Quarta temporada de O Urso amarra as pontas com lentidão e emoção
Novo ano da premiada série promove uma reunião de personagens secundários, focando na redenção de Carmy e dando merecido destaque a Sydney.

O urso começou como uma explosão, colocando o público dentro de uma cozinha e de uma família caóticas. Era viciante. A segunda temporada expandiu os limites, focando em personagens secundários. Apesar de irregular, havia episódios tão excepcionais que não havia como achar ruim. A terceira foi menos regular ainda e bastante insossa. A quarta temporada de O urso, que estreou nesta quinta-feira (25.06) no Disney+, é uma continuação da anterior. É melhor, emociona em muitos momentos, mas não excepcional.
Na penúltimo ano da série, Carmy (Jeremy Allen White), o chef genial por trás do novo The Bear, saía da geladeira onde ficou preso no último episódio da segunda temporada para instaurar o caos em seu restaurante, mudando o menu todos os dias, elevando os custos e não deixando espaço para Sydney (Ayo Edebiri), agora sua sócia. O relacionamento entre Carmy e o “primo” Richie (Ebon Moss-Bachrach) estava pior do que nunca.
Como na segunda temporada, os melhores episódios foram aqueles centrados em personagens paralelos, como Tina (Liza Colón-Zayas, que ganhou o Emmy de atriz coadjuvante em série cômica) e Natalie (Abby Elliott), a irmã de Carmy, que precisou chamar a mãe, Donna (Jamie Lee Curtis), quando entrou em trabalho de parto. Toda a família tem uma relação complicada com Donna, que é alcoólatra e instável.
A terceira temporada deixou muitas questões em aberto. Sydney ficou dividida entre o contrato de sociedade enviado por Carmy e a oportunidade de trabalhar em um novo restaurante. Os Faks (Matty Matheson e Ricky Staffieri) imploravam a Carmy para pedir desculpas à ex-namorada Claire (Molly Gordon). Richie não conseguia decidir se ia ao casamento da ex-mulher e mãe de sua filha. Cicero (Oliver Platt), “tio” de Carmy e Natalie e investidor do The Bear, e seu contador (Brian Koppelman), apelidado Computer, lembravam que o dinheiro não ia durar muito tempo. A equipe esperava a publicação de uma crítica do jornal The Chicago Tribune. E, claro, a morte de Mike (Jon Bernthal), irmão de Carmy e Natalie, e o alcoolismo de Donna (Jamie Lee Curtis), mãe dos três, continuavam pairando sobre o chef, Richie e, consequentemente, o restaurante.
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Carmy (Jeremy Allen White) em seu restaurante, na quarta temporada da série
Foto: FX
Havia vários episódios com participação de chefs famosos e homenagens aos restaurantes de Chicago, muitos fechados durante a pandemia, que pouco faziam avançar a trama. Mas a verdade é que O urso sempre foi uma série mais de sensações do que de história. Só que os showrunners Christopher Storer e Joanna Calo parecem ter ficado perdidos entre uma coisa e outra.
Eles levam os dez episódios da quarta temporada para amarrar as pontas deixadas na terceira. Logo no primeiro episódio, Cicero e Computer colocam uma contagem regressiva gigante na cozinha, mostrando os dias que eles têm para fazer The Bear dar certo. Ela dá um leve senso de urgência, mas a verdade é que muitos dos capítulos parecem rodar para chegar a lugar nenhum ou apenas reforçar pontos anteriores: restaurantes são famílias, que, no entanto, afastam seus funcionários de suas pessoas queridas. Pelo menos, o restaurante vira uma grande reunião de amigos, trazendo de volta personagens queridos como Luca (Will Poulter).
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Sydney (Ayo Edebiri) e Tina (Liza Colon-Zayas) Foto: FX
O fechamento do Ever, no último episódio da terceira temporada, mostrou para Carmy que comportamentos abusivos e autodestrutivos não são bem-vindos em uma cozinha. E ele passa a quarta temporada toda tentando se redimir. O drama do protagonista não tem muitas novidades: é o gênio angustiado, com problemas emocionais graves causados pelo trauma de crescer sem o pai, com uma mãe viciada e um irmão que tirou sua própria vida. O urso é uma série sobre a culpa de não estar sempre lá por ter tentado seguir seu sonho – ou seria a cozinha uma fuga para Carmy? E sobre a dificuldade que os homens têm de lidar com seus sentimentos e falar sobre eles.
Os novos capítulos contêm muitas sessões de terapia, mas há mais momentos de leveza, principalmente com os Faks, e a inserção de uma irmã, Francie, interpretada por Brie Larson (O quarto de Jackie). O casamento de Tiffany é uma enorme reunião familiar, com a volta de diversos personagens do famoso jantar de Natal da segunda temporada.
O primo Richie (Ebon Moss-Bachrach) Foto: FX
E, mesmo que mais uma vez O urso abandone os personagens secundários que poderiam injetar certo ânimo à trama, pelo menos Sydney ganha o espaço que merece. Um dos melhores episódios, inclusive, foi escrito por Ayo e Lionel Boyce, que interpreta o chef confeiteiro Marcus, e mostra Sydney indo fazer o cabelo na casa da prima, vivida pela ótima Danielle Deadwyler.
Ao final do décimo episódio, quase todos os dramas propostos na terceira temporada serão resolvidos. E muitas lágrimas terão rolado. Mas este quarto ano tem um final ambíguo, que deixa espaço tanto para o fim quanto para uma continuação, pelo menos para alguns personagens. O que seria ótimo, porque há muito potencial inexplorado. O urso criou um espaço interessante e personagens excelentes, mas nem sempre utilizou o que tinha de melhor. Até agora, não há sinais de uma quinta temporada. Com o elenco ocupadíssimo – Jeremy em Springsteen: Salve-me do desconhecido, Ebon em Quarteto fantástico, Ayo no novo Luca Guadagnino, After the hunt –, pode ser difícil continuar.
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