10 bebidas para dar um up nos seus coquetéis

Vermutes, licores, amaros, aperitivos, vinhos quinados... É capaz de você até ter uma garrafa dessas em casa e nunca abriu por não saber o que fazer com ela. Vamos resolver isso já!


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Imagem: Jim Heimann Collection / Getty Images



Talvez você já tenha se impressionado com a dança de um bartender no balcão, misturando líquidos de garrafas coloridas e colocando na taça misturas cheias de aromas. De onde vem esse sabor mentolado? E o amarguinho no final do gole? Que louco, isso aqui parece ter um toque de anis…

Os destilados básicos que conhecemos – gim, uísque, cachaça, tequila – podem ser riquíssimos, dependendo de sua origem e de seus processos de elaboração. Na coquetelaria, porém, nem sempre são suficientes para entregar toda a complexidade que esperamos de um bom drinque.

Bebidas infusionadas com ervas, cascas, sementes, especiarias, frutas, flores e outros botânicos cheirosos têm um papel importante nessa jogada. Podem ser amargosos como os aperitivos e vinhos quinados de tradição europeia, bem equilibrados como os melhores vermutes ou até muito doces como certos licores, fundamentais no preparo de uma série de coquetéis clássicos ou autorais.

“Vermutes, licores, amaros e demais bebidas complementares são como articulações na coquetelaria. Ligam as bases destiladas aos demais ingredientes, como sucos, xaropes e até mesmo gelo. São responsáveis pelo equilíbrio entre as misturas de um drinque”, ensina o bartender Tom Oliveira, autor do projeto itinerante de coquetelaria Vitrus Pop Up, atualmente no Ludum Cozinha, de Florianópolis.

A maioria dessas bebidas são gostosas puras também. Sua tia talvez tivesse o costume – que se perdeu – de servir um vermutinho ou um aperitivo antes das refeições, para dar um lelê e abrir o apetite. Geladinhas, servidas em copinhos tipo shot ou em pequenas e mimosas taças, elas podem vir no começo ou no desfecho da festa.

Para facilitar a vida e as próximas compras no empório ou no supermercado, mostramos aqui como nascem, vivem, comportam-se e reproduzem-se ingredientes herbais clássicos, vários deles com história centenária. Comentamos, junto com Tom, alguns rótulos e categorias fundamentais, com dicas de como utilizá-los na coquetelaria.

Antes de aprender a lidar com esses elixires, uma regra básica: depois de abertos, guarde-os na geladeira, para evitar a oxidação e fazer com que os aromas das bebidas se mantenham firmes e frescos por mais tempo.

Carpano clássico e outros vermutes doces

Não há vida sem água e não há coquetelaria clássica sem vermute – ou boa parte dela. Imagine um mundo sem Negroni, Manhattan, Americano, Hanky Panky, Rabo de Galo ou Rob Roy. Metade da graça.

Vermutes são vinhos fortificados infusionados com ervas, cascas e especiarias. De acordo com a legislação europeia, devem conter a maceração de pelo menos uma erva da família Artemisia, sendo a mais corrente a Artemisa absinthium, conhecida por nós como losna. O vinho deve representar pelo menos 75% do produto final.

Hipócrates, pai da medicina, lá pelos 400 antes de Cristo, fazia seu vinho herbal e o recomendava a seus pacientes. Na Idade Média, no Condado de Sabóia (que compreendia o sudeste da França e o noroeste da Itália), o elixir virou moda e ganhou força comercial, para mais tarde, no século 19, deixar de pertencer à categoria medicinal e ser adotado como ingrediente fundamental de um sem número de coquetéis.

Carpano Classico é um dos rótulos mais populares de vermute tinto doce nos bares de coquetelaria, por garantir bom equilíbrio na maioria das receitas que pedem o ingrediente. Sabe aquele que não dá chabu? “É redondo, bastante honesto e entrega exatamente tudo o que se espera dele”, diz Tom Oliveira.

Há várias marcas recomendáveis, como outras da família Carpano, que firmou seu nome no final do século 18: o Punt e Mes (com toque balsâmico e final mais amargo) e o Carpano Antica Formula (luxuoso, frutado, aveludado, um vermutão). Rosso Antico, lançado em 1962, é outro italiano de gabarito, muito complexo, com pegada doce no começo do gole e um final de boca de amargor persistente. Um Manhattan (50 ml de bourbon, 30 ml de vermute e bitters) feito com ele é um elogio ao sabor. Outra opção interessante é o Vermouth Cocchi Storico di Torino, com toques cítricos, amargos e de especiarias.

