Rita Lee reflete sobre relação com fãs em livro póstumo

Disfarçado de ficção, "O mito do mito" comenta episódios bizarros da cantora como estrela e também como admiradora fanática de outros ídolos.


Foto: A cantora em show em Portugal, em 2008 Foto: Rui M. Leal/Getty Images



Segundo livro póstumo de Rita Lee, que nos deixou em 2023, O mito do mito – De fã e de louco, todo mundo tem um pouco (Globo, 182 págs.) é atraente já pelo prefácio deixado pela cantora e compositora paulistana. Rita afirma autorizar a publicação apenas após sua morte, atiçando curiosidades sobre o conteúdo. “Artista morto vale mais, tem uns que viram até mito. Além do mais, não quero ninguém me perguntando de meras coincidências com fatos ou pessoas reais”, completa.

Aposentada dos palcos e das gravações desde 2012, Rita dedicou a última década de vida a contar a própria história, nos livros Uma autobiografia (2016), a reunião de contos Dropz (2017) e o doloroso e inacabado Outra autobiografia (2023), no qual relatou, com humor de sempre, a luta contra o câncer. O mito do mito mantém essa pegada bem-humorada, mas desta vez disfarçado numa ficção que, segundo Rita, foi iniciada em 2005, engavetada e reformulada cerca de dez anos depois.

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O enredo é simples: a narradora em primeira pessoa vai a uma mansão no centro de São Paulo para se consultar com o doutor Eric von Kasperhauss, uma mistura de psicoterapeuta, médico, bruxo e guru. A trama funciona mais para que Rita estabeleça um diálogo consigo mesma, colocando o misterioso “doutor” a fazer perguntas fofoqueiras que lembram mais um repórter que um psicólogo e que ela responde com prazer. É pretexto também para que a escritora discuta a muitas vezes a relação maluca entre um ídolo pop e seus fãs, desde os mais “normais” até sugadores de fama e energias alheias, passando por potenciais psicopatas.

Com a graça de sempre, Rita se coloca também como fã (de James Dean, Brigitte Bardot, Leila Diniz, David Bowie etc.), daquelas capazes de se humilhar e lamber maçanetas pelos ídolos. Falando de seus próprios fãs, menciona episódios escabrosos: “Teve uma outra que começou a mandar diariamente uma rosa vermelha junto de um bilhete escrito com sangue dizendo ‘um belo dia eu vou matar você'”. Sobre outra fã, uma cantora não nomeada, achincalha: “Chata, arroz de festa de todos os shows, buscando um prestígio que ela jamais terá”.

Leve como de hábito, O mito do mito despista, pelo divertimento, algumas reflexões profundas e autocríticas, além de uma ou outra revelação chocante (“eu adoro ver cadáver!” é um exemplo). E ainda ajuda a matar um pouco as saudades de Rita Lee.

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