Marrakech, a cidade vermelha

Construções terracota, jardins exuberantes, lojas coloridíssimas por tapetes e cerâmicas e novíssimos empreendimentos colocam Marrakech no radar de viajantes do mundo inteiro. 


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A medina de Marrakech: terracota dá o tom. Foto: Getty Images



Marrakech é um passeio para o olhar. Logo de início, o contraste entre duas cores leva os visitantes pela mão. O terracota das construções é a primeira coisa que atrai a atenção de quem acaba de desembarcar no moderno aeroporto de Menara. Assim como Barajas, em Madri, ele também tem seu projeto assinado. Nesse caso, pelo estúdio britânico E2 Architecture, que usou arabescos como referência para recobrir tetos e paredes, protegendo do sol e, ao mesmo tempo, fazendo um lindo jogo de sombras pelo piso.

Ao entrar na rodovia em direção ao centro, o visitante começa a desvendar a cidade pela sequência de construções em tons avermelhados e pelas palmeiras que vão surgindo pelo caminho. E quando os olhos se habituaram ao ocre, vem a surpresa do azul. 

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Não é um azul qualquer. Estamos falando de um tom cobalto cheio de energia, que tinge as construções do Jardin Majorelle. Para se encantar por Marrakech logo no primeiro dia comece por aqui. Criado no início do século passado pelo pintor francês Jacques Majorelle, o lugar está comemorando seu centenário em 2024 e reúne mais de 300 espécies de plantas exóticas do mundo inteiro, formando um cenário tropical idílico, repleto de buganvílias, cactos, lótus, agaves e nenúfares. 

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Jardin Majorelle: um sonho em azul. © Nicolas Matheus

Com a morte de Jacques, na década de 1960, Yves Saint Laurent e o companheiro Pierre Bergé assumiram o lugar, hoje mantido por uma fundação. Além de preservarem o jardim, eles deixaram outro legado, o Museu Pierre Bergé de Artes Berberes. Sob uma extraordinária ambientação, que imita um céu noturno estrelado, estão dispostas 400 peças de joalheria e vestuário do povo nômade que foram colecionadas pelo casal ao longo do tempo. 

Mas Majorelle não é o único oásis da cidade. Embora muita gente tenha a impressão de que Marrakech é árida, por conta do deserto, ela é bastante verde. Ao todo, há 67 jardins espalhados por uma área de 284 hectares. Um dos mais antigos do mundo, o Agdal Gardens, criado em no século 12, lembra os cultivados na Mesopotâmia e reúne vários canteiros interligados, com um laranjal e uma plantação de oliveiras. 

Juntas, essas zonas verdes cultivam cerca de 100 mil palmeiras, que garantem sombra e temperatura amena nos dias mais quentes. E, no horizonte da cidade, ainda é possível avistar as montanhas Atlas, a cordilheira que atravessa o Marrocos, a Argélia e a Tunísia e tem seus picos cobertos de neve (inclusive com estações de esqui) nos meses de inverno.

A poucos passos do Majorelle, fica o Museu Yves Saint Laurent (a outra unidade, onde funcionava o ateliê do estilista, está em Paris). YSL e Bergé eram profundamente apaixonados por Marrakech e revolveram fazer da cidade seu segundo lar. Nada mais justo do que reunir parte do acervo de Yves na cidade. 

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Peças históricas em exibição no museu YSL. Foto: Getty Images

A construção impressionante, com tijolos à vista, projetada pelo Studio Ko, acumula mais de 15 mil acessórios e 5 mil itens de vestuário, além de milhares de croquis que completam o material guardado na França. Um passeio fundamental para quem ama moda e decoração.

Dali, vale esticar a caminhada até o Dar el Bacha, ou Museu das Confluências. Impossível cruzar sua entrada e chegar ao belo pátio, com um jardim repleto de laranjeiras e fontes no centro e galerias adornadas por colunas nas laterais, sem dar um suspiro de admiração. É uma construção marroquina típica do século 18, erguida no formato de riad. A decoração das paredes traz azulejos coloridos e mosaicos feitos artesanalmente, além de entalhes de madeira. 

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Museu das Confluências, também conhecido como Dar el Bacha. Foto: ©Fondation Nationale des Musées

Se bater o cansaço, não pense duas vezes. Em um dos cantos, está instalado o Bacha Coffee. Quando foi inaugurado, em 1910, era pouco conhecido, um endereço secreto, cultivado pelos connaisseurs. Na carta, cafés artesanais, feitos com grãos raros e de proveniência controlada. 

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Bacha Coffee: cafezinho em grande estilo. Foto: Divulgação

Outro lugar fundamental para quem quer conhecer um pouco mais da arquitetura marroquina é a madrassa (ou medersa) Ben Youssef, uma escola islâmica do século 14 – a maior do norte da África e reconhecida pela Unesco como patrimônio mundial da humanidade. Não à toa. Os detalhes que decoram as paredes, arcos, colunas e tetos são impressionantes. Feita de arenito vermelho, quase rosado, a construção é referência da arquitetura local, com desenhos geométricos esculpidos em estuque e madeira, além dos tradicionais azulejos coloridos. No centro, a piscina que antigamente era usada pelos alunos para se lavar antes dos rituais e hoje é apenas decorativa.

