Um giro pelos indicados a melhor maquiagem e cabelo no Oscar 2025

Universos fantásticos inspiram os nomeados à categoria; nosso editor Pedro Camargo dá a resenha.


Os indicados à melhor maquiagem e cabelo no Oscar 2025



A maioria dos indicados à categoria de melhor maquiagem e cabelo no Oscar 2025 trabalham com a ideia de um universo fantástico. Em Nosferatu, entramos no mundo gótico do vampiro do século 19; em Wicked viajamos até a terra mágica de Oz para conhecer as carismáticas Glinda e Elphaba; em A substância, uma Los Angeles surreal (e asquerosa) nos é apresentada, e por aí vai.

Dentro desses cenários, a beleza cumpre um papel muito importante – ela pode tanto consolidar uma visão coerente quanto destoar completamente do intuito inicial de um filme. A seguir, nosso editor de beleza Pedro Camargo comenta quais produções, em sua opinião, estão no primeiro ou no segundo grupo.

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EMILIA PÉREZ

Beauty artists: Julia Floch Carbonel, Emmanuel Janvier e Jean-Christophe Spadaccini
Histórico:
Julia Floch Carbonel: Diamante bruto (2024) e O último judeu (2024).
Emmanuel Janvier: A favorita do rei (2023) e O crime é meu (2023).
Jean-Christophe Spadaccini: O rei das sombras (2023) e Labirinto do terror (2020).
A beleza: O time de maquiagem e cabelo contratado pelo diretor Jacques Audiard teve a complexa missão de retratar uma pessoa trans pré e pós-cirurgia de afirmação de gênero. Para transformar Karla Sofía Gascón no chefe fictício do narcotráfico mexicano Manitas, foram usadas três próteses – todas criadas com um ano de antecedência e finalizadas seis meses antes de o filme ser gravado.
Nota do editor: “Acho que Emilia Pérez é um dos filmes mais catastróficos dos últimos tempos. A maquiagem – ainda que não seja um dos piores aspectos do filme, está longe de ser um dos destaques. Mesmo que Gascón tenha elogiado o trabalho da equipe por sua delicadeza no processo de transformá-la em um homem – o que poderia gerar dores a uma mulher trans –, as próteses aplicadas pelo time criam um Manitas cuja primeira aparição já me gerou estranhamento. Rosto pouco flexível, textura plástica, etc. No mais, gosto do tratamento dado a Selena Gomez – tão exagerada e naif, quanto a própria personagem. A maquiagem da personagem é carregada, mas não necessariamente bem executada, o cabelo está sempre mudando – ‘peruísmo’ fatal.”
Onde assistir: em exibição nos cinemas.

A SUBSTÂNCIA

Beauty artists: Pierre-Olivier Persin, Stéphanie Guillon e Marilyne Scarselli
Histórico:
Pierre-Olivier Persin: O conde de Monte Cristo (2024) e, na televisão, Game of Thrones (2016-2019).
Stéphanie Guillon: A infestação (2024) e Canções de amor (2007).
Marilyne Scarselli: Titane (2021) e, na televisão, A inglesa (2022).
A beleza: De acordo com Pierre-Olivier Persin, a diretora Coralie Fargeat queria apoiar-se majoritariamente em efeitos especiais reais (e não criados por computação gráfica). Para se tornar a versão mais agredida pela substância (antes de tornar-se um amálgama entre seu personagem e o de Margaret Qualley, sua versão mais jovem), Demi Moore passou sete horas na cabine de maquiagem e cabelo. Para o monstro, por sua vez, o trio usou mais de 100 mil litros de sangue falso que a criatura jorra, em uma das cenas mais icônicas do longa-metragem.
Nota do editor: “De modo geral, fiquei muito confuso com as noções de beleza de A substância. Se por um lado o filme se propõe a fazer uma crítica ao etarismo, toda a ideia do que é belo e do que é feio está pautado por esse preconceito no longa-metragem. A personagem de Moore, quando é castigada por sua ânsia em viver mais tempo no corpo de Margaret Qualley, vê seu corpo tornar-se não estranho, mas simplesmente mais velho. O conceito de feiura que o filme pretende criticar é a mesma feiúra que o próprio filme escolhe para punir sua protagonista. Mas, falando de um ponto de vista técnico, acho que a maquiagem e o cabelo de A substância refletem a direção de arte meio kitsch, meio apelativa do filme como um todo. A escolha de deixar quase tudo a cargo da maquiagem acaba gerando bonecos muito duros – o que atrapalha um pouco a sensação aflitiva que eles gostariam de gerar.”
Onde assistir: em exibição nos cinemas e disponível no Mubi.

