Jessica Chastain e Oscar Isaac falam à ELLE sobre “Cenas de um casamento”

Adaptada da obra de Ingmar Bergman, série da HBO Max mostras as dores de uma crise conjugal; produção estreia neste domingo (12.09)


Foto: Divulgação



Jessica Chastain e Oscar Isaac estão juntos novamente. Desta vez, compartilhando a tela por onde se dá a entrevista com a imprensa internacional, semanas antes da estreia mundial de Cenas de um casamento, neste domingo (12.09) na HBO Max. Ela mostra-se à vontade ao conversar com os jornalistas, não se furta de nenhuma pergunta, responde todas com o mesmo entusiasmo e interesse. Ele, enquanto ouve as questões, devora snacks que tira de dentro de uma embalagem.

Na série, Oscar é Jonathan, um professor de filosofia que cuida da filha pequena para que a mulher se dedique à carreira. Jessica é Mira, a outra metade do casal, uma alta executiva de uma empresa de tecnologia e a provedora da família. Mesmo sendo uma mulher bem-sucedida profissionalmente, Mira, ao lado do marido, transmite a imagem de alguém que não quer chamar atenção para si mesma. “É como se ela desaparecesse pelas paredes da casa. Mira é uma versão silenciosa dela mesma porque, de alguma forma, sente-se constrangida de ser maior do que ele. Ela se diminui dentro de casa para que o marido não se sinta menos másculo. Isso é uma coisa muito perigosa e que nenhuma mulher deveria fazer”, analisa Jessica ao falar sobre o figurino de sua personagem, que funciona quase como um uniforme, composto por beges e tons de terra.


Scenes from a Marriage (2021) | Official Trailer | HBO

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Nesta adaptação da obra homônima de Ingmar Bergman para os dias de hoje, assinada pelo roteirista e diretor Hagai Levi, criador de séries como Em terapia (2008-2021) e The affair (2014-2019), os papéis foram invertidos. No original, lançado em 1973 (primeiro como série para TV sueca e, depois, editada para o cinema), o casal interpretado por Liv Ullmann (Marianne) e Erland Josephson (Johan) vive uma relação estável até o dia em que o marido revela ter um caso com uma mulher mais nova. Na versão de 2021, dividida em cinco episódios, é a mulher quem vive uma paixão fora do casamento. A partir dessa revelação, o casal passa a limpo anos de relacionamento, resgata dores, mágoas, briga, discute. Mas os dois não conseguem se distanciar um do outro.

“Ao ler o roteiro na primeira semana de ensaio, na França, eu falei para Oscar que achava que não conseguiria mais ser amiga dele”, ri Jessica. “Nós decidimos sacrificar nossa amizade pelo bem da série”, ironiza ele. Assim como Liv e Erland, que eram muito próximos, Jessica e Oscar são amigos de longa data. Os dois foram colegas na prestigiada Juilliard School (Nova York) e formaram um casal no filme O ano mais violento (2014). “Ele é meu marido de trabalho”, brinca Jessica. “Tenho a sensação de que teremos uma longa carreira trabalhando juntos”, diz ela. Longe das telas, os atores também deram demonstrações da química entre eles no tapete vermelho do Festival de Veneza, quando a nova série foi exibida fora de competição. Oscar acariciando e beijando o braço de Jessica, enquanto posavam para os fotógrafos no tapete vermelho, deu o que falar nas redes sociais.

 

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Jessica Chastain como MiraFoto: Divulgação

A atriz sempre foi a primeira opção do diretor para viver Mira, desde que Levi foi abordado por Daniel Bergman, filho de Ingmar e produtor executivo da série, para fazer a nova versão. “A combinação que ela tem de fragilidade e poder é uma coisa muito rara”, diz o diretor israelense. Tempos depois de começar a trabalhar no projeto, Levi conheceu Oscar, que estava bastante interessado no papel do marido. “Ele é um símbolo sexual, é bem masculino. Mas eu senti que poderia pegar isso e tornar o personagem dele mais tímido, mais contido. Tivemos muita sorte de poder contar com esses dois atores”, conta o diretor.

