“É uma vida que vivi paralelamente à minha”, diz Sarah Jessica Parker sobre Carrie
Atriz conta como é reviver a fashionista icônica de "Sex and the City" na segunda temporada de "And just like that...", as diferenças em tempos de redes sociais e a nova fase da personagem.
Durante os quase 20 anos que separam o último episódio da série Sex and the city, transmitido em fevereiro de 2004, e a estreia de And just like that…, cuja segunda temporada foi lançada em junho passado, não se pode dizer que Sarah Jessica Parker tenha ficado parada.
Além de 14 longa-metragens, entre eles muitas comédias românticas, como Armações do amor (2006), Cadê os Morgan? (2009) e Amor em Roma (2015) e as duas versões cinematográficas do seriado que a tornou mundialmente famosa, participou de séries como Glee e Divorce (HBO), a última protagonizada por ela por três anos.
Na vida pessoal, tem três filhos com o ator Mathew Broderick, com quem se casou em 1997, um ano antes do início de SATC. James Wilke Broderick, de 21 anos, nasceu em 2002, no auge do sucesso da série. Já as gêmeas Marion Loretta Elwell e Tabitha Hodge, de 14 anos, vieram depois, em 2009.
No mundo da moda, o fashionismo de Carrie Bradshaw, a colunista de sexo e comportamento de um jornal de Nova York, colecionadora de sapatos Manolo Blahnik, vestida audaciosamente pela figurinista Patricia Field em Sex and the city foi, ano após ano, renovado em tapetes vermelhos do MET Gala. Ainda que a atriz afirme ter um estilo muito mais básico do que o de Carrie, isso não a impediu de se transformar num ícone fashion, além de lançar uma linha de sapatos e acessórios e um perfume com seu nome.
A seguir, Sarah Jessica conta como está sendo reviver a personagem que a acompanha há tantos anos, agora em outra fase da vida, as dificuldades de gravar cenas externas da nova série, da qual ela também é produtora, em tempos de redes sociais, e como Carrie a inspira a cuidar melhor de suas próprias amizades.
Qual é a sensação de estar de volta ao papel de Carrie, ao guarda-roupa, apartamento dela?
Na primeira temporada, parecia familiar e não familiar. Agora a sensação é cada vez mais familiar. É sempre um ambiente muito feliz, criativo, várias vezes desafiador, interessante e alegre de se trabalhar, com uma equipe e elenco fantásticos e talentosos. As ruas de Nova York nos acolheram de volta, e os muitos lugares onde filmamos são incríveis e novos para a gente. Tem sido novamente uma experiência maravilhosa.
Há mais de uma década, a filmagem dos últimos episódios de Sex and the city foram uma loucura, com fãs e paparazzi cercando as cenas externas nas ruas de Nova York. Com And just like that… foi assim também?
Ah, sim. Provavelmente ainda mais porque na temporada final de SATC (exibida em 2004) não havia mídia social. Então, imagine quantas pessoas a mais têm telefones com câmeras hoje em dia. É um público muito maior do que o de antigamente. Esse tem sido um desafio, do ponto de vista logístico. Como produtora, é um desafio colocar todo o nosso equipamento em ruas pequenas de Nova York, criar espaço para montar uma estrutura de trabalho. Bloquear a área e ainda deixar lugar para os pedestres e espectadores, que têm o direito de estar lá, e tentar explicar a eles que falar e usar flashes atrapalham as filmagens. Quando você está fazendo uma tomada longa e é uma cena realmente importante, que envolve carros, guindastes, lágrimas, táxis sincronizados com um ator entrando, e então alguém dispara um flash – mesmo que você tenha pedido várias vezes –, isso estraga toda a cena. E pode acontecer várias vezes. É realmente um desafio para nós. Acabamos resolvendo o problema, mas a verdade é que sai muito caro e consome muito tempo. É uma experiência muito mais intensa agora com câmeras e telefones. É um tipo diferente de atenção.
“Como produtora, é um desafio colocar todo o nosso equipamento em ruas pequenas de Nova York.”
Parece um pesadelo logístico.
Bem, não consideraria nada disso um pesadelo. São desafios com os quais estamos familiarizados. Mas não significa que não se repitam, que não seja um novo problema com uma nova solução necessária.
Como Carrie está se recuperando dos eventos da primeira temporada?
