Quem é Da’Vine Joy Randolph, a favorita ao Oscar de atriz coadjuvante

Indicada por "Os rejeitados", ela também está em "Rustin", "The idol" e "Only murders in the building".


Da’Vine Joy Randolph em cena de "Os rejeitados"
Foto: Seacia Pavao / © 2023 FOCUS FEATURES LLC



A maior zebra do Oscar, no próximo dia 10 de março, seria a derrota de Da’Vine Joy Randolph, de Os rejeitados, na categoria atriz coadjuvante. Ela ganhou praticamente todos os prêmios da crítica estadunidense, além do Globo de Ouro e do Critics Choice por sua atuação no filme dirigido por Alexander Payne que vem fazendo sucesso nos cinemas. 

Mary Lamb, sua personagem no longa, não é o primeiro papel em que Da’Vine Joy Randolph, de 37 anos, se destaca. Na verdade, ela brilha em tudo o que faz, desde sua indicação ao Tony pela performance no musical Ghost, na Broadway, em 2012, até suas participações em filmes como Meu nome é Dolemite (2019) e Estados Unidos vs Billie Holiday (2020) e em séries como Alta fidelidade (2020), Only murders in the building (2021-) e até na desastrosa The idol (2023).

Em Os rejeitados, que se passa nos anos 1970, Da’Vine interpreta uma mãe em luto que trabalha como cozinheira no colégio interno onde o rabugento Paul Hunham (Paul Giamatti, indicado ao Oscar de melhor ator) dá aulas. O professor fica encarregado de cuidar dos alunos que não voltam para casa nos feriados de Natal e Ano Novo, como o arrogante Angus Tully (Dominic Sessa, em seu papel de estreia), cuja mãe viaja de férias com o novo marido. 

Apesar do seu sofrimento de ter perdido o único filho, convocado para a Guerra do Vietnã, Mary Lamb é a voz da compaixão e do entendimento entre os dois cabeças-duras. “Cuidar dos alunos é o trabalho dela”, disse Da’Vine em entrevista coletiva virtual com a participação da ELLE. “Mas também é uma grande distração para Mary, algo que abre seu coração para que ele não se endureça e a ajuda a passar pelo processo do luto. Acho que é isso que a salva, de certa maneira.”

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Dominic Sessa e Da'Vine Joy Randolph em cena de 'Os Rejeitados' Foto: Seacia Pavao / © 2023 FOCUS FEATURES LLC

A atriz contou também que interpretar a personagem trouxe à tona seus próprios sentimentos de luto. Quando ela estava fazendo pós-graduação na Escola de Drama da Universidade Yale (EUA), perdeu várias pessoas em um período de três anos. Seus pais não queriam que se distraísse, então disseram para ela ficar na escola, para não se preocupar em ir aos funerais, que a família a apoiava. Achou que tinha vivido o luto. “Mas percebi que não ao fazer Os rejeitados. Diversas coisas voltaram. Entendi que é muito mais complicado do que aquela tabela com os estágios do luto, que as emoções são muito mais complexas e misturadas”, conta. “Por isso, me permiti embarcar nessa montanha-russa de sentimentos, até porque percebi que o longa potencialmente seria para pessoas que não estavam exatamente no espírito do Natal (período em que se passa o filme). Resolvi compartilhar meu coração com o público, me fazendo de veículo para as emoções dos espectadores também.” Não à toa, mais do que elogios à sua performance, que é fantástica, ela tem recebido muitos comentários de pessoas dizendo que descobriram não ter processado por completo uma morte.

“Percebi que não tinha vivido o luto ao fazer ‘Os rejeitados’ . Diversas coisas voltaram”

Na preparação, ela teve a ajuda de Thom Jones, professor de dialetos que costuma trabalhar com Nicole Kidman. Natural da Filadélfia e tendo passado muito tempo em Nova York, Da’Vine precisava aprender o jeito de falar peculiar de Boston. “Mas nós fomos ainda mais específicos, procurando como uma pessoa negra do final dos anos 1960 e início dos 1970 falava em Boston”, contou. Sua maior inspiração foi a cantora Donna Summer, que era de lá. Daí a voz mais anasalada que considera charmosa e tocante. Durante os três meses em que ficou na cidade, falou com sotaque. Também praticou fumar, já que não tem o hábito, assistindo a filmes com Bette Davis. 