Como no original de Bergman, a nova versão tem pouquíssimas cenas externas. Quase toda a ação se passa dentro de uma mesma locação: a residência onde vive o casal. Apenas Jessica e Oscar estão juntos na maioria das cenas. As semelhanças com uma peça de teatro não param por aí. Os atores contam que, durante as filmagens, uma única tomada podia durar 25 minutos, algo raríssimo hoje em dia até mesmo em produções mais autorais.

Jessica lembra ainda que ela e Isaac tiveram um desafio extra com as longas tomadas. No primeiro dia de filmagem, o diretor perguntou se eles poderiam improvisar, acrescentar algumas marcas pessoais aos diálogos do roteiro. “Por isso que, algumas vezes, falamos por cima do outro. Se o Oscar dizia uma frase, eu podia fazer interjeições do tipo ‘isso não está certo’, em cima do que ele estava falando. Parecia que eu já não estava mais no controle da cena. E esse é um dos lugares mais emocionantes de se chegar como atriz. É exaustivo, mas é muito real.”

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Oscar Isaac como JonathanFoto: Divulgação

A sensação de que o espectador está testemunhando algo que parece real, de que está dentro da intimidade do casal, aumenta quando a câmera se aproxima do rosto dos personagens. Bergman, famoso por seus close-ups tanto no cinema quanto na TV, explorou essa linguagem na série original. “Se eu pudesse, faria uma série inteira com a câmera só nos olhos dos atores”, conta Levi, para quem o diretor sueco é uma inspiração. “Para mim, seria a opção mais óbvia filmar em close-ups, chegar o mais próximo que pudesse dos atores. Mas tentei ir além na transição das cenas. O maior desafio era como usar momentos de silêncio para trazer mais dramaticidade à série.”

Alguns desses momentos sem diálogos, usados como transição, são passagens do interior da casa, dos ambientes vazios. Oscar revela que as cenas entraram na série de forma orgânica. “O diretor de fotografia perguntou a Hagai se ele podia fazer tomadas da casa vazia ao final das filmagens. Para ele, a residência por si só já era muito emocionante. E esses longos takes dos ambientes vazios acabaram fazendo parte da série. Bem ou mal, são as cenas de um campo de batalha”, diz o ator.

A casa foi ambientada num pequeno estúdio em White Plains, nos arredores de Nova York. Foi ali que a equipe da série passou cinco meses, no ano passado, praticamente isolada do restante do mundo. “Nós começamos a filmar em outubro. Era um período bem assustador, não tinha vacina ainda. Basicamente, a gente vivia no set o tempo todo”, relembra Jessica.

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O casal na sérieFoto: Divulgação

A pandemia não é citada nos diálogos, mas ela está presente nas cenas que iniciam cada episódio. A câmera acompanha Jessica ou Oscar se preparando para entrar em cena. Até o momento da claquete, eles são assistidos por pessoas da equipe, todas de máscara. “Uma das coisas que gostei é que não ignoramos o que estava acontecendo no mundo durante o tempo em que passamos filmando”, diz Levi. Questionado se as cenas iniciais poderiam causar alguma estranheza, o diretor diz que, inicialmente, elas não faziam parte do roteiro, ele apenas seguiu sua intuição.

Mesmo num período de incertezas, como o da pandemia, uma história de amor aparentemente sem final feliz, pode ter apelo junto ao público, na opinião do casal de atores. “Para mim, algumas vezes, ouvir uma música triste pode ter um efeito catártico. É bom entrar em contato com os sentimentos”, defende Oscar. “Sei que tem várias interpretações, mas acho que a série é uma linda história de amor”, diz Jessica.

Para o público brasileiro, Cenas de um casamento traz ainda um detalhe familiar: no último episódio, enquanto Jonathan e Mira conversam, ouvimos Elis Regina cantar os versos de “Retrato em branco e preto”, música de Tom Jobim e Chico Buarque. A letra fala das lembranças de um amor que insiste em permanecer, de memórias colecionadas como retratos de um álbum. Pode ser sobre um casal qualquer. E pode ser sobre Mira e Jonathan.

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