Morre o genial José Celso Martinez Corrêa
Um dos maiores nomes do teatro brasileiro, Zé Celso, diretor e líder do Teatro Oficina, influenciou gerações e foi uma das vozes mais provocativas dos palcos nacionais.
José Celso Martinez Corrêa, uma das maiores referências do teatro brasileiro, morreu nesta quinta-feira (6.07), aos 86 anos, após sofrer graves queimaduras provocadas por um incêndio em seu apartamento, em São Paulo.
Diretor, autor, ator e líder do Teatro Oficina, Zé Celso influenciou gerações do teatro brasileiro e foi uma das vozes mais provocativas dos palcos nacionais.
Nascido em Araraquara, interior de São Paulo, se destacou como encenador a partir dos anos 60. Pouco antes, em 1958, criou o Teatro Oficina, em São Paulo, em parceria com outros colegas da Universidade de Direito da USP (Universidade de São Paulo). Na década seguinte, o grupo passou por uma profissionalização e ganhou influência política em reação ao Golpe Militar de 1964.
Entre seus espetáculos mais conhecidos estão O rei da vela (1967), sobre um agiota que explora a miséria do povo, texto escrito por Oswald de Andrade na década de 1930. A montagem, adaptada como filme em 1982 pelo próprio diretor, colocou Zé Celso como o grande representante da Tropicália no teatro.
Em 1968, ele dirigiu no Rio de Janeiro Roda Viva, texto de Chico Buarque, sobre a vida de um ídolo da canção popular manipulado pela indústria fonográfica. Na encenação, os atores provocam a plateia fisicamente, algo que se repetiria em espetáculos do Oficina. Entre as montagens marcantes do grupo estão Hamlet, Os sertões, As Bacantes e Pequenos burgueses.
Seis anos depois, em 1974, Zé Celso foi detido e torturado pelo regime militar. Após 20 dias, foi solto, partindo para o exílio em Portugal. Quatro anos depois, retornou a São Paulo.
Desde os anos 80, fez do Oficina um espaço dedicado a oficinas e pesquisa cênica. A partir dos anos 2000, apresentou releituras de encenações do grupo, adaptadas à perspectiva atual, caso de O rei da vela, em 2017, e Roda viva, em 2019.
Zé Celso, na capa da ELLE, em dezembro de 2017. Foto: Marcio Simnch
“Sou workaholic. A arte vem do corpo do artista. Ele empresta seu corpo à arte diariamente. É preciso disciplina, muita entrega. Eu sou artista e tenho dedicado minha vida a isso. Não quero acumular nada”, disse à ELLE, na edição de dezembro de 2017, quando foi capa da revista, recriando o quadro O grito, de Edvard Munch. O espaço do Oficina, no bairro da Bela Vista, em São Paulo, é um dos grandes marcos culturais de São Paulo e ganhou reforma em 1984 assinada por Edson Elito e Lina Bo Bardi, que também projetou o Masp e o Sesc Pompeia, ambos na capital paulista. O projeto foi apontado pelo jornal inglês The Guardian como o melhor teatro do mundo.
Desde os anos 1980, Zé Celso travava com Silvio Santos uma batalha judicial pelo terreno ao lado do Oficina. Enquanto o empresário deseja construir ali um empreendimento imobiliário, o diretor planejava criar um parque público. O Oficina enfrentava dificuldades financeiras mesmo antes da pandemia, realizando campanhas para arrecadar recursos e pela renovação do seu espaço.
Zé Celso deixa o companheiro Marcelo Drummond, com quem dividia os palcos desde os anos 90 e com quem se casou em junho deste ano, no Oficina.
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