O melhor dos 5 indicados ao Oscar 2025 de figurino

As curiosidades e preciosidades por trás do guarda-roupa de "Conclave", "Wicked" e os outros concorrentes à estatueta.


Os cinco indicados ao Oscar 2025 de figurino



Quem diria que um dos filmes mais fashion do ano viria de uma produção que retrata uma trama religiosa sobre a sucessão papal? Basta assistir a Conclave para entender o motivo, traduzido no “luxo silencioso” e no mix entre opulência e austeridade de cruzes, vermelhos renascentistas e até uma inspiração na Balenciaga.

Voltemos para séculos atrás e nos depararemos com pesquisas históricas que remontam à Roma Antiga em Gladiador 2 e a 20 pares de sapatos de um nobre romeno do século 16 no remake do clássico do cinema mudo de terror Nosferatu

Para arrematar, os anos 1960 de Bob Dylan trazem uma camisa verde de bolinhas tão icônica quanto improvável em Um completo desconhecido. o mundo fantástico de Oz revisitado sob o olhar da impagável Bruxa Má do Oeste é aquele show de vestidos que levaram centenas de horas para ser confeccionados, com a inspiração em cogumelos e fungos e até da matemática para criar figurinos de Wicked

A seguir, alguns dos melhores momentos e das curiosidades mais saborosas dos cinco filmes indicados ao Oscar 2025 de figurino, para enxergar a moda do cinema com outros olhos:

Wicked, por Paul Tazewell

Indicado ao Oscar em 2022 pelo filme West side story, o estadunidense Paul Tazewell também é conhecido por seu trabalho no musical Hamilton, pelo qual ganhou o Tony Award de melhor figurino em 2016. Em Wicked, Tazewell quis trazer um olhar próprio às clássicas Glinda – a Boa Bruxa do Sul –, e a Bruxa Má do Oeste, ambas originais do filme O mágico de Oz (1939). O figurinista afirma, em entrevista ao canal de divulgação do filme, ter adaptado sua visão a partir das versões que Ariana Grande e Cynthia Erivo (indicada ao Oscar de melhor atriz) fizeram respectivamente de Glinda e de Elphaba. Vale dizer que a Bruxa Má do Oeste ganhou este nome (Elphaba) apenas no musical da Broadway de 2003, no qual o filme é inspirado.

Na produção, que reimagina a história de O mágico de Oz do ponto de vista da Bruxa Má do Oeste, a natureza é o ponto de partida para a criação dos figurinos superproduzidos com toque de conto de fadas. “Para o universo de Elphaba, me inspirei na textura e nas formas de cogumelos e fungos presentes na natureza”, diz o figurinista. Depois de ouvi-lo, dá para fazer a relação de sua pesquisa com os microplissados ondulados e sobrepostos que formam o vestido de Elphaba.

Para a Glinda de Ariana, a cartela de cores tem muitos tons pastel e muito, muito rosa, em peças que traduzem suavidade e feminilidade. “O vestido bolha com o qual vemos Glinda pela primeira vez foi provavelmente o mais desafiador e demorado porque exigiu muita engenharia para que parecesse flutuar no corpo de Ariana”, disse Tazewell ao New York Post. Ele conta ainda que a base também ondulada do vestido foi criada a partir da espiral Fibonacci, representação gráfica de uma sequência infinita de números descoberta no século 12, que aparece codificada em muitos fenômenos da natureza. A peça levou 200 horas para ser confeccionada e é apenas uma das 60 criadas para Glinda. Elphaba tem o mesmo número de peças produzidas, num total de mais de 1000 itens de figurino para todo o filme.

Onde assistir: disponível para aluguel nas plataformas digitais

Gladiador 2, por Janty Yates e Dave Crossman

Janty Yates já venceu o Oscar de melhor figurino em 2001 pela primeira versão de Gladiador (2000). A figurinista, indicada à estatueta também por O gângster (2007), volta às arenas romanas mais de 20 anos depois para reinterpretar o vestuário da Roma Antiga ao lado de Dave Crossman, responsável pela confecção das armaduras. “O Paul (Mescal) tem armaduras diferentes conforme sua história avança”, explicou Crossman em entrevista à ELLE, sobre o figurino do protagonista do filme. De uma armadura tecida à mão do início de sua trajetória como gladiador vindo da Numídia (onde hoje fica a Argélia e parte da Tunísia), o look do personagem que dá nome ao título do filme interpretado desta vez por Mescal (na primeira produção era Russell Crowe) vai ficando mais romano e robusto, de couro verde.

“Não queria copiar tudo o que estava no primeiro Gladiador e isso é complicado, pois é um filme bastante icônico. Você meio que se preocupa com essas comparações, mas acho que mudamos coisas como a Guarda Pretoriana e o exército romano. Mudamos a aparência dos oficiais”, disse Crossman ao site Coming Soon, sobre o inevitável paralelo com o filme de 2000.

Filmada no Marrocos e em Malta, a produção contou com aproximadamente 80 tendas só para o figurino e a maquiagem dos cerca de 500 figurantes. Yates conta que dessa vez foi “fácil”: no primeiro Gladiador, eram “uns 2 mil”, reduzidos na versão atual graças aos novos recursos tecnológicos que permitem criar muita coisa digitalmente. A figurinista conta ainda que, embora tenha experiência em pesquisa sobre o Império Romano, nem sempre foi totalmente fiel às reproduções de vestuários históricos para se adequar às expectativas estéticas do diretor, Ridley Scott. “Ele gosta de extravagância.”

