Por dentro da galeria de Yayoi Kusama em Inhotim

Espaço traz duas instalações imersivas e sensoriais da artista japonesa, que costuma provocar filas com seus trabalhos de vocação pop.


Foto: Daniel Mansur



O universo bem particular de Yayoi Kusama ganha reforço em Inhotim. A artista nonagenária japonesa ocupa desde 2009 um dos jardins do centro de arte contemporânea em Brumadinho (MG) com Narcissus garden (1966/2009). A obra reúne 750 esferas de aço inoxidável que refletem o entorno (daí a referência ao mito de Narciso) e se movem com o vento, sobre um espelho d’água.

Agora Yayoi entra para as salas fechadas de Inhotim. Em meados de julho, o centro inaugurou sua 20ª galeria — a primeira em oito anos, período em que a instituição também enfrentou a pandemia. O espaço traz em duas salas distintas I’m here, but nothing (2000) e Aftermath of obliteration of eternity (2009), adquiridos em 2008 e 2009, respectivamente, por Inhotim.

Fachada da Galeria Yayoi Kusama

A parte externa da galeria com espaço para abrigar filas Foto: Ícaro Moreno

A primeira obra recria um ambiente doméstico, com sofá, sala de jantar e televisão, iluminados por luz negra e com pontos brilhantes coloridos (adesivos, na verdade), do teto ao chão. A visitação é limitada a oito pessoas e a três minutos, a fim de evitar possíveis efeitos da luz negra no corpo. Já a segunda, com visita individual de um minuto, traz um ambiente escuro, iluminado por lanternas que vão se apagando, seguindo conceito de auto-obliteração que percorre a carreira da japonesa, de negar a sua existência, buscando uma união com o universal. “A obra se acende e se apaga, a ideia é que seja uma experiência efêmera. Muito desse trabalho tem a ver com a passagem do tempo, com a sensação de impermanência”, diz Júlia Rebouças, curadora de Inhotim, que lembra que a artista criou esse trabalho aos 80 anos.

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“Ninguém passa por esses obras e sai incólume”, completa Júlia. “A visão é o primeiro sentido engajado no trabalho da Kusama, mas você está com seu corpo imerso. Há essa desalienação dos outros sentidos para perceber a arte como uma experiência que não é meramente visual, retiniana. Ela envolve seu corpo inteiro.”

Yayoi Kusama Im Here. But Nothing 2000 Credito Daniel Mansur 11 1 Easy Resize.com

A obra I'm here but nothing Daniel Mansur

As bromélias de Yayoi Kusama

A galeria, com projeto assinado pelos arquitetos Fernando Maculan (MACh) e Maria Paz (Rizoma), foi planejada para abrigar as filas que as obras (com forte apelo instagramável) da artista pop provocam. Foram criados bancos de madeira e uma providencial sombra.

Em quatro anos, os painéis que formam o teto serão substituídos por trepadeiras, quando estas crescerem. “Ficará mais orgânico e a ideia é que você se acostume com a escuridão de dentro da galeria”, diz Juliano Borin, curador botânico do Inhotim. No jardim do espaço, com inspiração psicodélica, foram plantadas mais de 4 mil bromélias — verdes, amarelas e avermelhadas — com círculos naturais em suas folhas, uma referência direta ao trabalho da artista.

Yayoi Kusama Aftermath of Obliteration of Eternity 2009 Credito Daniel Mansur 1

A obra Aftermath of obliteration of eternity, que tem visitação individual Daniel Mansur

Esses padrões repetitivos aparecem na obra de Kusama desde seus desenhos na infância. Foi nessa época que ela passou a apresentar alucinações com pontos e círculos. No fim da década de 50, para também driblar a falta de apoio de sua família em se tornar uma artista, ela se mudou para os Estados Unidos, onde foi influenciada pela pop arte. Nos anos seguintes, sua obra passou a abraçar happenings, performances, pinturas, esculturas e instalações e também foi marcada por internações voluntárias em clínicas psiquiátricas.

Fora dos museus, a própria Yayoi virou atração. Esculturas gigantes que reproduziam a imagem da artista foram alocadas próximas das lojas da Louis Vuitton em Tóquio, Nova York e Paris para marcar a nova parceria da artista japonesa com a maison. Yayoi segue pop.

 

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