Mês da mulher. Mas qual mulher?
Sim, as conquistas femininas foram várias ao longo das últimas décadas. Mas elas estão longe de contemplar todas nós.
Quando o assunto é o mês da mulher e o dia 8 de Março, existem três tipos de mulheres.
As que detestam porque acham que significa “um dia para nós contra todos os outros para os homens”. As que adoram porque gostam de receber flores e aproveitar as liquidações especiais que fazem nessa data. E as que realmente sabem por que ele existe. Qual desses tipos você é?
Para quem ainda não sabe, o Dia Internacional da Mulher foi oficialmente criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1977, mas esse dia (8 de março) já era utilizado por movimentos femininos como uma data para celebrar a luta pelos direitos das mulheres desde o início do século 20, quando dois acontecimentos históricos culminaram para isso. O primeiro foi um incêndio em uma fábrica de tecidos de Nova York, em 25 de março de 1911, onde 123 mulheres morreram queimadas porque as portas do local estavam trancadas, justamente para impedir que elas saíssem e fizessem uma pausa, ou até motins, durante seus turnos. A tragédia gerou muita revolta e se transformou numa luta por melhores condições trabalhistas para as mulheres. Foi também no mês de março, dessa vez no dia 8, em 1917, em São Petersburgo, que mulheres saíram às ruas para pedirem por pão, melhores condições de vida e, principalmente, pela saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial. Mobilizado, o movimento operário aderiu à manifestação e cerca de 50 mil trabalhadores entraram em greve marcando o início da chamada Revolução Russa.
Sim, o Dia das Mulheres foi criado para homenagear todas as mulheres que lutaram (e ainda lutam) por direitos iguais e um mundo mais justo, menos sexista. Mas é importante lembrar que apesar de muito já ter sido feito, como a conquista do direito ao voto, de trabalhar fora, de poder ter conta em banco, de decidir se queremos ou não ficar casadas, ter ou não filhos, ser virgem ou dar para quem quiser, esses direitos básicos ainda estão muito longe da realidade de milhões de mulheres no mundo todo.
Para você ter uma ideia, segundo a ONU, 200 milhões de meninas e mulheres no mundo todo sofrem mutilação genital para serem consideradas “casáveis” e ampliar o prazer masculino. Na Índia, mulheres e jovens são vendidas como objetos e obrigadas a se casarem, em muitos casos, com apenas 10 anos. Muitas ainda são queimadas vivas devido a disputas relacionadas com o seu dote. No Brasil, o feminicídio atinge uma média de quatro mulheres por dia. Além disso, ocupamos o triste segundo lugar (ficando apenas atrás da Tailândia) quando o assunto é prostituição infantil. Na África Subsaariana, pelo menos 20 países ou territórios têm leis que permitem que um violador se case com a sua vítima para escapar da acusação. No Catar, país onde se comemorou a Copa, a mulher não tem direito de entrar para a universidade, se casar, se divorciar ou viajar sem a permissão do que se chama “guardião masculino”. Em Mali, apenas uma em cada três mulheres tem autonomia para poder recusar fazer sexo. Na Rússia, anualmente, milhares de mulheres são vítimas de tráfico humano ou morrem devido a violência doméstica. Na Turquia, mulheres e adolescentes continuam sendo mortas em nome da honra ou da castidade e são forçadas a casamentos precoces ou a escravidão doméstica, sendo sujeitas a todos os tipos de violência.
Claro que podemos e devemos comemorar o dia ou o mês internacional da mulher, afinal, muito já se conquistou até hoje. Mas não podemos esquecer: estamos falando, exatamente, de qual mulher?
Camila Faus e Fernanda Guerreiro são criadoras do @she____t. Uma plataforma de conteúdo feita para mulheres que acreditam que a idade dos “enta” rima com experimenta.
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