Joaquin Phoenix e Todd Phillips comentam bastidores de “Coringa: Delírio a dois”

Ator e diretor explicam as cenas musicais do longa e como foi trabalhar com Lady Gaga.


Joaquin Phoenix e Lady Gaga em cena de Coringa: Delírio a dois
Lady Gaga e Joaquin Phoenix no longa Foto: Divulgação



Estrelado por Joaquin Phoenix, Lady Gaga e dirigido por Todd Phillips, Coringa: Delírio a dois estreia nesta quinta-feira (03.10) nos cinemas brasileiros disposto a provocar o enorme público que correu para assistir ao primeiro filme.

Coringa (2019) não só foi extremamente lucrativo – uma arrecadação de mais de US$ 1 bilhão para um orçamento de US$ 55 milhões – como também um sucesso de crítica e prêmios, levando o Leão de Ouro em Veneza e os Oscars de melhor ator e trilha sonora.

Nesta sequência, Coringa não é exatamente o personagem fora de controle nem toma o caminho que a maior parte das pessoas gostaria ou esperaria que ele seguisse. Quem aparece majoritariamente é Arthur Fleck, o sujeito alquebrado e maltratado pela vida – pelo menos é o que ele acha –, que se torna o Coringa maquiado como palhaço, eternamente risonho e capaz das maiores violências.

O espectador vai reencontrar Arthur na prisão, onde ele aguarda julgamento depois de assassinar diversas pessoas na trama do filme anterior. Enquanto espera, conhece Lee (Lady Gaga), internada no hospital psiquiátrico que fica no mesmo complexo do presídio. Arthur, que nunca conheceu o amor ou mesmo qualquer tipo de carinho, precisa lidar pela primeira vez com o sentimento.

Lee, nome de Harley Quinn ou Arlequina, fica obcecada por Arthur. Ou melhor, pelo Coringa. A dinâmica do casal é tão tóxica quanto nas versões desse romance vistas em outros filmes, mas de uma maneira diferente.

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E vamos logo falar sobre a maior ousadia: o filme é um musical. Em entrevistas recentes, parecia que o diretor queria esconder isso. Mas é. Só que não se trata de um musical tradicional, como Phillips explicou à ELLE, em Los Angeles – ele, Joaquin Phoenix e Lady Gaga participaram de uma rodada de entrevistas com jornalistas da América Latina, Ásia e Austrália. Porque um musical, na maioria das vezes, deixa um sorriso no rosto e o espírito leve, pelo menos para quem curte o gênero. E Coringa: Delírio a dois não é isso.

Mas Arthur Fleck/Coringa (Phoenix) expressa, sim, seus sentimentos em forma de canção, normalmente standards da música estadunidense como “Bewitched” e “When you’re smiling”, além de “If you go away”, versão de “Ne me quitte pas”, músicas que Arthur teria ouvido com sua mãe – lembrando que a história se passa no início dos anos 1980. Muitas das canções cantadas em duetos com Lee são delírios de sua cabeça.

A seguir, os principais trechos das entrevistas com Phillips e Phoenix sobre essa tragédia musical – só na tela, porque o ator estava disposto, de bom humor e fazendo piada.

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Joaquin Phoenix como Coringa Foto: Divulgação

Tudo começou com um sonho 

Joaquin Phoenix: “Sonhei que atuava como Coringa enquanto ele fazia um show solo, falando sobre sua vida e seu relacionamento com uma garota. Ele fazia piadas e cantava. Liguei para o Todd e contei. Imediatamente, ele disse: ‘Vamos fazer!’. E começou a me enviar músicas imediatamente.”
Todd Phillips: “Joaquin ama ficar com medo e ser desafiado. Se esse filme fosse uma sequência normal, se fosse como as pessoas acham que deveria ter sido, ele não faria”.

Uma dinâmica diferente para Coringa/Arlequina

Todd Phillips: “A nossa versão de Arthur sempre foi ingênua. O filme trata muito de identidade. Pensamos: o que aconteceria se, uma vez na vida, você finalmente encontrasse o amor, mas a outra pessoa na verdade está apaixonada por seu alter ego, essa personalidade que você jogou para o mundo exterior, mas não consegue sustentar? Arthur fica tentando manter Coringa vivo para continuar seu relacionamento com Lee”.

“Joaquin ama ficar com medo e ser desafiado. Se esse filme fosse uma sequência normal, se fosse como as pessoas acham que deveria ter sido, ele não faria” Todd Phillips

Arthur lida com seus sentimentos como uma criança

Joaquin Phoenix: “Tenho um filho de 4 anos e, como ele ainda não tem vocabulário suficiente, e seu cérebro não se desenvolveu totalmente, quando ele se sente frustrado, coloca a emoção para fora, chora ou grita. Há algo lindo nisso, pois é uma criança e precisa se expressar dessa forma. Só que Arthur nunca superou essa fase. Ele nunca desenvolveu mecanismos para lidar com essas emoções. Simplesmente tem essas explosões, como uma criança. Ele nunca teve a experiência de um romance, sentiu amor ou qualquer tipo de afeto. E esse sentimento faz com que reexamine seu comportamento. Ele só quer ficar sentado com sua amada, perto de uma fogueira, tomando um café. Só que ele cruzou a linha de tal forma que isso é impossível”.

