Como vai ser o nosso lar nos próximos anos? 

Mais do que exibir a decoração do momento, as casas terão que ser mais sustentáveis, eficientes e incorporar do trabalho aos rituais de bem-estar.


Ilustração com nave e dorothy, dos jetson, cogumelos e uma casa com coração verde
Ilustração: Gustavo Balducci



O nosso lar é a nossa fortaleza. É onde podemos, enfim, nos despir das armaduras do dia a dia e relaxar depois de um dia de trabalho – ainda que, atualmente, o expediente possa ser dentro do mesmo imóvel. Porém, por mais que seja um porto seguro, as discussões da sociedade não ficam mais da porta para fora. Mudanças climáticas, eficiência, tecnologia e crise econômica são questões que influenciam nossas escolhas, desde a compra dos eletrodomésticos até o estilo da decoração. Confira a seguir algumas tendências que prometem mudar nosso jeito de morar nos próximos anos.

Poupe sua energia

No futuro próximo, uma expressão deve se tornar mais comum no vocabulário de quem gosta de coisas para a casa: eficiência energética, ou seja, o uso eficiente das fontes de energia. O termo já é bastante usado para eletrodomésticos, mas agora essa preocupação vai aparecer também na forma como planejamos uma uma residência. “Segundo uma pesquisa realizada pela (empresa de pesquisa de mercado) YouGov em 2022, 89% das pessoas acham importante comprar ou alugar uma casa com eficiência energética”, fala Giovanna Bedinelli, especialista em tendências na WGSN, consultoria de comportamento e tendências de consumo. 

Uma casa com boa eficiência energética mantém a temperatura agradável e coloca os itens em funcionamento sem precisar de um amplo uso de fontes de energia. “Existe a necessidade de facilitar o acesso para essa demanda pela energia solar, que finalmente se torna mais barata e passa a penetrar no mercado de massa”, diz Giovanna. 

É algo bom para o bolso e para o meio ambiente. Na Europa, essa é uma das principais frentes para tornar a região mais sustentável. Países como Portugal dão auxílio governamental para que cidadãos melhorem a eficiência energética de suas casas. 

Olho na água

Outra questão importante é a água consumida pela residência. Segundo Fernanda Cerávolo, diretora de conteúdo e criadores do Pinterest para a América Latina, a sustentabilidade é uma discussão bastante importante para os usuários da plataforma. “Além de buscar melhores alternativas para fora de casa, as pessoas estão em busca de ideias para dentro do lar – especialmente quando falamos do uso, da economia e da reutilização de água”, fala a profissional. Cisternas, maneiras de captar água das chuvas e melhora na distribuição fluvial das residências vão se tornar preocupações ainda mais importantes. 

Belos, agilizados e inteligentes

Uma pesquisa da consultoria Ilumeo revelou que o uso de assistentes virtuais acionados por comandos de voz, como Alexa e Google Home, aumentou 47% durante a pandemia no Brasil. Um estudo da Kantar, feito em parceria com o Google, mostrou, por sua vez, que 37% dos brasileiros usam o Google Home pelo menos três vezes por semana. Já não é (tão) esquisito chamar pela “Alexa” e falar “Ok, Google” sozinho em casa. 

Junto com esses dispositivos, lâmpadas inteligentes também são acessórios cada vez mais comuns nas casas. Porém a automatização dos nossos lares não deve parar por aí. De acordo com Giovanna Bedinelli, vai aumentar a demanda por sistemas de alarme capazes de distinguir donos da residência de intrusos, colchões que identificam nossos padrões de sono e até mesmo sistemas que avisam os moradores sobre adversidades climáticas, como inundações e terremotos. 

“A gente começa a enxergar também um movimento tecnológico em grande escala voltado à cozinha”, fala a consultora de tendências. “O consumidor de 2023 vai querer ter ferramentas dentro deste ambiente que consigam facilitar a preparação eficiente de alimentos saudáveis e a geração de menos resíduos.” Hoje já temos geladeiras inteligentes que identificam alimentos em falta, por exemplo. As inovações, aliás, também devem ser estéticas, com alternativas para ocultar a função de um objeto, diz Giovanna. Afinal, nada menos fotogênico do que um aparelho de ar-condicionado.

