Misci, inverno 2026

Com desfile no cinema, a Misci transforma o figurino em roupa.


Misci inverno 2026
Misci, inverno 2026. Foto: Zé Takahashi/Agência Fotosite



A principal novidade – e talvez a maior qualidade – do desfile de inverno 2026 da Misci é que ele não pretende contar uma história, mas criar uma imagem. Não por acaso, a apresentação começa com um trailer de um filme fictício chamado A dama do interior.

A produção é apoiada e realizada pela produtora The Youth. Os protagonistas são os atores Débora Nascimento, Dan Ferreira e o próprio diretor criativo e fundador da marca, Airon Martin. A sinopse é a seguinte: uma mulher volta à sua cidade natal, causando alvoroço na população local e reacendendo paixões e disputas de um triângulo amoroso.

Como é um trailer, ninguém sabe ao certo o que acontece, como, nem por quê. É só uma sugestão sedutora e misteriosa. As roupas vão pelo mesmo caminho. Sem um tema específico ao qual precisam se adaptar, elas parecem mais livres, leves e abertas à interpretação. Não são um figurino – são elementos de uma construção de imagem.

Misci inverno 2026

Misci, inverno 2026. Foto: Zé Takahashi/Agência Fotosite

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Misci, inverno 2026. Foto: Zé Takahashi/Agência Fotosite

Misci inverno 2026

Misci, inverno 2026. Foto: Zé Takahashi/Agência Fotosite

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E que roupas são essas? Em sua maioria, são peças feitas com técnicas de alfaiataria – agora com acabamento e corte melhorados. A escolha dos tecidos também é acertada: eles vão dos mais leves a tramas mais pesadas. O aspecto artesanal e o próprio feito à mão, qualidades importantes na Misci, aparecem equilibrados com as outras frentes.

Airon costuma complicar demais suas criações, mas, desta vez, rolou alguma consideração. Os experimentos com formas e construção não comprometem tanto o caimento nem a vestibilidade. As peças não são exatamente simples – e talvez nunca sejam. Vai sempre ter uma dobra, uma volta, um transpassado, um recorte. Faz parte da identidade da marca. Dá para melhorar? Sempre dá. Mas um passo de cada vez.

A parceria criativa com o arquiteto Isay Weinfeld com certeza ajudou no processo de apuração e refinamento. Eles se conheceram sem compromissos profissionais. Havia um sentimento mútuo de aproximação estética. Depois do encontro, Isay teve a ideia de um filme – o que de fato rolou –, mas Airon achou que dava para ir além. No fim, toda a nova coleção é fruto dessa colaboração.

Misci inverno 2026

Misci, inverno 2026. Foto: Zé Takahashi/Agência Fotosite

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Misci, inverno 2026. Foto: Zé Takahashi/Agência Fotosite

Misci inverno 2026

Misci, inverno 2026. Foto: Zé Takahashi/Agência Fotosite

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No desfile, há referências diretas ao trabalho do arquiteto – as cores (em especial o amarelo), as formas espiraladas e os contrastes de materiais e texturas – e outras menos óbvias, como a comunicação por meio de construções pouco literais e mais sensoriais. Antes de se consagrar na arquitetura, Isay se aventurou pelo cinema e pela dramaturgia – junto ao colega de profissão Marcio Kogan, dirigiu Fogo e paixão (1988), estrelado por Fernanda Montenegro e Rita Lee. A cenografia teatral, desde então, exerce papel fundamental em sua obra.

Durante um preview, Airon não tinha um roteiro para explicar sua coleção de inverno 2026. A narrativa – que lembra bastante as histórias de apresentações anteriores da grife – era a do filme. A exibição aconteceu no Cine Marabá, no centro de São Paulo. Depois dos “reclames comerciais”, a estilista Lenny Niemeyer aparece para advertir que é proibido fumar na sala de cinema. Começa o trailer e, na sequência, a cena é de uma modelo saindo de um carro, posando no tapete vermelho e caminhando rumo ao espaço onde estávamos. Só deu para entender que era ao vivo quando o fotógrafo Marcelo Soubhia, veterano na cobertura de desfiles, apareceu ao fundo.

Sim, já fizeram isso antes, mas até aí…

Misci inverno 2026

Misci, inverno 2026. Foto: Zé Takahashi/Agência Fotosite

Misci inverno 2026

Misci, inverno 2026. Foto: Zé Takahashi/Agência Fotosite

Misci inverno 2026

Misci, inverno 2026. Foto: Zé Takahashi/Agência Fotosite

Na passarela, o figurino vira roupa. Assim, pela primeira vez, a Misci mostra um estilo menos forçado. O bloco inicial, com combinações de tecidos planos e recortes de estampas, expressa aquela ideia de brasilidade, tão a cara da marca, de um jeito fresco, sem depender de qualquer elucubração visual. Os tops e vestidos de crochê com placas de metal – uma versão melhorada da sensualidade descarada e debochada dos primeiros desfiles – vão pelo mesmo caminho.

De imagem e comunicação, Airon sempre entendeu. Agora, começa a aplicar tais conhecimentos em um produto mais bem trabalhado, pensado e posicionado. Bom sinal.

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