Da Espanha, onde nos últimos anos houve um boom do consumo e da fabricação de vermutes, uma opção fundamental é o Vermut Fernando de Castilla, com base de Jerez, que traz as notas amendoadas e o caráter oxidado do vinho fortificado típico do sul do país – lindamente esquisitão. Do Brasil, uma novidade é o Vermute Circollo Rosso, da família APTK Spirits, do bartender Alê D’Agostino

Para quem quer conhecer as características do rótulo que acabou de comprar, Tom indica o preparo do Vermute Tônica, uma receita fácil e rápida Ou simplesmente vermute e água com gás, no copo longo, com muito gelo e uma rodelinha de limão. “Esses preparos simples abrem as notas do vermute, fazendo com que as características de uma boa bebida apareçam. Os defeitos dos vermutes de baixa qualidade certamente também serão realçados.”

Outra sugestão é o coquetel Old Hickory, um clássico luxuoso e esquecido, que pode revelar as potencialidades de bons vermutes – o doce e o seco (do qual falaremos na sequência).

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Carpano clássico: vermute tinto doce, sem erro.Foto: Divulgação

Old Hickory

Ingredientes

40 ml de vermute tinto doce
40 ml de vermute branco seco
2 lances de bitter Angostura

Modo de preparo

1. Misture todos os ingredientes no copo de misturas com gelo, com ajuda de uma colher de bar.

2. Coe para uma taça coupe previamente resfriada.

3. Torça uma casquinha de laranja sobre o coquetel e decore a taça com ela.

Noilly Prat, Dolin e os vermutes secos

Se a Itália tem fama pelos vermutes tintos e doces, a França é campeã dos brancos e secos, embora sejam produzidos os dois tipos em ambos os países e ao redor do planeta. Uma bebida seca, para quem não tem familiaridade com essas terminologias, contém pouco açúcar. Por isso, as características dos coquetéis feitos com os secos serão bem diferentes.

As marcas Noilly Prat e Dolin são bem difundidas mundialmente e entregam resultados semelhantes. “Ambos são muito bons e trazem notas vegetais muito interessantes. Dolin aparece em livros bem antigos de coquetelaria e Noilly Prat tornou-se bastante popular em versões contemporâneas de Dry Martini e outros coquetéis clássicos, como Cardinale e Old Pal”, informa Tom.

Carpano também tem uma boa versão branca e seca. Pode ir nele com fé, se não encontrar Dolin ou Noilly Prat, que às vezes somem das prateleiras brasileiras, mas acabam voltando.

A seguir, Tom ensina a preparar o Jalisco Cardinal, sua releitura de Cardinale (que já é uma releitura do Negroni), com tequila branca no lugar do gim.

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Noilly Prat: notas vegetais para incrementar coquetéis clássicos.Foto: Divulgação

Jalisco Cardinal

Ingredientes

30 ml de tequila prata
30 ml de vermute branco seco
30 ml de Campari

Modo de preparo

1. Mexa todos os ingredientes no copo de misturas com gelo, com ajuda da colher de bar.

2. Coe para um copo baixo com gelo grande.

3. Torça uma casca de laranja sobre o coquetel, para liberar seus aromas e decore o drinque com ela.

Cocchi americano x Lillet, os vinhos quinados

Vinhos quinados são compostos com quinino, extraído da casca da árvore cinchona, mesmo ingrediente que dá amargor à água tônica. Embora bastante antigos, os quinados voltaram a ser difundidos no Brasil há pouco tempo.

Lillet Blanc é uma marca francesa nascida em 1887 na região de Bordeaux. Foi originalmente batizada como Kina Lillet, o que quer dizer que sua primeira composição continha mais quinino do que encontramos na fórmula atual, que privilegia o dulçor. Muitos bartenders brasileiros animaram-se com sua chegada por aqui, no final de 2018, sobretudo para o preparo do Vesper Martini (gim, vodca e Lillet), drinque citado pelo escritor inglês Ian Fleming na aventura de 007 Casino Royale, de 1953. Foi um frisson nas barras.

