Pavilhão do Brasil leva Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza

Dupla de curadores recebeu prêmio de melhor participação nacional no evento.


"O Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée" (2015), videoinstalação de Ayrson Heráclito Divulgação



Para o pavilhão brasileiro da 18ª Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia, que abre as portas neste sábado (20.05), os curadores Gabriela de Matos e Paulo Tavares partiram de uma reflexão sobre o Brasil de ontem, o de hoje e o de amanhã. A dupla chegou à conclusão de que o elo entre os três tempos é a terra, que se tornou o elemento central da narrativa, não só poética, como concreta, já que a matéria-prima é parte do espaço expositivo.

A área foi aterrada, colocando o público em contato com as referências do território dos povos originários e de cultura religiosa, como os terreiros de candomblé. Pela curadoria, Gabriela e Paulo receberam o Leão de Ouro de melhor participação nacional no evento – é a primeira vez que o Brasil foi reconhecido com este prêmio. De acordo com o júri, o Leão de Ouro foi concedido ao país “por uma exposição de pesquisa e intervenção arquitetônica que centra as filosofias e imaginários das populações indígenas e negras em direção a modos de reparação”.

Para Gabriela, nada apaga a existência de quem viveu a terra brasileira antes da gente. “O legado existe até hoje e, por mais que a oratória seja outra, esses povos existiram ali e ainda buscam outras formas de existir”, diz. “A terra, na história brasileira, não está à parte. É sujeito ativo e peça fundamental do diálogo do futuro e na temporalidade da ancestralidade”, completa.

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Gabriela de Matos e Paulo Tavares, curadores da participação brasileira na 18a Mostra Internacional de Arquitetura de Veneza Foto: Levi Fanan e Diego Bresani/Fundação Bienal de São Paulo

O espaço conta com duas grandes galerias. Na primeira, batizada De-colonizando o cânone, Gabriela e Paulo questionam o imaginário popular sobre a construção de Brasília em um lugar no meio do nada, quando, na verdade, os povos originários habitavam ali. Já na segunda, Lugares de origem, arqueologias do futuro, os curadores exploram as memórias e a arqueologia da ancestralidade. “Quando falamos sobre passado, não é só uma referência ao ontem, mas à ancestralidade que ainda é cultivada no presente. Uma ancestralidade viva, uma sobrevivente”, diz Paulo.

A mistura de linguagens artísticas entre as obras expostas é reflexo da reunião de artistas indígenas e historiadores contemporâneos – Mbya-Guarani, Tukano, Arawak e Maku, tecelãs do Alaká, (Ilê Axé Opô Afonjá), Ilê Axé Iyá Nassô Oká, Ana Flávia Magalhães Pinto, Ayerson Heráclito, Day Rodrigues com colaboração de Vilma Patrícia, Santana Silva, coletivo Fissura, Juliana Vicente, Thierry Oussou e Vídeo nas Aldeias. “Para a gente, não existe um único jeito, mas, sim, muitos entendimentos diferentes. A diversidade é a norma para tudo, inclusive, para o relacionamento entre as pessoas e a natureza – o território em si. Por isso, essa diferença entre um e outro não existe”, diz Gabriela. A mostra fica em cartaz até 23 de novembro na cidade italiana.

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