Onde assistir: disponível para aluguel nas plataformas digitais

LEIA MAIS: Figurinistas contam como foi vestir Paul Mescal, Pedro Pascal e Denzel Washington em Gladiador II



Nosferatu
, por Linda Muir

Linda colaborou com o diretor Robert Eggers para trazer uma nova perspectiva ao clássico do cinema mudo Nosferatu, de 1922. A figurinista canadense, que já trabalhou com o diretor em outros filmes de terror como A bruxa (2015) e O farol (2019), pesquisou meticulosamente a Alemanha do século 19 para garantir que os figurinos refletissem a autenticidade de época na pequena cidade alemã fictícia onde o filme se passa. “É interessante notar que 1838, o ano em que o filme se passa, é muito específico para roupas masculinas e femininas”, afirmou Muir em entrevista ao site da Focus Features. Ela cita uma curiosidade encontrada num livro da época: quando uma família substituía pijamas e roupa de cama, recebia seis jogos iguais de cada item, como seis camisas, seis camisolas. “Portanto, eu sabia que precisaríamos de múltiplos da mesma peça e de roupas impecáveis.”

No caso do conde Orlok, o vampiro ícone do cinema de terror, o trabalho foi para desgastar e destruir suas roupas. “Produzimos as avarias em várias etapas, levando gradualmente os trajes de Orlok ao estado de decadência que você vê no filme.” Esse processo meticuloso reflete o realismo da narrativa, já que, na história, o vampiro nasceu há mais de 300 anos, no século 16. 

O detalhismo com a reprodução de vestuário e cenários históricos que o diretor e a figurinista já mostraram em seus outros três filmes juntos (há também O homem do norte, de 2022) se repete em Nosferatu, com o nível de preciosismo que chega ao ponto da figurinista ter criado 20 versões de sapatos típicos de um nobre romeno (de onde vem Orlok) na Idade Média até se chegar ao modelo aprovado.

Onde assistir: em cartaz nos cinemas brasileiros

Conclave, por Lisy Christl

Inspirada pela coleção de alta-costura da Balenciaga de 2020, a alemã Lisy Christl (indicada ao Oscar de melhor figurino em 2012 por Anônimo) optou por trajes que evocam a opulência mas também a austeridade da Igreja Católica. Ela afirmou que, ao visitar alfaiates oficiais do Vaticano, como a Gammarelli, considerou as vestes papais contemporâneas um tanto insípidas, preferindo uma abordagem mais rica e visualmente impactante, inspirada em pinturas religiosas de quadros renascentistas.

O tom de vermelho dos trajes religiosos atuais do Vaticano foi uma das muitas adaptações feitas pela figurinista. No lugar do alaranjado atual, ela o substituiu por um vermelho profundo encontrado em pesquisas que datam desde o século 15 até os anos 1960, quando as roupas papais eram de um tom mais escuro. “Olhar para isso por duas horas pode ser difícil para os olhos”, disse, sobre a tonalidade muito aberta de vermelho de um manto religioso atual do Vaticano que analisou durante uma visita a Roma.

Também conhecida por seu trabalho em A Queda: As últimas horas de Hitler (2004) e O físico (2013), a figurinista conseguiu o feito de transformar um filme sobre a disputa sucessória papal no filme fashion do ano. O figurino destaca-se pela estética sofisticada e detalhada, evocando o conceito de “luxo silencioso”. Os cardeais são retratados com trajes opulentos, meticulosamente confeccionados, misturando os tons de vermelho a cruzes luxuosas em ouro e prata com acessórios contemporâneos discretamente introduzidos ao look, como os óculos de grau com armadura azul usados pelo cardeal Tedesco (Sergio Castellitto).

Onde assistir: em cartaz nos cinemas

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Um completo desconhecido, por Arianne Phillips

Esta é a quarta indicação de Arianne ao Oscar de melhor figurino: ela já concorreu por Johnny & June (2005), W.E. – O romance do século (2011) e Era uma vez em… Hollywood (2019). Conhecida por suas colaborações com Madonna e por filmes como Kingsman: Serviço Secreto (2014), a figurinista se debruçou sobre o início da década de 1960 para capturar a essência da transformação de Bob Dylan durante essa época. 

A ideia de Phillips foi recriar da maneira mais autêntica possível muitos dos looks originais do cantor durante um período muito específico: entre os anos de 1961 e 1965, quando o filme se passa. “Dividimos a transformação de Bob em três momentos distintos: sua chegada a Nova York (1961-62), a era (do álbum) Freewheelin’ (1963-64) e a silhueta elegante e moderna de 1965. Esses recortes influenciaram tudo – os trajes, o cabelo e a silhueta em geral. Por exemplo, a silhueta do início dos anos 60 era mais solta e folgada, enquanto o estilo de meados dos anos 60 tornou-se mais elegante e moderno”, disse ao site Art of costume

Uma peça que merece destaque é a camisa verde de bolinhas usada numa das cenas do filme. No começo, o diretor achou a escolha exagerada, mas a figurinista mostrou em sua pesquisa que Dylan não só gostava de bolinhas como elas fizeram parte de seu estilo ao longo dos anos 1960. O músico ainda usou um modelo parecido num ensaio gravado na cidade de Newport. Para completar, Phillips descobriu que, na versão colorida da capa de um disco obscuro, a camisa de Dylan era verde de bolinhas.

Onde assistir: estreia em 27 de fevereiro no Brasil

 

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