A arte de negociar em Marrakech

Ir a Marrakech e não se deixar seduzir pelas compras é uma missão impossível. Perder-se no labirinto do souq, que fica dentro da medina (a cidade antiga, de 1070, toda murada) é um passeio fantástico. O colorido dos tapetes e cerâmicas, as peças de artesanato, as bolsas e sapatilhas típicas, a joalheria de influência berbere, o colorido dos temperos, o cheiro de couro curtido, o vai e vem dos moradores locais, as ruas intrincadas, com uma surpresa a cada esquina transpiram vida! Motos e charretes se misturam a moradores, turistas e vendedores negociando (nada tem preço, é preciso barganhar e eles amam essa dinâmica). 

Negociar é uma arte cultivada pelos marroquinos. A regra de ouro é: nunca feche pelo preço que te ofereceram. Sempre tem margem para baixar. Destaque para dois endereços: a ZL Gallery (Zaouiat Lahdar 18), com pilhas e pilhas de tapetes e objetos de arte (suba até o terraço e se encante com a vista dos telhados da medina a perder de vista enquanto saboreia um chá de hortelã preparado pela equipe da casa) e a House of Artisanat (12, Sidi abdelaziz), com lanternas e luminárias tradicionais – e lindíssimas. 

Ao terminar o dia, saia por um dos portais que dão acesso à praça Jemaa El-Fnaa, considerada patrimônio imaterial da humanidade. Encantadores de macacos e de serpentes, tatuadores, músicos, barraquinhas de comida fazem o lugar pulsar nos finais de tarde e são a grande atração para quem vai até lá curtir o pôr do sol.

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Moro Marrakech: design e vestuário. Foto: Divulgação

Para compras mais refinadas, três lojas merecem entrar no seu roteiro: a 33 Rue Majorelle e a Chabi Chic, ambas na rua Yves Saint Laurent, do outro lado da calçada do museu, e a Moro Marrakech, na esquina dela com a avenida Yaacoub El Mansour. As três são concept stores com objetos de decoração, vestuário e acessórios. A Moro é um pequeno complexo que reúne um pequeno hotel boutique, jardim com piscina, restaurante e a loja, com designers locais e criações do proprietário. A Tribaliste faz uma ótima curadoria de tapetes beberes e marroquinos.

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Tribaliste: tapetes do desejo. Foto: Divulgação

Arte

Compras feitas, a sugestão é um passeio por duas galerias que têm agitado a cidade. A primeira é a Comptoir des Mines. Instalada em um prédio art déco dos anos 1930, ela é conhecida pela programação sempre generosa de arte contemporânea, apresentando novos nomes e também artistas consagrados – uma referência na cidade.

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Obra do escultor Diadji Diop, na exposição Fraternité, na Comptoir des Mines. Foto: Divulgação

A segunda é o MO Studio, que fica em um galpão restaurado do Hotel Mandarin Oriental Marrakech. As exibições fazem um mix de arte e design e reúnem obras que oferecem uma experiência multidimensional, promovendo artistas locais e a cultura africana. É o caso da mostra atual, Noir sur Blanc, que discute o jogo entre opostos, caos e ordem. Assinada pelo Atelier Mayer, de Carmen Raid, em parceria com o arquiteto @idriesk, que revitalizou o espaço, a exposição tingiu o lugar com padrões geométricos em preto e branco.

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MO Studio. Foto: Divulgação

Mesmo que você não se hospede no Mandarin, não deixe de dar uma passada para ver a exposição ou programe-se para conhecer seus badaladíssimos restaurantes: o cantonês Ling Ling; o Shirvan, com cardápio inspirado na Rota da Seda; ou o mediterrâneo à beira da piscina. Para uma experiência de slow food, opte por um almoço na horta do hotel. Os hóspedes se sentam em uma mesa comunitária, sob um caramanchão no jardim, enquanto os chefs preparam os pratos com ingredientes, colhidos na horta à vista dos visitantes.

Depois do almoço longo, uma caminhada, um passeio de bike pelos jardins do hotel, que tem mais de 100 mil rosas de 30 variedades diferentes, oliveiras antigas e 54 villas (as sete suítes ficam no corpo principal da construção), em que é possível se hospedar com total privacidade – e mordomia: cada uma delas tem um jardim interno com piscina e jacuzzi, com sofás e chaises ao redor. Dentro, sala e quarto amplos e uma sala de banhos com outra hidromassagem, uma bancada de maquiagem e uma sauna no chuveiro. Tudo suavemente decorado com referências locais. 

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O único risco aqui é não querer mais ir embora. O projeto é do arquiteto Pascal Desprez e da dupla de designers franceses Gilles & Boissier, que também fez o spa, inspirado nas catedrais e mesquitas da Andaluzia. Afinal, Marrakech está a (menos de) um grau de separação de Madrid.

A diretora de conteúdo da ELLE Decoration Brasil Eliana Sanches viajou a convite da Turespaña e dos hotéis Mandarin Oriental Ritz Madrid e Mandarin Oriental Marrakech, com apoio do grupo BeFly.

 

 

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