Eis que agora temos em nossas prateleiras o Cocchi Americano, rival italiano do Lillet, em que a dose de quinino é acentuada e de fato aparece no paladar. Ele tem um dulçor de mel exuberante na primeira bicada, com final de amargor persistente – uma bebida muito louca, que entra de um jeito na boca e sai de outro. Foi criado em 1891 e diversos bartenders o defendem como substituto para o Lillet no preparo de coquetéis clássicos que pedem vinho quinado (inclusive o Vesper), pois evidencia a nota amarga. Aí vai do gosto. Se sua onda for doce, já sabe, Lillet é a pedida. Se quiser dulçor com amargor e complexidade, muna-se de Cocchi Americano. Ou de seu irmão Cocchi Rosa, produzido com vinho tinto, para coquetéis avermelhados e sedutores.

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Lillet e Cocchi Americano: mais doçura ou mais amargor, você escolhe.Fotos: Divulgação

Com os vinhos brancos quinados, é possível preparar uma infinidade de coquetéis. Tom gosta de apresentar uma versão rosé do Negroni, que chama de French Negroni.

French Negroni

Ingredientes

30 ml de gim
30 ml de vinho quinado (Cocchi Americano ou Lillet)
30 ml de Campari ou Bitter San Basile

Modo de preparo

1. Mexa todos os ingredientes no copo de misturas com gelo, com ajuda de uma colher de bar.

2. Coe para um copo baixo com gelo grande.

3. Torça uma casca de laranja sobre o coquetel, para liberar seus aromas, e decore o drinque com ela.

Amaro di Angostura e outros amaros

Amaros são bebidas igualmente maceradas com ervas, cascas, especiarias e coisa e tal. Só que a base alcoólica usada para extrair o perfume e o sabor de todos esses ingredientes é algum álcool neutro de cereais. Um dos mais famosos é o Campari. Sim, os italianos também são mestres na elaboração de amaros, o nome já indica, mas há concorrência em outros cantos do mundo.

Amaro di Angostura é novo na jogada, nasceu no Caribe do século 21 e pertence à família do bitter de mesmo nome que faz sucesso desde 1824 – as gotinhas aromáticas que temperam seu coquetel. É potente, com final picante, que pode dar aquela travada na garganta de quem faz sua primeira viagem por seu sabor. “Tem bastante textura e densidade e não deve nada às melhores receitas italianas”, comenta Tom.

Se é para falar de italianos clássicos, vamos de Amaro Montenegro, criado em 1885 com 40 botânicos, entre eles, cravo, canela, casca de laranja, manjerona, orégano e coentro. Uma farmacopeia. Para quem não quer tanta pauleira, há receitas mais amenas e adocicadas ou suaves, como as do Amaro Ramazzotti, do Amaro Luccano e do Averna. O Brasil também tem belos representantes: Amaro Stomatico, da San Basile, e Amaro Scarlatti, da APTK Spirits, com limão-siciliano, sálvia, alecrim, açafrão e outras ervas.

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Amaro di Angostura: marca caribenha já faz frente às italianas.Foto: Divulgação

Amaros são especiais quando se quer injetar amargor, toques herbáceos e outros borogodós aos coquetéis. Podem substituir os vermutes em diversos preparos clássicos. Tom Oliveira nos sugere o Black Inverse Manhattan, que aprendeu com o bartender Sam Ross.

Black Inverse Manhattan

Ingredientes

20 ml de bourbon
20 ml de rye whiskey
60 ml de Amaro di Angostura (ou seu amaro do coração)
2 gotas de bitter de chocolate

Modo de preparo

1. Mexa todos os ingredientes no copo de misturas com gelo, com ajuda de uma colher de bar.

2. Coe para uma taça coupe (ou martíni) previamente resfriada.

3. Decore com uma cereja amarena ou, se preferir, torça uma casca de laranja-baía sobre o coquetel.

P.S.: Se não houver rye (uísque de centeio), pode usar 40 ml de bourbon, que ninguém vai reclamar. Para preparar o Black Manhattan clássico, use a proporção 60 ml de bourbon para 30 ml de amaro.

Cynar

O aperitivo de alcachofra é outra grande contribuição italiana à beberagem mundial. Nasceu em 1952 e tornou-se um clássico dos botecos, com a florzona em fundo vermelho do rótulo, gritando na prateleira de fórmica.

