Paulo Miklos: um novo disco e vários filmes para estrear
Ex-titã lança Do amor não vai sobrar ninguém, disco em que celebra seu casamento, e protagoniza Jesus Kid, que acaba de chegar aos cinemas. Para ele, atuar e cantar são linhas contínuas.
Em Do amor não vai sobrar ninguém, Paulo Miklos celebra sua união com a produtora Renata Galvão. “Nós vamos trocar alianças/ Não vai faltar esperança/Eu estarei sempre ao teu lado”, canta em “Ao teu lado”, música que abre o álbum, seu quarto trabalho solo.
Os dois se casaram em 2019 e partiram em seguida para uma lua de mel, combinada com a turnê de divulgação de O homem cordial. No filme de Iberê Carvalho, com estreia prevista para agosto, o cantor vive um roqueiro, papel que lhe deu um Kikito de melhor ator há três anos. De volta ao Brasil, a pandemia o obrigou a um autoexílio, que deu a ele inspiração para novas composições.
Miklos, 63 anos, passa por um grande momento pessoal e profissional. Ele conseguiu uma sobrevida após os Titãs, grupo pelo qual atuou como vocalista por mais de duas décadas, e tem se notabilizado no mundo da atuação, desde sua estreia em O Invasor (2001), em que interpretou Anísio, um matador de aluguel. Depois, atuou em longas como Estômago (2007), É proibido fumar (2009), Carrossel: O Filme (2015) e viveu Chet Baker no teatro.
Nesta quinta-feira, 09.06, ele estreia Jesus Kid, longa de Aly Muritiba (Deserto particular), inspirado no livro homônimo de Lourenço Mutarelli. Miklos ainda será visto nos inéditos Estômago 2 – O Poderoso Chef, em que reprisa o papel do chefão do crime Etcetera, Clube dos Anjos, baseado no livro homônimo de Fernando Verissimo, e na segunda temporada da série Manhãs de setembro (Amazon Prime Video). A seguir, confira os melhores momentos da conversa com o cantor.
Foto: Divulgação
A gente mora no agora, seu disco anterior, de 2017, era um álbum no qual você falava muito em perda, em especial a morte de sua ex-mulher, Rachel, em 2013. O novo álbum soa como uma redescoberta do amor. Como você está agora?
Estou bem e esse estado se reflete no disco, que fala do amor de uma forma madura. Não é mais aquele amor dos arroubos, de arriscar tudo e ter até uma certa insegurança. Mas fala de ressignificação, do amor presente, do cotidiano, da reinvenção.
Renata apareceu num momento muito difícil da sua vida. Como nasceu essa paixão?
Eu estava um caco quando ela me conheceu. Tinha perdido uma pessoa com quem passei 30 anos casado e que achei que seria para sempre. Foi um processo muito sentido, mas também de muita luz, de querer viver, de não sentir que era o fim. Porque quando você perde uma companheira de vida, fica tão sem sustentação que você acha que vai junto. A dor e a saudade são muito profundas. Tive de reencontrar forças, um amor pela vida, de fazer as coisas que realmente importam. Agarrar-se nas coisas que você ama, conhecer alguém novo e isso ser interessante… É importante você encontrar espaço para isso no seu coração. Renata teve então de catar os caquinhos que sobraram de mim.
O que você quer dizer com “caquinhos”?
Eu estava muito caído. Quando conheci a Renata, ela me viu bem deprimido, ficou até com pena de mim… Era para tratar de um DVD e ela tinha uma produtora. Me reuni com ela e com as sócias e estava um trapo. Elas sugeriram passar para outro dia e eu decidi continuar. Tinha de me agarrar no que gosto de fazer. Meses depois, eu e ela começamos a sair. Namoramos por seis anos e nos casamos em novembro de 2019.
O Homem Cordial – Teaser Oficial / Em breve nos cinemas
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Você tem uma filha, Manuela, e agora virou pai de duas crianças do casamento anterior de Renata. Como tem sido essa experiência? Há algo que não fez como pai com Manuela que pode fazer com seus enteados?
Manuela é uma ativista e tem usado o jornalismo para expressar seus ideais políticos e sociais. A nossa relação é um grande barato. Recentemente, fiz dois shows de voz e violão no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, e ela foi nos dois dias. Eu esquecia uma letra e perguntava: “Manuela, como é que era mesmo?”. Hoje tenho dois enteados, o Max, de 15, e a Rosa, de 11. Uma experiência maravilhosa. A gente já está há oito anos juntos. Eu acompanhei as crianças, a revolução deles crescendo e agora entrando na adolescência… É um grande barato. Um privilégio de estar perto neste período. Pode ser que eu tenha mais tempo agora do que quando Manuela era adolescente e eu estava o todo tempo com os Titãs. Mas sempre que podia a levava nas minhas viagens.
Seu disco traz uma homenagem a Sabotage, rapper que foi seu consultor no filme O Invasor. Ela traz uma coisa funkeada e próxima de bandas do pop inglês. Esse repertório tem feito parte do teu dia a dia musical?
A primeira referência foi “Sympathy for the devil”, dos Rolling Stones, aquela coisa de branco fazendo música negra. Era o mais próximo que eu poderia chegar ali porque nunca teria a coragem de fazer um rap. Sabotage era instintivo, no que lembrava muito o Jorge Ben. Dizem que o Jorge vai improvisando e montando a estrutura da música aos poucos até sair aquelas melodias maravilhosas. Os caras são geniais, não pensam na coisa esquemática. É um fluxo criativo, sempre mantendo um brilhantismo mil grau.
