Mostra reflete sobre a ancestralidade africana e seu impacto na arte do Brasil e dos EUA
Com criações de 74 artistas plásticos, a exposição “Ancestral: Afro-Américas” se debruça sobre a diáspora africana e os saberes ancestrais e como eles se manifestam em obras de arte do Brasil e dos Estados Unidos.
Uma pintura de cores vibrantes de Heloisa Hariadne encontra um quadro de tons fluorescentes de Caroline Kent. A escultura metálica de um homem negro com cera escorrendo pelas mãos, de Melvin Edwards, avizinha a máscara de ferro de Jayme Figura. A instalação em forma de globo de Andrea Chung, com representação de um céu estrelado e o mar, aproxima-se de um barco a vela de Davi de Jesus do Nascimento.
Esses encontros entre artistas visuais afro-brasileiros e afro-americanos contemporâneos fazem parte da exposição Ancestral: Afro-Américas – Estados Unidos e Brasil, aberta na terça (29.10), no Museu de Arte Brasileira na Fundação Armando Alvares Penteado (MAB -FAAP). O evento faz parte de programação que celebra o bicentenário das relações diplomáticas entre os países e, a partir de 2025, será transportado para cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Salvador.
No primeiro plano, escultura do artista plástico Melvin Edwards e máscara de Jayme Figura pendurada ao fundo. Foto: Carolina Quintanilha
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Com curadoria de Ana Beatriz Almeida e Lauren Haynes, além da direção artística de Marcello Dantas, Ancestral conta com 134 obras de 74 artistas, como esculturas, pinturas e instalações, distribuídas em três núcleos: corpo, sonho e espaço.
A ideia da exposição é valorizar o conceito de identidade afro ao olhar para a produção artística nesses dois países marcados pelo passado escravocrata. A mostra também fala sobre o impacto e a relevância das raízes africanas ancestrais na formação dos artistas participantes, além de seus contextos sociais.
Foto: Carolina Quintanilha
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Ao chegar ao edifício da FAAP, o visitante poderá escolher em qual das duas entradas disponíveis iniciar a sua trajetória. Segundo o programa curatorial, esse é um convite para experimentar a ancestralidade como um caminho que parte de diferentes pontos de vista: presente ou futuro, Norte ou Sul, esquerda ou direita.
“Na parte Corpo, trazemos muito a memória do imigrante. Temos Carlos Martiel, com uma fotografia dele com a bandeira dos Estados Unidos, e ele é um artista imigrante cubano que habita no país. Tem o Jaime Lauriano, que vai falar sobre territorialidade, então, é como essa questão do território perpassa a experiência negra”, disse a curadora, historiadora e artista Ana Beatriz Almeida.
Por dentro de obra da artista plástica Andrea Chung. Foto: Carolina Quintanilha
Ela também explica que a mostra busca apresentar obras de arte que despertem lugares sensoriais que não estamos acostumados a acessar. “Porque estamos dialogando com filosofias que não estão dentro do campo de conhecimento europeu, não estão dentro do campo da lógica cartesiana”, explica. “Quando pegamos uma Simone Leigh e colocamos na frente do Mestre Didi, entendemos que tem uma relação muito clara ali, muito cuidadosa, com a noção do invisível.”
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Na exposição, a artista plástica nascida em Chicago apresenta uma escultura nova, parte de seu acervo pessoal, chamada Las Meninas. Trata-se de uma figura de corpo feminino rodado por palha e com rosto cravejado por porcelanas de formato similar a pequenas conchas. Ela foi posicionada entre esculturas do artista baiano Mestre Didi (1919-2013), feitas de palmeira, couro, búzios e contas. Em seu trabalho, o também líder espiritual e escritor debruçou-se sobre a religiosidade e a cultura afro-brasileiras.
Foto: Carolina Quintanilha
No percurso, aparecem ainda obras de Abdias do Nascimento, Sonia Gomes e Rosana Paulino. Outros destaques são uma videoinstalação inédita e interativa da maranhense Gê Viana e imagens criadas pela artista baiana Mayara Ferrão, que utiliza a inteligência artificial para pensar sobre possíveis cenas de afeto entre pessoas negras e indígenas invisibilizadas pela história.
Ancestral: Afro-Américas – Estados Unidos e Brasil: até 26 de janeiro de 2025, no MAB – FAAP, na Rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo. De terça a domingo, das 10h às 18h. Entrada gratuita.
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