Doce-amargo, Cynar é composto por 13 botânicos, com protagonismo do extrato das folhas de alcachofra, em companhia de canela, raízes amargas e casca de laranja. “Italiano de origem, mas também fabricado no Brasil, tornou-se um clássico da coquetelaria popular, por seu preço acessível. É também ótimo para ser consumido puro, com pedras de gelo”, diz Tom.

Bartenders adoram. Difícil estar num rolê com eles sem que alguém peça um Cynar Tônica, drinque rápido, fácil de fazer e de bom de preço. Ter sempre uma garrafa na geladeira é ideal para a hora do improviso, com tônica ou água com gás e, se quiser cortar um pouco do dulçor, um tiquinho de suco de limão. Quem não gosta de resolver a vida na base do low budget?

O aperitivo tem um irmão mais novo e mais chique, o Cynar 70, com o dobro de graduação alcoólica, o que o torna mais redondo e acentua as notas achocolatadas. Também mais caro, por ser importado da Itália. A San Basile Destilaria tem sua versão, batizada de Artichoke.

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Cynar: o aperitivo à base de alcachora é um dos favoritos dos bartenders.Foto: Divulgação

Cynar é essencial no preparo do Rabo de Galo, rei dos coquetéis de botecos brasileiros. Experimente a proporção 60 ml de cachaça, 20 ml de vermute tinto, 10 ml de Cynar e algumas gotas de bitter, tudo mexido no copo de misturas e servido no copo baixo com gelo. Para quem prefere algo menos alcoólico e mais refrescante, Tom indica o Basilico, drinque no estilo highball, que criou para o restaurante Fogão Gastronomia, de Florianópolis.

Basilico

Ingredientes

40 ml de Cynar
20 ml de vermute tinto
150 ml de ginger ale

Modo de preparo

1. No copo alto, com gelo até a boca, despeje o Cynar e o vermute.

2. Acrescente delicadamente o refrigerante de gengibre até completar e mexa suavemente com ajuda de uma colher de bar.

3. Decore com um raminho de manjericão.

Jägermeister

Bebida das baladas, aquele shot gelado e amargo, que estimula a aproximação sexual ou a falta de noção na pista, Jägermeister existe desde 1935. O licor digestivo de ervas com o alce no rótulo foi criado na Alemanha por Curt Mast, filho de um produtor de vinagre, com 56 botânicos, entre eles, cascas de cítricos, alcaçuz, anis, sementes de papoula, açafrão, gengibre e ginseng.

Quem se acostumou a tomar o shot amargão todo de uma vez ou o popular Jägerbomb (um copinho de Jäger dentro de um copão de energético) talvez não se aperceba do quanto o amaro alemão é bom para uma série de experiências mixológicas. Seu caráter robusto e complexo presta-se a recriações de clássicos ou coquetéis modernos – dá até para fazer Old Fashioned com ele. Ai, que loucura.

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Jägermeister: 56 botânicos em uma só garrafa.Foto: Divulgação

Tom Oliveira ensina o Devil’s Muse, coquetel de sua autoria.

Devil’s Muse

Ingredientes

40 ml de bourbon
20 ml de Jägermeister
10 ml de suco de limão-siciliano
20 ml de cerveja tipo Brown Ale

Modo de preparo

1. Bata todos os ingredientes na coqueteleira com muito gelo, até resfriar.

2. Faça coagem dupla (com ajuda de uma peneirinha fina) para um copo baixo com gelo grande.

3. Torça uma casca de laranja-baía sobre o copo e decore o drinque com ela.

Cointreau e os triple secs

O triple sec é um tipo de licor em que apenas cascas de laranja secas entram na receita. Licor de laranja com outros botânicos não será triple sec, diz a regra. “É uma bebida bastante utilizada na coquetelaria, especialmente na categoria dos daisies, drinques ácidos com adição de licor”, diz Tom. Aí, você cruza as informações: daisy em português é margarida; em espanhol, margarita. Margarita, aquela que você já conhece bem, o drinque mais famoso com triple sec, é, portanto, um Daisy de tequila. Dã.

A receita de triple sec foi lançada comercialmente na França em 1834, por Jean-Baptiste Combier, macerando as cascas em álcool neutro, embora holandeses já tivessem tradição de fazer licores de laranja em suas colônias no Caribe, originando o curaçao. A destilaria Combier produz seu licor até hoje, mas a marca Cointreau passou-lhe a perna e ganhou fama quase absoluta. Há outros triple secs de respeito disponíveis no Brasil, como o Grand Marnier Triple Sec, o Marie Brizard e o produzido pela San Basile Destilaria.

