O QUE VOCÊ QUER SER QUANDO ENVELHECER?

Se você já passou dos "enta" e ainda não se fez essa pergunta, é hora de começar a se planejar.


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Quem aqui já não cantou “Deixa a Vida me Levar” junto com o Zeca Pagodinho, num churrasco de sábado à tarde, cercado de amigos e risadas? E tanto faz se era sua letra ou ritmo preferido, em algum momento, ela fez sentido para muitas pessoas da nossa geração. E por que “fez sentido” e, hoje, talvez não faça mais? Porque estamos envelhecendo e, sem planejamento, deixando só a vida levar, não há como garantir um futuro tranquilo. Principalmente no Brasil, um país que não tem políticas públicas sérias que priorizem os velhos, que não consegue fechar a conta da aposentadoria e, menos ainda, inserir a terceira idade na vida pública. Passamos a vida ouvindo “o que você quer ser quando você crescer?”, sem nos fazermos essa mesma pergunta no segundo round: o que você quer ser quando envelhecer? Isso acontece porque quando somos jovens não temos essa perspectiva de que a velhice está logo ali, virando a esquina, se um caminhão não nos atropelar no meio do caminho, claro. Então, sim, é bom o quanto antes reservar um tempo para planejarmos o que pretendemos ser na velhice, já que graças aos avanços da medicina e à consciência do que é um estilo de vida mais saudável, é possível que essa fase da vida dure até mais tempo do que você já viveu até agora.

Outro dia, a Camila fez uma reflexão lá no nosso insta que bombou não só de respostas, mas de questionamentos. Nele, ela dizia: “parece que depois da vida adulta, não tem mais nada. A vida acaba e na velhice a gente não vai fazer absolutamente nada. E não é bem assim”. Realmente, não é bem assim. Aliás, não é nada assim. Isso porque na velhice, não só podemos e vamos continuar querendo fazer muitas coisas, como precisamos pensar em outras mais. Por exemplo, os gastos extras que a idade traz. Se na juventude poupávamos para fazer aquela viagem, na velhice teremos o gasto da viagem mais o dos remédios que temos que tomar, mais o do plano de saúde que aumenta de valor cada vez que a gente muda de faixa etária, mais a da reserva que precisamos ter para emergências (ninguém aqui está livre de um cuidador). E tudo isso com um agravante. Como existe o preconceito contra a idade (mais ainda para as mulheres), o velho é descartado do mercado de trabalho! Ou seja, se a pessoa não fez algum investimento que dê retorno na velhice, o dinheiro ganho durante toda a vida, pode acabar. E deve ser muito triste acabar sem dinheiro ou tendo que viver com a ajuda dos outros, mesmo que esses outros sejam nossos filhos ou netos, porque, afinal, eles ainda têm que construir a vida deles e… pensar no futuro também.

Mas não é só o lado econômico que deve ser planejado. Imagina que horror não ter dinheiro e ainda perder a liberdade de ir e vir. Por isso, tão fundamental quanto ter independência financeira é cuidar da saúde física e mental para que na terceira idade a gente possa viver de forma independente. Você já pensou nisso hoje, enquanto ainda dá tempo? Se sim, maravilha! Se não, vamos dar algumas sugestões do que pode ser feito para não terminar como a mãe da Camila, sem dinheiro, sem saúde e sozinha (ela conta emocionada isso lá no vídeo do @Shet). Uma triste realidade, mas que você e nós ainda podemos reescrever.

Aqui no Brasil, têm direito à aposentadoria os homens que completarem 65 anos e tiverem, no mínimo, 15 anos de tempo de contribuição, enquanto para mulheres a idade mínima é de 61 anos e seis meses de idade, com o tempo mínimo de contribuição igual ao deles. Essa base ainda deve mudar, já que a partir de 2023 a idade mínima para mulheres se aposentarem será de 62 anos. Além disso, o tempo mínimo de contribuição também varia para quem entrou no Regime Geral de Previdência Social (trabalhadores de empresas privadas) após 12 de novembro de 2019. Para esses, além da idade mínima de 65 anos para homens ou 62 para mulheres, também serão necessários 20 anos de contribuição. Na prática, isso significa que o valor a receber não pode ser inferior ao salário-mínimo nem superior ao teto estabelecido para o Regime Geral de Previdência (atualmente, o teto do INSS é de R$ 7.087,22). Mas há casos diferenciados e exceções e, por isso, a gente manda aqui um link (https://economia.uol.com.br/guia-de-economia/aposentadoria-por-idade-veja-todas-as-regras.htm) para você consultar onde melhor se encaixa.