Mais do que bonita, a casa do futuro também será mais acessível. “Segundo o Banco Mundial, 15% da população mundial possui algum tipo de necessidade especial. Veremos designs mais inclusivos, como uma mesa projetada para acomodar cadeiras de rodas, a linha de tapeçaria Chromarama para pessoas daltônicas e cadeira OTO, feita para acolher pessoas com autismo em situações de sobrecarga sensorial”, complementa Bedinelli. 

Tudo ou nada

Do guarda-roupa para a casa: o dopamine dressing, ou seja, aquela tendência de usar looks coloridos e alegres para dar uma levantada no astral, também chega com força na decoração. No TikTok, a hashtag #BrightColors tem 36 milhões de visualizações, enquanto #colorblocking conta com 66 milhões. E não se trata só de colorir os ambientes. Weirdcore, móveis vintage integrados ao décor e a temática dos cogumelos, que pode aparecer na estampa de uma almofada, no formato de uma luminária ou até mesmo no papel de parede, são outros elementos que vão acabar com qualquer ameaça de tédio na decoração, prevê Fernanda Cerávolo, do Pinterest. 

Mas ainda há espaço para os mais minimalistas: o estilo escandinavo não deve ficar de lado. Como em 2018, quando essa estética começou a bombar, estamos passando por uma crise econômica, o que interfere nas escolhas de compra dos consumidores. “As pessoas querem encontrar longevidade nos itens, já que estão com o orçamento apertado”, afirma Giovanna Bedinelli, da WGSN.

Nessa toada, existe uma demanda por cores suaves, restauradoras e que passam confiança. “Vamos procurar formas de atualizar e aquecer nossas casas com baixo custo.” Capas para móveis, mantas e tecidos vão ficar ainda mais populares, assim como os conteúdos de “Faça você mesmo”. “Os DIYs e os tutoriais têm um papel fundamental para que os usuários possam experimentar”, diz Fernanda Cerávolo. 

Do trabalho ao relax

Segundo uma pesquisa feita pela Upwork, plataforma estadunidense de freelancers, 73% dos departamentos de trabalho terão funcionários que trabalharão de casa até 2028. Quer dizer, a Covid-19 deu uma trégua, assim como as medidas de proteção sanitária, mas isso não deve acabar com o home office. O escritório vai continuar tendo um espaço dentro das nossas casas. 

 

“O tamanho deve mudar. É normal que seja maior para quem trabalha diariamente de casa e menor para quem sai para trabalhar ou prefere ir ao escritório”, comenta Fernanda. A diferença é que, mais do que apenas uma escrivaninha encostada em um canto da sala, o home office deve ser mais bem delimitado por divisórias portáteis, além de ter outros aparatos para definir bem onde é local de trabalho e onde é local de descanso. Recursos integrados de armazenamento ou de absorção de som, mesas com anexos dobráveis e até fragrâncias funcionais que criam ambientações diferentes em cada cômodo são alguns dos exemplos citados por Fernanda, que podem ser incorporados a essa nova casa-escritório.

E, como não está fácil para ninguém, rituais de relaxamento e de autocuidado vão se tornar também muito importantes dentro do lar. Transformar o próprio banheiro em um spa deve se tornar algo cada vez mais comum, aponta Giovanna Bedinelli, da WGSN. Já o relatório Pinterest Predicts para 2023 mostrou que técnicas de alongamento e relaxamento do pescoço, por exemplo, devem ganhar a atenção dos usuários da plataforma. “As pessoas estão focadas em garantir que seu exterior – moda, casa, estilo de vida – combine com o interior. Depois de alguns anos tumultuados que as colocaram em contato com suas prioridades, elas buscam soluções alinhadas com seus valores”, afirma Fernanda Cerávolo.

      

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