Paris Fashion Week: Alexander McQueen, verão 2025

Esta temporada de moda de Paris fica marcada pela segunda coleção de dois novos estilistas em grandes casas: a celebrada Chemena Kamali, na Chloé, e o polêmico Seán McGirr, na Alexander McQueen. A maior crítica ao diretor criativo na primeira coleção, apresentada em março de 2024, foi a falta de emoção e subversão de Lee Alexander McQueen e do requinte técnico de Sarah Burton, que liderou a etiqueta por 13 anos depois da morte de seu fundador, em 2010.

No desfile de verão 2025 da marca, que rolou neste sábado (28.09), há alguns resgates dos shows mais emblemáticos da história da label, agora em versão mais suave. Alguns saltos parecem os do verão 1999, em que Shalom Harlow era pintada por robôs automotivos enquanto girava em uma plataforma. Já o corset que vai até metade do quadril nos lembra o verão 2005, quando a passarela foi transformada em um jogo de xadrez. A Bumster Trouser, calça de cintura tão baixa que deixava o cofrinho à mostra do desfile de estreia, em 1993, aparece mais comportada, mais facilmente assimilável e, por isso, mais comum.

Alexander McQueen, verão 2025. Foto: Divulgação

Seán McGirr disse ter se inspirado na banshee, uma espécie de fada da mitologia celta e irlandesa que vaga pela noite chorando. Góticas e obscuras, reza a lenda que elas são mensageiras da morte. Lee McQueen usou o mesmo ser mitológico como ponto de partida para seu inverno 1994, que, assim como esta coleção de verão 2025, teve maxivestidos de tule, tops de renda e looks cobertos de paetês brilhantes.

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Nós já falamos por aqui como as grandes casas de luxo estão vivendo de reinterpretação de códigos de outrora em versões adaptadas para a atualidade. O ponto é que é impossível emular o sentimento de ineditismo e de subversão de Alexander McQueen apenas recriando alguns de seus clássicos. A genialidade de cada coleção apresentada pelo fundador vêm de um lugar íntimo, obscuro, sujo até. São emoções transformadas em arte, em roupa, em novidade. É isso que o colocou na lista dos criadores mais importantes da história e o que ainda não apareceu com consistência na moda proposta pelo atual diretor criativo: um ponto de vista, uma voz.

Alexander McQueen, verão 2025. Foto: Divulgação

A estilista Sarah Burton, por sua vez, foi pelo caminho do rigor técnico, do absurdo da manualidade. Sabia o quanto isso também era parte essencial do trabalho de seu amigo, de quem foi braço direito por 14 anos. Se, na primeira coleção, Seán foi mais ousado, com os sapatos pata de cavalo e os vestidos rígidos impressos em 3D, dessa vez ele focou numa alternativa mais parecida com o de sua antecessora.

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Há, sim, uma alfaiataria um pouco mais acertada do que a apresentada no inverno 2024, como nos conjuntinhos com vãos cercados por frufrus e nas golas decoradas com rendas que lembram penas. Mas ainda falta, principalmente, alma. A última modelo, que entrou de pés descalços e um vestido assimétrico brilhante com o rosto coberto, simbolizando a fada que inspira a coleção, é uma imagem forte, mas que não segura, sozinha, o resto do desfile.

O trabalho de continuar o legado de Alexander McQueen é árduo, principalmente em se tratando de uma marca tão querida e reverenciada pela indústria e pelos amantes de moda. Reinterpretar seus códigos em versões diluídas pode ser um caminho possível. Mas é a característica provocativa tão inerente ao trabalho do estilista do qual a marca leva o nome que ainda falta.