SPFW N60: Flavia Aranha
Flavia Aranha retorna à SPFW mostrando extensa pesquisa de materiais e possibilidades têxteis sustentáveis.
O processo de desenvolvimento das coleções de Flavia Aranha foge do caminho tradicional seguido por muitos de seus colegas. Enquanto alguns partem de uma inspiração ou narrativa específica, a designer começa por processos e tecnologias sustentáveis que descobre em suas pesquisas. Se antes eles eram o ponto de partida das roupas, agora eles ajudam a traçar a nova fase da etiqueta.

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite
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A marca desfilou somente uma vez, na 47ª edição da SPFW, em 2019. Nesses últimos seis anos, muita coisa mudou: a designer teve um filho e se mudou para Paraty, no Rio de Janeiro. Passou a viver na floresta, como ela mesmo descreve, e precisou repensar o futuro da grife.
Antes do desfile, Flavia explica que sua marca está passando por uma reestruturação. Agora, ela pretende investir em novas possibilidades têxteis, escalar essa produção e vender estes materiais para outras empresas e confecções. Ela acredita ser essa a sua vocação.

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite
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Um dos destaques deste novo momento fica para a fibra amazônica da malva, um tecido que lembra a juta. Aqui, ele se transforma em vestidos tomara que caia, blazers com detalhes nas costas e calças estilo aladin. O toque das peças ainda é rústico, mas essa é a primeira etapa de um projeto ambicioso da marca: transformar o material em um “linho nativo brasileiro”. Segundo Flavia, a equipe já pesquisa o maquinário para viabilizar esse processo.
A designer conta também que sentia falta de conceber uma imagem de moda que servisse como canvas para todas essas experimentações. E é nesse aspecto que ela se destaca. Não é necessário conhecer seus bastidores para desejar as roupas de Flavia Aranha. A oferta é ampla e sintonizada com a tendência de leveza e movimento observada na última temporada.

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite
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Há capas de chuva e conjuntos de bermuda e camisetão de seda cobertos por um látex amazônico fininho feito em parceria com a marca Da Tribu. As bolsas de babados são produzidas de couro de micélio da startup de biotecnologia brasileira Mush. Os tops com decote reto são criados a partir de um tecido botânico que mistura algas e fios de algodão, criado pelo designer colombiano David Cabra, da empresa Off Matter. O vestido sem alças e a camiseta oversized são inteiramente bordadas com sementes de açaí, paxiubão e tiririca coletadas por um grupo de mulheres amazonenses, enquanto as pinturas à mão são feitas pelo artista indígena Xadalu Tupã Jekupé. Já os saltos arredondados dos sapatos vieram da Marchetaria do Acre.
Além de todas estas parcerias, vimos slip dresses transparentes, vestidos drapeados, conjuntos de top e calças franzidas e até longos franjados feitos com os retalhos de todos os tecidos da coleção.

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite
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Nas roupas, Flavia estende sua pesquisa de tingimentos botânicos, aqui feitos com Araucária, Clitória, Crajiru, Chá Preto e Cebola Roxa, entre outros. Algumas dessas plantas criam desenhos sutis, como o Urucum em seda que decora vestidos transparentes e fluídos. Tons de azul, menos comuns quando o assunto é pigmentação natural, vêm do índigo produzido no assentamento do MST Milton Santos, no Pará. Já os lilases e verdes foram desenvolvidos em parceria com a AIPER, empresa brasileira especializada em corantes bacterianos.
São dezenas de parcerias construídas ao longo dos 16 anos da marca que, quando chegam às suas mãos, se transformam em uma coleção surpreendentemente coesa. “Com esta apresentação, quis refletir sobre o que a moda foi, é e ainda será. Aquilo que muitos consideraram uma tendência passageira é, na verdade, o cerne do meu trabalho.”

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite

Flavia Aranha, verão 2026. Foto: Ze Takahashi/Agência Fotosite
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