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WICKED

Beauty artists: Frances Hannon, Laura Blount e Sarah Nuth
Histórico:
Frances Hannon: Indiana Jones e a relíquia do destino (2023) e Jurassic World: Reino Ameaçado (2018).
Laura Blount: Mickey 17 (2025), Wonka (2023) e Emma (2020).
Sarah Nuth: Barbie (2023) e, na televisão, The Crown (2019) e Enola Holmes (2020).
A beleza: Segundo Frances Hannon, uma das coisas mais difíceis foi escolher o tom exato de verde para pintar a pele de Cynthia Erivo, a bruxa Elphaba, no filme, de modo a parecer real. O cabelo da personagem também deu trabalho: foram sete perucas ao todo só para ela. Já no caso de Ariana Grande, que vive Glinda, a ideia foi criar um visual mais clássico e eternamente feminino.
Nota do editor: “Ainda que eu ache a beleza da Elphaba de Cynthia Erivo perfeita – as unhas longas, as microtranças, o verde 100% acertado –, as soluções para os personagens que não são a dupla de protagonistas não me impressionaram tanto quanto o resultado obtido nelas. E, de modo geral, não curti tanto a direção de arte do filme. Tudo me parece um pouco mais lúdico do que deveria ser – quase infantil.”
Onde assistir: disponível para aluguel em plataformas digitais.

NOSFERATU

Beauty artists: David White, Traci Loader e Suzanne Stokes-Munton
Histórico:
David White: O corvo (2024), As Marvels (2023) e O homem do norte (2022).
Traci Loader: Na televisão The last of us (2023) e Chucky (2021).
Suzanne Stokes-Munton: A pele que habito (2011) e Má educação (2004).
A beleza: Eram necessários seis profissionais para executar a maquiagem de Bill Skarsgård como o vilão Nosferatu – ou conde Orlok. Ao todo, ele usou 62 próteses espalhadas pelo corpo todo que demoravam entre quatro a seis horas para serem aplicadas. Nove delas ficavam apenas na região do rosto e, nas mãos, todos os dedos foram esticados com a ajuda do mesmo artifício.
Nota do editor: “O cabelo e a maquiagem de Nosferatu são os meus favoritos para o Oscar. Pode ser que ele acabe perdendo para outros filmes cuja campanha publicitária foi mais bem-sucedida. No entanto, acho que o grande trunfo de Nosferatu está no fato de que a beleza corrobora não apenas para a construção de um único personagem assustador, mas de toda uma atmosfera do começo do século 19 que, por si só, já carrega sua própria aura gótica. Destaque para as perucas e penteados das personagens femininas – todas impecáveis. Ponto negativo para o bigode do Nosferatu. Deixou mais engraçado do que aterrorizante.”
Onde assistir: em exibição nos cinemas e disponível para aluguel nas plataformas digitais

UM HOMEM DIFERENTE

Beauty artists: Mike Marino, David Presto e Crystal Jurado
Histórico:
Mike Marino: Batman (2022), Cisne negro (2010) e, na televisão, Pinguim (2024).
David Presto: Um completo desconhecido (2024), O mundo depois de nós (2023) e, na televisão, Pinguim (2024).
Crystal Jurado: Batman (2022), O Pintassilgo (2019) e, na televisão, Pinguim (2024).
A beleza: O personagem vivido por Sebastian Stan em Um homem diferente tem neurofibromatose – uma doença que provoca a formação de tumores não cancerosos pela pele e pelos ossos. No decorrer do longa-metragem, ele passa por um procedimento médico radical para mudar a sua aparência (é quando Stan, finalmente, aparece sem maquiagem). Para criar a falsa neurofibromatose, o chefe de maquiagem Mike Marino passou o rosto do protagonista por um scanner 3D para fazer uma série de estudos antes de começar a criar as impressionantes próteses usadas no filme.
Nota do editor: “O trabalho de Mike Marino vem ganhando muita notoriedade de uns tempos para cá – especialmente por seu êxito ao transformar Colin Farrell em Pinguim, para a série homônima da MAX. Dois dos maquiadores que mais respeito no Brasil vieram até mim para elogiá-lo. De fato, Um homem diferente colabora ainda mais para o seu portfólio extraordinário. Apesar de pessoalmente gostar mais da maquiagem e cabelo de Nosferatu, acho que Marino pode acabar levando a estatueta.”
Onde assistir: disponível para aluguel em plataformas digitais.

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