É mais difícil cantar ou atuar?
Música e atuação são artes que se equivalem: somos cercados por equipes de excelentes profissionais, que cruzam o nosso caminho e se dão ao máximo para que o projeto dê certo. No caso da música, por exemplo, existe a ansiedade de ensaiar as canções de um novo disco, cair na estrada. A única preocupação é que a experiência tem de ser prazerosa. Tenho de ter uma percepção clara do que sou capaz e alargar essa experiência. Descobrir coisas novas, fazer de um jeito diferente…
Jesus Kid | Teaser Oficial
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Os Titãs tinham um pouco da arte da atuação, visto que você se “travestia” de personagens diferentes: o crooner, o cantor brega, o vocalista de rock pesado…
O mesmo sujeito que interpreta as músicas que você escuta, “veste” o personagem que você assiste na tela, ou seja, no fundo são linhas contínuas. Eu tenho uma ansiedade em descobrir como construí-lo. Fui bem-sucedido logo na estreia ao criar o Anísio, de O Invasor. Quando passou numa mostra de cinema, em Brasília, até esqueci que estava na tela. Fiquei assistindo a tudo, eletrizado, atento. Mas as luzes se acenderam e veio um monte de gente me cumprimentar. Fiquei atônito com essa experiência.
Anísio era um personagem denso, um assassino. Não se preocupou em carregar o clima pesado para o dia a dia?
Acho que tinha mais isso no tempo dos Titãs do que no mundo da atuação. Cantava aquelas coisas super pesadas e de repente podia estar levando aquela energia para casa, sei lá… Mas no mundo da atuação, isso não acontece. Por exemplo, acabei de filmar uma cena na qual lidero uma rebelião na cadeia (nas filmagens de Estômago 2). Uns 50 caras quebrando e tacando fogo em tudo. E de repente estamos aqui, conversando tranquilamente. Aliás, acabo de dar um spoiler de uma das principais cenas de Estômago 2… Existe uma “chave” que a gente vira e volta ao mundo real.
Qual é seu personagem dos sonhos?
Adoro fazer o malvado. Mesmo porque meu tipo físico acaba pendendo para personagens desse tipo. Quando fiz o Gonzales em Carrossel, fui ao shopping e dei de cara com uma criança. Ela ficou tão assustada ao me ver descendo a escada rolante que começou a andar para trás, horrorizada. Em outra oportunidade, a camareira do teatro no qual eu fazia uma peça mostrou um áudio em que o netinho falava: “Vovó, esse cara é do mal, eu o vi colocar fogo no lago. Muito cuidado com ele!”. Acho isso incrível porque as crianças te assistem, sei lá, umas 200 vezes e você acaba marcado como o vilão delas.
Era tocar o terceiro sinal e eu pensar: “Meu Deus, o que estou fazendo aqui, como é que fui aceitar esse trabalho? Todo mundo vai perceber que sou uma mentira…”
Falando em teatro, você atuou numa peça sobre o trompetista Chet Baker. Existe muita diferença da tela do cinema para o palco?
Eu era acometido pela “síndrome do impostor” poucos momentos antes do início do espetáculo. Era tocar o terceiro sinal e eu pensar: “Meu Deus, o que estou fazendo aqui, como é que fui aceitar esse trabalho? Todo mundo vai perceber que sou uma mentira…”. Mas passado esse momento, pegava o estojo no qual eu trazia meu trompete e ia para a cena. O que aprendi no teatro é que, embora o roteiro e as situações nunca mudem, cada noite traz um sentimento diferente. Você entra e o público é outro, que irá reagir de outra maneira à plateia do dia anterior… É outro dia, outra intensidade. Adorei ter feito teatro.
O que pode nos contar sobre seu personagem na segunda temporada de Manhãs de setembro?
Décio, o Dedé, é um personagem delicioso. É músico aposentado, e feliz companheiro do Aristides, o Ari, personagem do Gero Camilo. Ele continua se apresentando, mas apenas acompanhando a cantora cover de Vanusa, Cassandra, personagem da Liniker. Essa série é muito importante pois consegue desenhar esses personagens com tamanha humanidade, atinge diretamente a sensibilidade do espectador, transformando as mentalidades através da empatia e do amor.
Em O homem cordial, você interpreta um roqueiro cuja ação viraliza nas redes sociais. Ele é bem próximo da sua realidade de rockstar, mas fala de um tema importante, essa “demonização” nas redes. Como foi compor esse personagem, visto que ele é mais próximo da sua realidade do que um Anísio ou o Etctera?
A sensação que fica é que esse tipo de personagem mais próximo de mim está mais à flor da pele. É uma caracterização mais sutil e delicada. Mas ainda assim, com características bem definidas e individualidade distantes da minha pessoa.
Qual os maiores cuidados que você toma com a sua imagem nas redes sociais?
Acompanho de tudo nas redes de quem eu admiro, me informo, me divirto. Mas nas minhas redes tenho preguiça de repostar sobre todos os assuntos. Posto sobre meu trabalho, minha música, filmes, séries, etc. E também sobre meu cotidiano, claro. Uma viagem, um aniversário, uma memória. Acho que sou bem transparente nas minhas posições.
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