Paris Fashion Week: Balenciaga, verão 2025
Para Demna, diretor de criação Balenciaga, moda não é sinônimo de beleza nem de perfeição.
O desfile de verão 2025 da Balenciaga, nesta segunda-feira (30.09), começou com uma série de looks de lingerie. Corpo para jogo, pele à mostra, pouca roupa e muito underwear são algumas das principais tendências da temporada. Embora seja uma das mais influentes e relevantes do mercado, a marca não é das que entram no jogo à la Maria-vai-com-as-outras. Em outras palavras, a interpretação de Demna, o atual diretor de criação da casa, é um tanto diferente.
Aqui, o boudoir não está exatamente na peça debaixo. Calcinhas, hot pants, sutiãs, bustiês e cintas-ligas são aplicados ou bordados sobre segundas-peles tipo meia-calça. Sua estética, como se sabe, não é das mais perfeitinhas ou tradicionalmente belas. Pelo contrário. Sua intenção é – e sempre foi – causar certa estranheza, algum incômodo através da imagem.
Exemplos são a falsa nudez ou sua exposição literal (mais presentes nos homens do que nas mulheres), os visuais aparentemente banais e a subversão de itens e materiais cotidianos: os jeans de cintura baixíssima (só para eles), as camisas polo justinhas, os moletons, os tênis, as referências esportivas.
Balenciaga, verão 2025 Foto: Getty Images
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Nesta estação, Demna dá continuidade às experimentações híbridas que juntam vários itens em um só, como nos casacos com várias mangas, ou quando essas servem para marcar a cintura de alguns vestidos. Tem até jaquetas com golas e lapelas de denim.
O olhar obcecado pelo passado, pelos arquivos, também é diferenciado. É menos obsessivo e impessoal. Sim, há toda uma atenção e respeito pelo que já veio antes – em especial as silhuetas casulo, agora trabalhadas em suéteres e jaquetas bomber ou puff –, mas não para por aí. A herança da grife é combinada com as memórias e vivências do estilista de maneira menos calculada e óbvia.
O release da coleção era uma imagem de uma folha de anotação amarela, com texto escrito à mão com uma caneta azul. Nele, Demna conta que suas primeiras memórias de moda são dele desenhando looks em cartolinas e fazendo desfiles na mesa da cozinha de sua avó. O ponto de partida ajuda a entender a rigidez de alguns looks, as fitas ou tiras nas costas de muitos itens e as construções meio que de encaixe de algumas roupas – os tops do final são presos na lateral do corpo.
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Depois da estreia de Alessandro Michele na Valentino, vai ter muita gente falando sobre a insistência ou recorrência de um mesmo estilo. Faz parte do jogo da moda. Aliás, é essencial na disputa pelos melhores lugares do pódio. A comparação é compreensível, mas requer cuidado. São criadores e marcas distintas, com propostas e públicos diferentes. Gostos à parte, o importante é entender como cada uma daquelas estéticas aponta, incita – ou não – alguma mudança de pensamento, de estética e até de vestimenta.
De novo, é um assunto delicado, cheio de camadas e agentes. E aí, vai da disposição de cada um. Abraçar a beleza em seu estado convencional ou excepcional.
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