Música para quem não consegue se expressar

Joaquin Phoenix: “Era como se Arthur fosse uma criança pela primeira vez tendo esse sentimento avassalador, e a única maneira de expressá-lo era pela música. Todd e eu conversamos muito sobre como, até em sua fantasia, nada deveria ser perfeito, com as técnicas corretas de canto e dança. Porque Arthur é tão fragmentado e imperfeito, isso é tudo o que ele conhece. Ele não saberia como criar uma fantasia perfeita em sua cabeça. Então, nessas sequências musicais parece que as coisas estão desmoronando ao redor dele. E essa imperfeição precisava estar no canto. Para a Stefani (Lady Gaga), foi muito ousado, porque obviamente ela é capaz de cantar tudo perfeitamente, mas aqui fez algo menos técnico, para ser mais autêntica à personagem. Agora, quando apareço em um número musical como Coringa no tribunal, a postura é totalmente diferente”.

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Lady Gaga, Joaquin Phoenix e o diretor Todd Phillips (ao centro) durante as filmagens Foto: Divulgação


Um filme com música, e não um musical

Todd Phillips: “Para mim, é uma tragédia que tem música. Não que não seja um musical. Meses atrás, dei uma entrevista e meio que disse que não era um musical. O que quis dizer é que, na minha experiência com musicais, você sai mais feliz do que quando entrou. Neste filme, não sei se é assim. Não queria deixar ninguém pensando que ia sair desse filme assobiando. Não que eu ache importante identificar os gêneros dos filmes, mas para mim tanto Coringa quanto Delírio a dois são tragédias”.

Trabalhar com Lady Gaga foi fácil

Todd Phillips: “Fui produtor de Nasce uma estrela (2018), então conhecia Lady Gaga, observei seu trabalho com Bradley Cooper e como ela podia ser maravilhosa. Este é um filme muito diferente, e Joaquin é um ator muito diferente de Bradley. Eu estava um pouco preocupado se ela conseguiria ser vulnerável no papel, mas também com Joaquin, que é mais duro, de certa forma. E ela é uma estrela maior que qualquer ator com quem trabalhei. Nós ficamos meio surpresos com a rapidez com que ela foi capaz de deixar tudo isso de lado e ser vulnerável. É a pessoa complicada mais descomplicada. Sua fama é mundial, você acharia que haveria uma equipe de cem pessoas, segurança. Mas ela é super descomplicada, é incrível”.

“Para a Stefani (Lady Gaga), foi muito ousado, porque obviamente ela é capaz de cantar tudo perfeitamente, mas aqui fez algo menos técnico, para ser mais autêntica à personagem” Joaquin Phoenix

Joaquin Phoenix ficou com receio de cantar com Lady Gaga

Joaquin Phoenix: “Quando fiz Johnny & June (2005) com Reese Witherspoon, éramos dois atores que não eram cantores profissionais e precisavam dar voz a esses ícones da música. Mas estávamos lado a lado. No filme, obviamente, trabalhei com uma das artistas mais talentosas dos últimos anos. Foi um pouco assustador. Mas, claro, ela é calorosa, atenciosa. Foi uma grande parceira”.

Lady Gaga quis cantar ao vivo

Joaquin Phoenix: “Desde o começo, ela defendeu que tínhamos de cantar ao vivo. Eu disse: ‘Vai se f…, para você é fácil, você canta ao vivo o tempo todo. Para mim, não vai ser confortável”. E ela me falou que a gente pararia se eu ficasse incomodado. Conforme fomos desenvolvendo as vozes de Arthur e Lee, percebi que a única maneira de fazer era ao vivo. E no fim para ela deve ter sido muito mais difícil, porque poderia cantar perfeitamente. Só que no filme teve de mostrar as imperfeições”.

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Joaquin Phoenix como Arthur (à esquerda) Foto: Divulgação

Coringa é intenso, mas o ator não o leva para casa

Joaquin Phoenix: “Faço isso há tanto tempo… Nem sempre as cenas mais intensas são as mais difíceis para mim. Mas a verdade é que agora que tenho filhos (o ator é pai de duas crianças com a atriz Rooney Mara), não posso trazer nada para casa. Quando chego, eles olham para mim, e eu vejo que tudo lá fora é ridículo, que as crianças são a coisa mais importante”.

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