Sleeping beauties Reawakening Fashion: reacordando looks e histórias da exposição de moda do ano

Em cartaz no MET, em Nova York, a mostra vai de Charles Worth à Loewe, de olhos a narizes curiosos.


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Busto do vestido de gala de Charles Frederick Worth Foto: Renata Piza



Sleeping beauties Reawakening Fashion é uma exposição ousada, que pretende despertar roupas emblemáticas da história da moda, parte do acervo do próprio Metropolitan Museum, por meio não só dos sentidos, mas também da tecnologia – e aqui vai um salve. Organizada por Andrew Bolton, curador do Costume Institute do museu, a mostra reúne 250 itens, entre vestidos de baile, chapéus, pequenos artefatos e até coisas rotineiras, como um vestido de uma grande rede de fast-fashion.

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Vestido Undercouver Foto: reprodução Instagram @undercoverlab

Muito além do conjunto, vale destacar, chama a atenção a capacidade de usar diferentes elementos narrativos na tentativa de cumprir o propósito do tema: acordar peças e histórias adormecidas. É possível ver, por exemplo, um vestido de Charles Frederick Worth nas cores certas, não desmanchadas pelo tempo, dançando como no século 19. É possível sentir o cheiro do pó nos tecidos – sim, tubos pela exposição convidam narizes corajosos. É possível ouvir o som de dezenas de pássaros, no espaço McQueeniano/Hichcockiano da sala e entender um pouco mais sobre referências.

Inteligência artificial, imagens geradas por computação, vídeo-animações, projeções de luz e soundscapes guiam o espectador por corredores estreitos (aqui, uma crítica), que vão se abrindo em espaços maiores, como gavetas em um grande closet, onde é possível se deparar com um Schiaparelli by Elsa, um Dior by Raf Simons, um Saint Laurent feito por Yves mesmo. 

Uma dança entre passado, presente e futuro sem ordem cronólogica aparente, que traz insights interessantes – as pessoas antigamente eram tão pequenas de fato? As roupas de Iris van Harper são pra usar ou serem vistas, moda, arte ou tecnologia? Quem faz um vestido, o estilista ou a pessoa que o usa? 

Confira algumas das curiosidades e, se tiver com viagem marcada à Nova York, programa-se para conferir in loco – a exposição vai até dia 2 de setembro, o ingresso custa US$ 30 dólares (com acesso a todo museu) e é preciso agendar horário. 

O começo de Sleeping beauties Reawakening Fashion

Não é uma peça de roupa que dá boas-vindas aos visitantes, mas, sim, uma obra de Constantin Brancusi, um dos principais nomes da vanguarda das artes do século 20. Criada em 1910, The Sleeping Muse é uma escultura feita em bronze, que faz parte de uma série de seis peças feitas a partir de um original em mármore – curiosamente, a peça serviu de inspiração para um autorretrato da nossa Tarsila do Amaral. No contexto expográfico, ela é uma espécie de portal para esse mundo do sonho, onde tudo é possível.

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Vestido de baile, Charles Frederick Worth, circa 1887 Foto: Renata Piza


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As raridades

No quesito valor histórico, é impossível não se agarrar ao vestido elizabetano de Charles Frederick Worth, a.k.a pai da moda como a conhecemos. O inglês é reconhecido como a pedra fundante da alta-costura, uma vez que, além das suas criações feitas à mão e nos melhores materiais, foi o primeiro a entender o poder do marketing e colocar seu nome numa etiqueta. Fez ainda desfiles, conquistou a imperatriz Eugenia, esposa de Napoleão III, e, de quebra, a alta sociedade parisiense. No seu ápice, chegou a empregar 1200 pessoas. Em Sleeping Beauties Reawakening Fashion, ganha vida seu vestido de gala de 1887 – além do exemplar original, deitado em berço esplêndido e protegido por vidro, há uma versão feita digitalmente que recria as cores certas do tecido (confira no vídeo). Outras grandes casas também estão representadas: há originais de Elsa Schiaparelli, Lanvin e Charles James.

 

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Vestido, Lanvin Foto: Renata Piza

Os sonhos

Elementos lúdicos estão por todos os lados da mostra. Sereias e fundo do mar pautam seções inteiras, vestidos carregam jardins interiores (Undercover), conversas impossíveis se fazem presente – há um diálogo imaginário entre capas de séculos passados e uma de Alessandro Michele para a Gucci, peças de Charles Frederick Worth e Dries van Noten, postas lado a lado, vestidos florais de Nina Ricci (1958) e Loewe (2023); há alta-costura da Dior em versão miniatura e cobras subindo em vestidos, graças às ativações multimídias criadas pelo SHOWstudio, de Nick Knight, um dos maiores fotógrafos de moda vivos.

 

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Capa, Alessandro Michele para Gucci, inverno 2018 Foto: Renata Piza

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Minime! Dior por Raf Simons Foto: Renata Piza

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Roube, mas roube como um artista

No livro Steal like an artist, Austin Kleon fala sobre o processo de criação e das influências que temos na vida. Não se trata de plágio, claro. Trata-se de desdobrar referências em novas obras. É isso que vemos, por exemplo, no trabalho de Alexander McQueen, inspirado em Os pássaros, de Alfred Hitchcock, ou na jaqueta Van Goghiana de Yves Saint Laurent. Parênteses: a natureza é a grande condutora de Sleeping Beauties Reawakening Fashion. De insetos a flores, terra, água e ar inspiram estilistas e designers. 

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Jaqueta, Alexander McQueen, verão 1995 Foto: Renata Piza

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Olivia Cheng - há uma seção inteira dedicada a besouros! Foto: Renata Piza

 

Marketing 

Voltando para o começo, quando Charles F. Worth fez a mágica do logo acontecer, a exposição do Met dá destaque para algumas peças da Loewe, sem dúvida uma das marcas contemporâneas mais potentes, mas também uma das patrocinadoras da mostra de moda do ano: além do casaco-vivo, desfilado em 2022, tudo termina em uma pop-up store da marca, montada em pleno museu, e repleta de itens-desejo atuais. Com algumas centenas de dólares, é possível levar para casa perfumes, velas ou as incensadas bolsas de palha, entre outros itens ready-to-go.

 

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Casaco Loewe Foto: Renata Piza

 

Musas

O vestido de noiva “the mermaid bride” prova que roupa desperta é roupa que ganhou viva no corpo de alguém. Feito pela Callot Souers, uma das principais casas de moda dos anos 1920 e 30, mas que praticamente caiu no esquecimento, ele é notório pela sua dona: a socialite nova-iorquina Natalie Potter o usou em seu casamento com o financista William Conkling Ladd, em 4 de dezembro de 1930, e o eternizou em um clique de Adolf de Meyer para a revista Harper’s Bazaar de janeiro do ano seguinte.  

 

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The Mermaid Bride Foto: Renata Piza

 

 

 

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