Por outro lado, também é importante consultar especialistas da área financeira que sugerem outras entradas de renda para complementar a aposentadoria, não se esquecendo que a poupança em si, é um dos piores investimentos já que não consegue acompanhar nossa inflação. Sabemos que não é fácil pensar nesse assunto, mas é fundamental para entrarmos na terceira idade com o menor dano possível. Comece, por exemplo, traçando algumas metas como definir o padrão de vida que você quer ter quando envelhecer, reservando o máximo de dinheiro que conseguir para o futuro (no Brasil, recomendam um mínimo de 10% do seu salário, mas saiba que no Japão, eles guardam 20%), pergunte para seu analista financeiro sobre investimentos com juros compostos e invista o mais cedo possível para lucrar, também, o máximo possível. Parte financeira entendida? Então, vamos à física e mental porque, afinal, não adianta ter dinheiro e ficar preso a uma cama, mesmo que seja no melhor hospital do mundo. Na terceira idade, a qualidade dos ossos e a quantidade de músculos cai naturalmente, resultando em osteoporose e sarcopenia (perda de massa muscular), que propiciam um maior número de quedas (não, os velhos não são “distraídos”, é o corpo dando sinais de decadência), aumentam o diabetes e a massa gorda em circulação. A boa notícia é que, exatamente como a parte financeira, agindo antecipadamente, isso não precisa ser uma regra! Como? Com exercícios físicos e alimentação adequada como proteínas de boa qualidade, de origem animal ou vegetal, para fortalecer os músculos. E cálcio e vitamina D para os ossos, que pode ser obtida gratuitamente tomando banhos de sol diários de 20 minutinhos. Melhorar o sono também é uma dica de ouro. Segundo a alemã Ina Voelcker, gerontóloga diretora técnica do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC), em entrevista para o VivaBem Uol, “Um estudo aponta que dormir cinco horas ou menos por noite aumenta em 15% o risco de morte”. Além disso, as doenças crônicas mais comuns na terceira idade, hipertensão e diabetes, estão ligadas a ele, assim como demência e Alzheimer. Claro que ainda se pode fazer muitas outras coisas para cuidar do corpo, mas como toda estrada começa com os primeiros passos, esses já são um bom começo.

Agora vamos para o cérebro. Segundo estudo da Academia Americana de Neurologia (AAN), a terapia de reposição hormonal é capaz de preservar a estrutura do cérebro responsável pela memória e por habilidades de pensamento, além de reduzir o acúmulo de placas beta-amiloides, considerado um dos fatores que desencadeiam o Alzheimer. Mas, é importante lembrar que as mulheres na menopausa precisam passar por avaliação médica antes de começar a tomar qualquer hormônio. É preciso considerar, por exemplo, a existência ou predisposição para câncer de mama, doença no endométrio, diabetes, doenças que acometem o fígado, entre outras. Já para exercitar a memória e ajudar na concentração, vale montar quebra-cabeças, jogar dominó, fazer palavras cruzadas, caça-palavras, sudoku, ler livros ou coisas mais inusitadas, como tomar banho de olhos fechados e tentar lembrar onde estão as coisas, fazer lista de compras, mas na hora da compra tentar lembrar de tudo sem olhar para ela, usar a mão não dominante em tarefas simples, quebrar a rotina como, por exemplo, mudando o percurso diário para estimular o cérebro a pensar e, claro, cuidar da alma (e do cérebro) ao mesmo tempo encontrando amigos e familiares, pois a socialização é um santo remédio preventivo e sem contra indicação que estimula nossa cabeça e aquece o coração, melhorando nossa saúde em todos os sentidos em qualquer idade.

Com todo respeito ao Zeca, agora “deixa a vida me levar” só se for para onde eu quiser que ela me leve.

Camila Faus e Fernanda Guerreiro são criadoras do @she____t. Uma plataforma de conteúdo feita para mulheres que acreditam que a idade dos “enta” rima com experimenta.

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