Misci, verão 2026
Airon Martin mostra o potencial do novo ateliê de costura de sua Misci em coleção que destaca a alfaiataria e acabamentos manuais.

Quando a Misci surgiu, lá em 2018, Airon Martin tinha vontades de sobra e recursos de menos. Sete anos depois, as ambições não diminuíram. Já os meios para concretizá-las, estes aumentaram um tanto.
O exemplo mais recente é o verão 2026, apresentado no prédio da Fundação Bienal, em São Paulo. Estão lá todos os códigos essenciais à identidade da marca – os recortes, as assimetrias, os símbolos de brasilidade, os materiais ambiental e socialmente responsáveis, o artesanato, as colaborações (destaque para as estampas do artista Elian Almeida) –, porém melhor executados e acabados.
O masculino se sobressai mais uma vez. Foi ali que tudo começou e é onde o Airon parece mais confortável e autêntico. Continuam presentes as referências aos anos 1970 na silhueta, na cartela de cores e na oferta de produtos, porém de maneira menos óbvia.
Misci, verão 2026. Foto: Zé Takahashi

Misci, verão 2026. Foto: Zé Takahashi

Misci, verão 2026. Foto: Zé Takahashi
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Há um certo frescor no corte geométrico e alongado da alfaiataria. A proporção menos over, levemente próxima ao corpo, traz uma sensualidade diferente para o homem da Misci. É um bem-vindo distanciamento de clichês e fórmulas batidas na composição dos looks – contribuição valiosa da stylist Renata Corrêa.
No feminino, existe uma complexidade desnecessária na construção. Volumes abaloados, estruturas transpassadas e recortes mal posicionados atrapalham o caimento e, às vezes, até a movimentação. Os pontos altos são os mais controlados (ou quase).
Misci, verão 2026. Foto: Zé Takahashi
Misci, verão 2026. Foto: Zé Takahashi

Misci, verão 2026. Foto: Zé Takahashi
De novidades, as jaquetas de corte quadrado, os conjuntos de blazer com calça de cintura baixa (tipo caída mesmo) e blusa de seda ou tricô justinho entregam uma imagem madura (e ainda superjovem), totalmente alinhada ao estilo da marca.
Essas peças podem até parecer simples, mas, na real, são bastante complexas de se fazer. É difícil encontrar no mercado uma boa camisa, um bom casaco, uma boa calça. Desde o desfile anterior, em outubro passado, Airon dá sinais de que esse é um segmento no qual gostaria de investir – e poderia o fazer de maneira mais descomplicada e objetiva, mas isso é opinião 100% minha.
Misci, verão 2026. Foto: Zé Takahashi

Misci, verão 2026. Foto: Zé Takahashi

Misci, verão 2026. Foto: Zé Takahashi
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No fim de 2024, a Misci montou seu primeiro ateliê de costura. Até então, as roupas eram produzidas por parceiros. É um modelo de negócio comum e com boas vantagens financeiras para empresas de pequeno e médio porte. O ônus é a limitação criativa. É difícil convencer um fornecedor a produzir em pequeníssima escala uma peça mais elaborada, com baixa viabilidade comercial. Uma estrutura interna garante mais autonomia e controle sobre a produção, além de possibilitar a venda daqueles itens em tiragem limitada.
Nem tudo o que cruzou a passarela é criação exclusiva do ateliê. Boa parte foi apenas finalizada lá. Só alguns itens especiais foram feitos de cabo a rabo pelas costureiras e modelistas da casa. A ideia, daqui para frente, é que esse tipo de peça seja mais numeroso e frequente.
Misci, verão 2026. Foto: Zé Takahashi

Misci, verão 2026. Foto: Zé Takahashi

Misci, verão 2026. Foto: Zé Takahashi
A Misci é uma marca que nasceu em tempos digitais. Fama e reconhecimento vieram antes da roupa (sem nenhum juízo de valor). Numa noite de quinta-feira, com chuvas torrenciais, reunir Erika Hilton, Seu Jorge, Luciana Gimenez, Roberta Miranda, Dudu Bertholini, Sasha Meneghel, Mariana Ximenes, Bianca Exótica, Pedro Waddington, entre muitos outros, não é pouca coisa. Há tempos não se via uma primeira fila tão estrelada.
Com público cativo, identidade definida, estrutura consolidada e parcerias fortes, tem oportunidade de sobra para deixar o produto falar por si só. Ah, essa coleção foi inspirada em Tieta do Agreste.
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