileira, fiz umas gravuras em lito. Ficaram muito legais e, inclusive, ganhei o Prêmio Nascente da USP com essa produção. Porém, ela chegou em um impasse porque havia um limite de tamanho, da própria técnica e eu não tinha uma prensa de gravura na minha casa, então fiquei pensando como continuaria essa pesquisa. Queria que ela expandisse o tamanho do papel, que eu sentia que ser pequeno. Aí pensei: bom, o que eu vou fazer agora? Pensei em madeira, mas eu morria de medo de cortar a minha mão naquela serra do maquinário pesado que tínhamos na universidade, e não queria depender de alguém para fazer isso. Então me perguntei: o que eu sei fazer?

Lidar com tecido! Para mim tem um significado e um sentido, já que faço isso desde criança. Então, comecei com essa ideia de lidar com o tecido como forma de expressão, pois isso já estava dentro de casa. Os patuás, por exemplo, que formam a Parede da Memória (1994-2015), aquilo é um trabalho de estudante, eu estava no quarto ano. Eu estava justamente procurando isso, e pensei em mergulhar cada vez mais, pois eu já estava olhando o álbum de fotografias da minha família. Pensei em fazer a junção entre a fotografia e o tecido em uma forma que eu conheço, que é a do patuá, pois tinha um na casa dos meus pais. Ficou uns 10 anos ali em cima da porta. Imagine, você não vai passar dez anos passando debaixo de um objeto sem ser tocada por ele. Por isso, falo que tem uma necessidade, o bordar não é moda.

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Rosana em frente a obra Parede da Memória (1994-2015).Foto: Fabio Marujo, cortesia da artista.

Na sua obra intitulada Bastidores (1997), por exemplo, tem toda essa relação com o bastidor como suporte tradicional e conhecido para o bordado e a sutura, essa “costura” mais “grosseira” e de como você inverte a noção do que seria o delicado no bordar, o que seria o feminino, denunciando uma violência.

Quando pensamos em bastidor, vem uma imagem quase idílica da mulher sentada ali bordando. Só falta ter uns passarinhos ali do lado e as flores. Na realidade, muitas vezes o lar é um ambiente opressor, de violência e de poder mesmo. Esse é um trabalho que nasceu das conversas com a minha irmã, Sandra, que é assistente social e, naquele momento, ainda estudante de Serviço Social. Ela foi parar na Delegacia da Mulher e ouviu coisas e relatos horrorosos. Me chamava a atenção como objetos do dia a dia eram usados como elementos de poder e tortura. Comecei a pensar nessas relações de poder que se instituem dentro de um casamento e como aquele que deveria ser o seu parceiro e te ajudar, vira autor dessas histórias horrorosas.

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Imagem da série Bastidores (1997). Imagem transferida sobre tecido, bastidor e linha de costura. 30cm diâmetro. Foto: Repdrodução

Quando fui à 25 de Março, que todo artista que conhece ama, vi os bastidores lá pendurados para venda e na hora me veio a imagem do trabalho na cabeça. Comprei uma dúzia deles, levei para casa e comecei a fazer os testes. A ideia era justamente essa, a de não fazer um bordado, é o contrário. Ele é “malfeito”, duro e pesado e a própria linha não é uma colorida. É esse “bordado” que, lá na frente, vai dar a chave para o conceito de sutura. O que seria uma sutura, “medicamente” falando? Você tem duas partes de tecido que estão separadas, colocadas juntas à força. É preciso usar uma costura muito forte para que ele não esgarce novamente. A ideia de sutura me lembra muito a ideia de Frankenstein, de você ter partes díspares e colocá-las juntas na marra, que ao meu ver é uma coisa que acontece muito aqui no Brasil. Eu sempre falo que o Brasil é uma sociedade meio Frankenstein, pois ela pega os diferentes e quer costurar na marra sem fazer os devidos ajustes. E quais eles?

As políticas compensatórias, as políticas de cota. Obviamente que isso de colocar as partes diferentes juntas na marra e costurar à força não vai dar certo, isso vai começar a se esgarçar no final das contas. Então, o primeiro trabalho no qual uso o conceito de sutura é o Tecido Social (2010), e o próprio nome da obra já é uma provocação. Quando olhamos ela de lado, podemos perceber que ela está desfiando, que é o que está acontecendo com a nossa sociedade, ela vai se esgarçando pelas pontas, isso está acontecendo com o país.

A ideia de sutura aparece várias vezes na produção da Rosana. Em Assentamento (2013), por exemplo, obra já mencionada acima, percebermos o corpo de uma mulher negra escravizada que foi fotografada em uma das expedições do zoólogo e geólogo suíço Louis Agassiz, conhecido por ser um dos principais defensores do racismo científico – muito popular durante o século 19 –, recortado e suturado pela artista. É interessante notar que Rosana, para além da sutura, recorre à costura, mais delicada e gentil. Quando borda sobre o corpo da mulher retrata órgãos fundamentais para o desenvolvimento da vida humana, como o coração e um útero, trazendo humanidade a um corpo, até então, entendido como útil apenas para reprodução e trabalho. Ao mesmo tempo, a costura não fecha e há um desencontro.

Rosana avisa que “se engana quem pensa que esse é um trauma da população negra: esse é um trauma do país”. Do Brasil.

Hanayrá Negreiros é mestre em ciência da religião pela PUC SP, curadora adjunta de moda do MASP, escreve e costura histórias sobre negras maneiras de vestir e assina a coluna Negras Maneiras, na ELLE Brasil

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