Bridget Jones volta em sintonia com seu tempo

No quarto filme da série protagonizada por Renée Zellweger, a personagem, agora viúva e mãe de dois filhos, tenta reencontrar o amor.


Bridget Jones
Renée Zellweger como Bridget Jones Fotos: Divulgação



A Bridget Jones de Bridget Jones: Louca pelo garoto, que estreia nesta quinta-feira (13.02) nos cinemas brasileiros, está um pouco diferente daquela apresentada em O diário de Bridget Jones (2001) – como deveria ser, passados quase 25 anos.

Bridget surgiu, primeiro como livro de Helen Fielding, depois como filme, na virada dos anos 1990 para os 2000, quando as comédias românticas estavam no auge. Era a época de Uma linda mulher (1990), Quatro casamentos e um funeral (1994) e Um lugar chamado Notting Hill (1999). 

Bridget, personificada na tela por Renée Zellweger, era uma mulher de 30 e poucos anos atrapalhada, desengonçada, cheia de imperfeições – fumava demais, bebia além da conta – e sempre insatisfeita com seu peso. Estava desesperada por um par, preocupada com a idade.

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Ela acaba se envolvendo com o charmosíssimo chefe Daniel Cleaver (Hugh Grant), um mulherengo incontornável. Seu outro interesse romântico, Mark Darcy (Colin Firth), foi criado à imagem e semelhança do Sr. Darcy de Orgulho e preconceito, romance de Jane Austen, papel pelo qual Firth ficou famoso em uma minissérie inglesa. Ou seja, em princípio, é um homem arrogante e indiferente que causa surpresa quando se declara para Bridget.

A saga amorosa da personagem seguiu com Bridget Jones: No limite da razão (2004) e O bebê de Bridget Jones (2016). Bridget Jones: Louca pelo garoto, dirigido por Michael Morris (A sorte grande, de 2022), é baseado no terceiro livro da série, publicado originalmente em 2013. 

Bridget está viúva há quatro anos, cuidando sozinha dos dois filhos, com uma ajuda preciosa do “tio” Daniel, que continua mulherengo, mas aparentemente uma pessoa melhor.

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Leo Woodall como Roxster em cena com Renée Zellweger

Ela decide tentar o amor novamente e experimenta os aplicativos de encontros. É por ali que ela reencontra Roxster (Leo Woodall, da segunda temporada de The White Lotus e da série Um dia), o garoto do título, que ela conheceu em um parque. É outro filme normalizando romances em que a mulher é mais velha, depois de Babygirl, com Nicole Kidman, e Uma ideia de você, com Anne Hathaway.

Woodall usa seu charme em cenas que remetem à fantasia, por exemplo espelhando a cena famosa em que o Sr. Darcy de Firth emerge de um lago com sua camisa branca molhada, já replicada por Jonathan Bailey em Bridgerton.

Ao mesmo tempo, há uma possibilidade intrigante com o professor de seu filho, o Sr. Wallaker (Chiwetel Ejiofor, indicado ao Oscar por 12 anos de escravidão, de 2013), um sujeito tímido e sério. Ejiofor é um ator sutil e capaz de mostrar as nuances da relação, que se desenvolve de maneira muito mais adulta do que as anteriores da personagem principal.

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Renée Zellweger e Chiwetel Ejiofor como Mr. Walliker Foto: Divulgação

Melancolia

Só pela sinopse já dá para perceber como Louca pelo garoto traz facetas desconhecidas de Bridget. Agora, ela é uma mãe de 50 e poucos anos que tenta aplicar aquilo que Mark Darcy dizia para ela – “Eu te amo do jeito que você é” – na educação dos filhos Billy (Casper Knopf) e Mabel (Mila Jankovic). Os dois, como a mãe, estão ainda lidando com o luto. 

Fielding, que escreveu o roteiro durante a pandemia, depois de perder o pai de seus filhos em 2016, tinha vontade de trazer essa discussão para o filme. “Queria mostrar como você pode sentir tanto senso de humor quanto perspectiva de vida – seus amigos, sua comunidade, sua resiliência podem ajudá-la a superar essas coisas, e você ainda pode rir”, disse a escritora ao jornal The Guardian.

Mas, por causa disso, este Bridget Jones é mais melancólico do que os outros três. Há momentos cômicos, mas também outros que podem provocar lágrimas. Curioso que uma das comédias românticas mais marcantes dos anos 2000 não seja mais uma comédia romântica pura, neste momento em que o gênero se transferiu para a televisão – Bridgerton está aí para provar que o gênero faz sucesso.

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Hugh Grant como Daniel Cleaver e Renée Zellweger Foto: Divulgação

Cansaço de fórmula 

Quase não há comédias românticas no cinema nestes anos 2000, por mudanças na indústria, agora voltada para filmes de super-heróis e afins, mas também por outros fatores, como um certo cansaço nas fórmulas. Quando elas aparecem, é na forma de séries, que desenvolvem o romance em um tempo maior, ou como uma mistura de gêneros, seja ação (Assassino por acaso, por exemplo) ou drama como Louca pelo garoto

Fora isso, as comédias românticas de sucesso, por melhores que fossem, abusavam de certos clichês que hoje não são mais aceitos. O Daniel de O diário de Bridget Jones seria rapidamente acusado de assédio sexual, assim como o Tio Geoffrey (James Faulkner). 

Richard Curtis, que dirigiu Simplesmente amor (2003), Um lugar chamado Notting Hill e foi um dos roteiristas dos dois primeiros filmes da série Bridget Jones, admitiu que piadas sobre o peso das personagens não são mais engraçadas. Essa questão nem aparece no novo filme. 

Curtis também disse se arrepender de não ter estado à frente do seu tempo e colocado mais diversidade em seus filmes.  Ainda está longe do ideal, mas o novo filme de Bridget Jones tenta mostrar uma Londres mais perto da realidade, onde pessoas de todas as cores convivem. 

Bridget está diferente, mas de acordo com seu tempo. A pitada de drama e o pé na realidade enriquecem o filme, ainda que parte da mágica tenha se perdido. A protagonista cresceu, assim como boa parte de seu público.

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