Bienal de Veneza tenta preencher lacunas na história da arquitetura

A curadora Lesley Lokko fala sobre a importância da África e da diáspora africana na mostra.


Kwaeε instalação da 18 Bienal de arquitetura de veneza
Instalação Kwaeε, do arquiteto britânico-ganês David Adjaye. Foto: Andrea Avezzù/Cortesia Bienal de Veneza



Intitulada Laboratório do Futuro e com curadoria da arquiteta e escritora de fama mundial, Lesley Lokko, a 18ª Bienal de Arquitetura de Veneza, inaugurada no dia 20 de maio, deve entrar para a história pelo olhar voltado para a cultura africana. “Pela primeira vez, os holofotes iluminam a África e a diáspora africana, aquela cultura fluida e emaranhada de afrodescendentes espalhados pelo globo. O que queremos dizer? Como o que dissermos mudará alguma coisa?”, pergunta Lokko.

Os dados estão lançados: a história da arquitetura não será mais a mesma. “A voz dominante tem sido historicamente uma voz singular e exclusiva, cujo alcance e poder ignoram grandes áreas da humanidade – financeiras, criativas, conceituais. A história da arquitetura é, portanto, incompleta. Não errada, mas incompleta. É neste contexto que as exposições importam”, enfatiza.

Lesley Lokko, curadora da 18 Bienal de arquitetura de Veneza

A curadora Lesley Lokko: holofotes voltados para a África. Foto: Andrea Avezzù/Cortesia Bienal de Veneza

Os dados falam por si. Dos 89 participantes do Laboratório do Futuro, mais da metade são da África ou da diáspora africana. O balanço de gênero é equilibrado e a idade média dos participantes é de 43 anos, caindo para 37 nos projetos especiais, e 70% dos participantes são indivíduos ou grupos pequenos.

Números à parte, Lokko deixa clara a importância da prática arquitetônica. No centro de todos os projetos está a primazia e a potência de uma ferramenta: a imaginação. Segundo a curadora, é impossível construir um mundo melhor se não se pode imaginá-lo. “Nós, arquitetos, temos uma oportunidade única de propor ideias ambiciosas e criativas, que nos ajudem a imaginar um futuro comum mais otimista e igualitário”, diz.

Ambiente da 18ª Bienal de arquitetura de veneza

Um dos ambientes da Bienal. Foto: Marco Zorzanello/Cortesia Bienal de Veneza

O Laboratório do Futuro começa no Pavilhão Central dos Giardini, onde foram reunidas 16 práticas que representam a produção arquitetônica africana. Em seguida, vem o complexo do Arsenale, onde os participantes da seção Ligações Perigosas convivem com os projetos especiais da curadoria. Já a mostra Convidados do Futuro explora os temas gêmeos da exposição: descolonização e descarbonização, fornecendo um vislumbre de futuras práticas e formas de ver e estar no mundo.

Para a curadora, a África e os pertencentes à diáspora africana podem oferecer a sabedoria e a imaginação de que tanto precisamos no momento atual. “Muito do que está acontecendo com o resto do mundo já aconteceu conosco”, declara Lokko. “Vamos trabalhar juntos para entender onde erramos até agora e como devemos enfrentar o futuro”. 

A 18ª Bienal de Arquitetura de Veneza fica em cartaz na cidade italiana até 26 de novembro.

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