Ela, que começou sua carreira no teatro, adorou a experiência de fazer uma produção mais independente. “É uma volta à essência”, disse. “Não sentia a pressão de alcançar um determinado objetivo, mas de criar algo especial.” Parece que deu certo. Os rejeitados concorre a cinco Oscars no total: filme, roteiro original, ator, atriz coadjuvante e montagem.

A seguir, alguns filmes e séries em que você pode conhecer melhor a atriz Da’Vine Joy Randolph:

Meu nome é Dolemite (2019)

Na comédia dirigida por Craig Brewer e baseada em uma história real, Da’Vine interpreta uma mãe solteira, Lady Reed. Ela é convencida a se juntar ao personagem principal, Rudy Ray Moore (Eddie Murphy), que encarna o personagem Dolemite em shows de comédia e em filmes blaxpoitation (união de “black” com “exploitation”, tipo de produção barata que tenta explorar os gêneros ou assuntos da moda, ou seja, eram filmes baratos feitos por pessoas negras). Por causa da poesia com rimas cheia de palavrões, ele ficou conhecido depois como padrinho do rap. E Lady Reed, sua colaboradora essencial, é considerada a madrinha.
Onde assistir: Netflix

Alta fidelidade (2020)

A série baseada no livro de Nick Hornby, adaptada para o cinema em 2000, infelizmente durou apenas uma temporada. No lugar de John Cusack como o dono de uma loja de discos, Zoë Kravitz assumiu o papel de Rob, que virou Robyn na nova versão. Da’Vine rouba a cena como Cherise, funcionária da loja e amiga de Rob, papel que coube a Jack Black na versão original. Cherise sonha em ter uma banda, mas passa boa parte do tempo hesitando.
Onde assistir: Star+

Estados Unidos vs Billie Holiday (2021)

O filme dirigido por Lee Daniels fala sobre a perseguição do governo estadunidense à cantora de jazz Billie Holiday, por motivos políticos, mas disfarçada por acusações de uso de drogas. Holiday (vivida por Andra Day, indicada ao Oscar) ficou marcada por sua interpretação de “Strange fruit”, música de protesto contra o racismo e as leis de segregação racial, gravada por ela em 1939. Da’Vine interpreta sua amiga de infância Roslyn, que fala italiano, usa tapa-olho e cuida do cachorro da amiga.
Onde assistir: Prime Video

Only murders in the building (2021-)

A série cômica sobre assassinatos misteriosos, ganhadora de quatro Emmys, é estrelada por Steve Martin, Martin Short e Selena Gomez. Seus personagens se juntam para fazer um podcast e investigar mortes suspeitas no Arconia, o edifício de luxo onde moram em Nova York. Da’Vine é a detetive de polícia sem paciência  que precisa fazer a investigação oficial e lidar com os três bisbilhoteiros. Only murders in the building já teve sua quarta temporada confirmada.
Onde assistir: Star+

The idol (2023)

A série criada por Sam Levinson, Abel Tesfaye, conhecido na música como The Weeknd, e Reza Fahim foi um desastre completo. Cheio de problemas na produção, com Levinson tomando a posição de diretor quando Amy Seimetz já tinha filmado 80% do material, mostra a relação entre a popstar Jocelyn (Lily-Rose Depp) e Tedros (Tesfaye), dono de uma boate e espécie de líder de um grupo. Da’Vine era uma das poucas razões para assistir, no papel de uma das gerentes artísticas da cantora.
Onde assistir: HBO Max

Rustin (2023)

Da’Vine já disse que adora dar corpo a mulheres negras reais pouco conhecidas ou pouco representadas no cinema e na televisão, como no caso de Lady Reed (Meu nome é Dolemite) e Roslyn. Aqui, ela faz um papel pequeno como Mahalia Jackson, cantora de gospel considerada uma das mais influentes do século 20, sendo inspiração declarada para Ray Charles, Donna Summer, Aretha Franklin e Little Richard. Ela também foi peça importante no movimento pelos direitos civis. Daí sua participação no filme dirigido por George C. Wolfe sobre a história pouco conhecida de Bayard Rustin, ativista negro e gay que foi um dos organizadores da Marcha sobre Washington em 1963, na qual Martin Luther King Jr. fez seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”. Rustin é interpretado por Colman Domingo, indicado ao Oscar.
Onde assistir: Netflix

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