Meninas skatistas de NY são tema de nova série

Grupo de garotas passa por descobertas e enfrenta o mundo masculino do skate em Betty, da diretora Crystal Moselle.


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Crystal Moselle se deparou com as histórias de seus filmes por acaso. Vencedor do grande prêmio do júri de Sundance em 2015, o documentário Os Irmãos Lobo nasceu do encontro da diretora com um grupo de garotos, que lhe chamou a atenção nas ruas de Nova York. Ela descobriria depois que aquela era uma saída não autorizada dos rapazes. Os seis irmãos viviam confinados em um apartamento, por decisão do pai, um fanático religioso, e aprendiam o que sabiam do mundo por meio de filmes, que assistiam sucessivamente.

Anos depois, no metrô nova-iorquino, encontrou o mote para um curta, que virou longa e rendeu ainda uma série da HBO, Betty, com estreia marcada para esta sexta, 12, no Brasil. No vagão do trem, duas skatistas adolescentes lhe chamaram a atenção. Eram Rachelle Vinberg e Nina Moran, do coletivo Skate Kitchen, que ainda não era conhecido nas redes sociais. Crystal ouviu a conversa da dupla, puxou assunto, perguntou se havia outras skatistas como elas e pegou o contato das garotas. “Sou atraída por pessoas e personagens”, disse por telefone à ELLE. “Achei imediatamente que essa história deveria ser contada.”

Mulher loira de pijama rosa tira foto no espelho

A diretora Crystal Moselle faz uma selfie diretamente do seu isolamento social para Elle Brasil.Foto Crystal Moselle

Inspirada pelas garotas, criou That One Day (2016) para Women’s Tales, série em que a Miu Miu convida mulheres para dirigirem curtas sobre o universo feminino, com figurino da grife italiana. Miranda July, Agnès Varda (precursora da nouvelle vague), Chloë Sevigny e Ava DuVernay (A 13ª Emenda) estão na lista de 20 diretoras que já participaram do projeto. No curta de Crystal, uma skatista solitária (Rachelle) tenta não se intimidar em uma pista cheia de garotos em Nova York, cai em uma manobra, mas acaba recebendo apoio de outras skatistas (Nina, entre elas). Vislumbra uma amizade e um sentido de pertencimento ao grupo. “Achei inicialmente que seria um documentário, mas o curta teve uma boa recepção. As pessoas que assistiram achavam que eu deveria transformá-lo em um filme.”

That One Day foi então o embrião de Skate Kitchen (2018), longa-metragem inspirado nas mesmas skatistas, que interpretam versões de si mesmas, com uma dose de ficção. O filme teve o reforço de Jaden Smith no elenco e o brasileiro Rodrigo Teixeira (A Vida Invisível) entre seus produtores – no Brasil, o longa foi exibido no Festival do Rio.

Dois anos depois, a história ganha uma nova adaptação: Betty, a série, tirou seu nome de uma gíria pejorativa para as garotas que andavam de skate nos anos 90. Enquanto as meninas desbravam o mundo masculino do skate, a história de seis episódios passa com leveza por temas como autodescoberta, amizade, relacionamento e amadurecimento, longe do niilismo e da crueza de Euphoria (sucesso recente da HBO, protagonizado por Zendaya, sobre um grupo de adolescentes) ou de Kids (filme de 1995, de Larry Clark, com Chloë Sevigny no elenco, que também traz jovens skatistas na década de 90). O cenário é uma Nova York pré-pandemia e pré-protestos antirracistas, que Crystal registrou em seu perfil no Instagram. “São tempos poderosos”, diz. O roteiro também teve a consultoria das skatistas, que opinaram do figurino à ótima trilha.

Neste intervalo entre a criação do filme e o convite da HBO para transformar a história em série, a discussão sobre o feminismo avançou a passos largos. Em uma das cenas da série, a personagem de Nina diz, da pista de skate, que “quer parar de lutar contra o patriarcado e começar a ajudar o matriarcado”. “Quando fizemos o Skate Kitchen, o Me Too ainda não tinha começado. Começava-se a falar sobre essas ideias. Senti quase como se as pessoas não estivessem prontas para o filme, pelo tipo de assunto que estávamos tratando”, diz Crystal. “Mas o mundo está diferente agora, aberto a essas ideias”, completa. A gente torce para ela estar certa.

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