Não sei se há um prazo de validade para o luto. Pelo que sei, é muito diferente para cada pessoa. E, como Carrie diz num episódio na metade da segunda temporada, ela achava que tinha se saído muito bem e superado esse período. Mas acho que o luto se instala e vem à tona quando você não está esperando. Apesar disso, de modo geral, ela está se saindo muito bem, está feliz e redescobrindo o que significa ser solteira em Nova York depois de um longo relacionamento. Os tempos são radicalmente diferentes da última vez em que ela foi solteira. Sinto que é uma temporada que reserva muitas promessas e descobertas. Não apenas para Carrie, mas para todos.
É uma sensação de esperança.
Acho que sim. Carrie é, em essência, uma pessoa bastante esperançosa e otimista, mesmo quando ela internaliza e se questiona muito. Ela acredita em Nova York, nos relacionamentos e na manutenção da intimidade com pessoas e amigos.
Como você acha que ela evoluiu ou mudou como pessoa?
Da mesma forma que todas as pessoas evoluem e mudam. Por meio de experiências de vida e profissionais, experiências românticas e de comprometimento, como qualquer pessoa cresce e muda ao longo de dez anos. A grande mudança que não a torna única, mas é singular em comparação aos seus amigos, é a morte do marido dela. Esse fato sem dúvida influencia a maneira como ela acorda e vive todos os dias, e como lida com as lembranças.
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Essa personagem te acompanha há muito tempo. Você acha que aprendeu alguma coisa com ela?
A maneira como ela conduz suas amizades tem sido inspiradora para mim. Não tenho o mesmo tipo de disponibilidade que ela tem para dedicar às suas amizades. Continua sendo um mistério como essas pessoas conseguem arranjar tempo para tantos almoços. Mas isso tem sido inspirador para mim, o tipo de amiga que ela é. O que as amizades significam para ela. Mesmo que eu não seja capaz de dedicar o mesmo tempo e atenção às minhas próprias amizades. Gostei de conhecer a vida dela e de fazer o tipo de escolhas ousadas que ela faz e que eu não faria, ou de me vestir da maneira que eu não me vestiria. É uma vida que vivi paralelamente à minha, e isso tem sido muito interessante.
“Adoro os sucessos e os erros (do figurino)“
O que você acha que há nesses personagens que os torna tão importantes para tantas pessoas?
Fico feliz em dizer que não passo muito tempo tentando responder a essas perguntas, porque é um exercício acadêmico demais. Conto com Michael Patrick e sua extraordinária capacidade de escrever e criar histórias realmente interessantes. Tudo começou com Darren Star (criador do Sex and the City) e depois ele passou o programa para Michael, na segunda temporada. Acho que eles sempre foram muito bons em simplesmente contar as histórias que pareciam interessantes.
Michael está sempre entusiasmado em se aprofundar nos personagens e isso se aplica a todos, inclusive aos novos membros do elenco. Acho estranho especular sobre por que esse programa teve algum impacto ou porque as pessoas se identificam conosco. Não é nisso que acredito que eu deva ficar prestando atenção, tentando criar situações que podem ou não gerar conexão com o público. O que sabemos, e o que fico feliz em compartilhar, é que era simplesmente uma rede que permitia conversas muito sinceras, diretas, picantes e íntimas entre as mulheres. Isso não havia sido feito em nenhum outro lugar e nos foi permitido. Podíamos usar uma linguagem que normalmente não era permitida em transmissões comerciais, por todos os motivos que sabemos que existem no setor; as diretrizes e os padrões governamentais. Portanto, essa é a primeira coisa. A segunda é que as mulheres têm esses tipos de amizades e elas simplesmente ainda não as tinham visto representadas na TV. Para terminar, o cenário de Nova York desempenhando um papel tão importante, os figurinos desempenhando um papel fundamental, tudo isso embalado numa narrativa muito boa. Roteiros que faziam você parar e criar um encontro permanente com aquele programa, naquele momento.
Você tem momentos favoritos de Carrie Bradshaw?
Não. É tudo acumulativo. Diria que algo é favorito no momento em que está acontecendo. Depois, há uma nova experiência ou cena, e então essa é a minha preferida. Escolher os favoritos é
difícil: nunca fui boa em escolher um livro ou um sapato preferido, muito menos um filho ou membro da família favorito. Porque é a experiência inteira, na totalidade, que é tão gratificante.
Então, acho que não vale a pena perguntar se você tem uma roupa favorita da série?
Adoro os sucessos e os erros.
Abolsa de pombo do JW Anderson na nova série é incrível.
É um item incrível de se ter nas mãos. E cabia muito mais coisas nela do que eu jamais imaginaria. O espaço no corpo da ave é mais generoso do que parece!
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