“O Urso” segue sob pressão em sua segunda temporada

A primeira temporada de O Urso foi lançada nos Estados Unidos no meio de julho de 2022, uma época reservada para os canais despejarem suas séries menos prestigiadas. Mas a história de Carmy Berzatto (Jeremy Allen White), um jovem gênio da gastronomia que cansa da pressão das cozinhas dos restaurantes estrelados e assume a lanchonete da família, em Chicago, se tornou um dos grandes sucessos do ano passado.

De repente, a série capitaneada pelo criador e roteirista Christopher Storer e a showrunner Joanna Calo virou assunto obrigatório em qualquer conversa mais antenada. Meses depois, ela viria a ser escolhida como uma das 10 melhores séries do ano pelo prestigiado American Film Institute, premiada pelo Critics’ Choice Awards e indicada a seis Emmy, incluindo melhor série de comédia (apesar da carga dramática, há uma certa dose de humor na trama).

A segunda temporada de O Urso, ou melhor, O Urso – Parte II, chega ao Star+ nesta quarta-feira (23.08) como uma panela de pressão prestes a estourar, precisando manter o hype e expandir seus horizontes. E ela consegue. No final do ano anterior, Carmy decide transformar a lanchonete The Beef, um patrimônio decadente de Chicago que pertencia a seu falecido irmão (Jon Bernthal), em um restaurante chique chamado The Bear. Agora, ele e seus funcionários precisam transformar um estabelecimento caindo aos pedaços no ponto mais quente da cidade. A seguir, cinco destaques dos novos episódios:

Tensão na cozinha

Se você ficou perto de ter um ataque de nervos com o caos dos bastidores da lanchonete na primeira temporada, prepare o calmante para a segunda. Com a decisão de abrir o restaurante de alta gastronomia em Chicago, Carmy tem de preparar com a sua agora chef principal, Sydney (Ayo Edebiri), um menu à altura do seu nome. Além disso, ele precisa de dinheiro, muito dinheiro. É quando seu tio, Jimmy “Cicero” Kalinowski (Oliver Platt), entra no jogo para financiar uma linha de crédito para o estabelecimento. O problema: o retorno do investimento de US$ 500 mil precisa ser feito em 18 meses. Com a irmã Sugar Berzatto (Abby Elliott) ganhando mais destaque como a gerente-geral improvisada da empreitada, Carmy oferece o prédio do restaurante ao tio em troca da grana e marca a data de abertura da nova casa para três meses.

Carmy (Jeremy Allen White) e Sydney (Ayo Edebiri)

Um novo amor no cardápio de O Urso

Já no segundo episódio, Carmy esbarra em Claire, sua antiga paixão de adolescência que é interpretada pela atriz Molly Gordon – também diretora, protagonista e roteirista da comédia Theater Camp, uma das sensações do último Festival de Sundance. Obcecado pelo trabalho, o chef rebate a aproximação da garota e um dilema romântico se forma como núcleo dramático da série: é possível criar obras de arte e se dedicar por inteiro à sua profissão, mas também se abrir para o amor? O relacionamento também vira uma espécie de “triângulo não-amoroso” quando o comportamento de Carmy começa a prejudicar a relação dele com Sydney, o que levou muito espectadores a questionarem se haveria algo mais entre os dois cozinheiros.

Os acompanhamentos importam

Uma das maiores diferenças da segunda temporada de O Urso em relação à anterior é a força dos personagens secundários, que florescem e ganham mais vida neste ano. Tina (Liza Colón-Zayas), a ajudante de cozinha rabugenta, e Ebra, (Edwin Lee Gibson) outro cozinheiro veterano, vão estudar numa escola formal de culinária, criando conflitos e consequências inesperadas na série. O confeiteiro Marcus (Lionel Boyce) ganha um episódio inteiro que revela a batalha da sua mãe contra uma doença terminal e joga o personagem numa viagem de aprendizado para Copenhague. No restaurante dinamarquês – que parece uma homenagem ao premiado Noma –, ele começa a aprender técnicas sofisticadas com o chef Luca (Will Poulter, de Guardiões da Galáxia – Vol. 3), um ex-colega de Carmy com a filosofia profissional que vai além da obsessão pela cozinha: “Você pode passar todo o tempo do mundo aqui”, diz Luca enquanto prepara uma massa doce. “Mas se você não passar tempo suficiente lá fora…”

Richie (Ebon Moss-Bachrach)

A grande estrela dos “acompanhamentos” do novo ano da série é o primo Richie (o ótimo Ebon Moss-Bachrach, de Girls). O gerente da lanchonete começa a temporada numa crise existencial e profissional angustiante, tentando encontrar seu lugar nesta empreitada mais rígida e elegante do parente, ao mesmo tempo que lida com seu divórcio e a relação com a filha pequena. O personagem também protagoniza um episódio que mostra seu amadurecimento em treinamento no restaurante capitaneado por uma chef interpretada por Olivia Colman (The Crown).

Na verdade, as participações especiais nesta temporada vão além de Colman e Poulter. No sexto episódio, somos levados ao passado da família Berzatto para um Natal caótico que Carmy passa em casa depois de um treinamento na Dinamarca. O flashback inesquecível traz aparições de Jamie Lee Curtis como a matriarca da família, Bob Odenkirk (Better call Saul) interpretando um tio, Sarah Paulson (American Crime Story) no papel de uma prima e o comediante John Mulaney como seu namorado. Completando o time, aparições de Gillian Jacobs (Transatlântico) vivendo a ex-mulher de Richie.

Tina (Liza Colón-Zayas) e Ebraheim (Edwin Lee Gibson)

Maior foco na alta gastronomia

A segunda parte da série é sobre como um restaurante de alta gastronomia é construído do zero. E o alicerce disso é o cardápio. O papel da produtora culinária Courtney Storer, irmã do criador do programa, aumentou consideravelmente nos episódios iniciais, quando Sydney percorre os mais famosos restaurantes de Chicago para se inspirar na criação do novo menu para o The Bear: do Kasama, primeiro restaurante de comida filipina nos EUA a ganhar uma estrela Michelin, ao mediterrâneo Avec, ela mostra a variedade dos pratos locais e as dificuldades dos negócios pós-pandemia. A cereja no bolo vem em seguida. Para observar como uma equipe de restaurante premiado deve receber seus clientes, Richie faz um estágio de uma semana no Ever, famoso restaurante duas estrelas Michelin do chef Chris Duffy e seu colaborador, Michael Muser. Mas isso não impede a aparição do Pequod’s Pizza, uma das mais famosas da cidade.

Uma boa trilha sonora ajuda na degustação

Uma das grandes atrações de O Urso é a trilha sonora. A segunda temporada mantém o nível, não apenas trazendo ícones musicais de Chicago, como Wilco, Smashing Pumpkins e Mavis Staples, mas ampliando o horizonte com hits do Fine Young Cannibals (“She drives me crazy”) e uma cena antológica apimentada por “Love story”, de Taylor Swift. Os dez episódios estão repletos de clássicos dos anos 90 (Pearl Jam, Counting Crows, Pixies), mas a música que marca e serve como tema da relação entre Carmy e Claire é “Strange currencies”, uma das mais belas do R.E.M.

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