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Cointreau, o mais emblemático dos triple sec.Foto: Divulgação

Além da Margarita, o Cosmopolitan (vodca, licor de laranja, sucos de limão e de cranberry) é outro coquetel bem popular com triple sec. Há uma infinidade deles. Tom apresenta, de sua lavra, o Jabutibosh, martini com cachaça no lugar do gim e com vinho branco no lugar do vermute.

Jabutibosh

Ingredientes

40 ml de cachaça branca de boa qualidade (o bartender sugere a Giuseppe Prata)
30 ml de vinho Sauvignon Blanc
10 ml de triple sec
1 jabuticaba fermentada

Modo de preparo

1. Coloque a cachaça, o vinho e o triple sec no copo de misturas com muito gelo. Mexa com a colher de bar até resfriar.

2. Coe para uma taça martíni previamente resfriada.

3. Decore com a jabuticaba fermentada.

P.S.: Se você não tem paciência ou talento para fermentar jabuticabas em casa, pode guarnecer o coquetel com uma azeitona verde. O drinque não terá exatamente a mesma característica, mas continuará gostoso.

Licor 43

O licor de ervas típico de Cartagena, Espanha, diz a história, já era produzido há mais de 2 mil anos, mesmo antes de os romanos dominarem a região. Apenas em 1946 a família Zamora sistematizou a fabricação da receita tradicional, usando 43 botânicos, entre eles, cítricos mediterrâneos, frutas, ervas, especiarias – fórmula que se mantém secretíssima.

O Licor 43 tem muito dulçor, mas boa percepção de cítricos, baunilha, café e especiarias, sobretudo a semente de coentro. Sempre fez sucesso em churrascarias, sugerido como digestivo depois do almoço – é importado no Brasil desde 1971. Uma campanha de marketing pesada fez com que a bebida renovasse seu público, sobretudo com a popularização do coquetel Carajillo (43 com café), que ganhou espaço em cartas de coquetéis de bares e restaurantes brasileiros.

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Licor 43: mistura com café deu novo fôlego ao digestivo.Foto: Divulgação

Recentemente, foram lançados no Brasil as versões 43 Horchata, que agrega as características da bebida popular na Catalunha, e 43 Baristo, com adição de café, o que faz dele quase um Carajillo pronto para beber.

Não que exista alguma complicação para preparar um Carajillo, bebida que pode tanto dar um up no começo da noite quanto encerrar uma refeição com gosto. Numa taça ou copo baixo com gelo, misture 40 ml de café forte (de preferência, expresso) e 40 ml de Licor 43. Só isso, tá pronto. Se quiser mais cremosidade, bata a mistura na coqueteleira.

A quem quiser avançar no uso do licor, Tom Oliveira sugere o Seu Joaquim, criado em homenagem a um senhor que conheceu na infância, fã de Licor 43.

Seu Joaquim

Ingredientes

50 ml e cachaça envelhecida em amburana
20 ml de Cynar
10 ml de Licor 43

Modo de preparo

1. Deixe todas as bebidas na geladeira para que resfriem.

2. Num copo americano sem gelo, porém resfriado, coloque a cachaça, o aperitivo de alcachofra e o Licor 43.

3. Beba.

Pernod

Pernod (nascido no século 19) e seu primo Ricard (século 20) são as grandes marcas francesas de licor de anis. Com protagonismo exacerbado desse botânico, são algo do tipo ame ou odeie, que nem coentro. As duas marcas, por sinal, odiavam-se, até unirem-se em 1975 para formar um dos grandes grupos de bebidas do planeta, Pernod Ricard.

Se quiser fazer a linha “Paris é minha segunda casa”, peça um Pernod, mesmo que abomine, e vá fingindo que beberica enquanto rega o vaso mais próximo com ele quando ninguém estiver olhando.

Nos cafés da França, doses de Pernod ou Ricard são servidas em copos altos, com gelo, e uma mimosa jarrinha da marca, com água gelada, usada para completar o drinque, exatamente como se faz com os similares ouzo (da Grécia) e arak (do Oriente Médio). Ao contrário das outras bebidas sugeridas aqui, os anisadões têm sabor muito forte e não são legais puros. A não ser que você seja mesmo da pá virada.

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Pernod: anis rima com Paris.Foto: Divulgação

Tom indica o uso dos licores de anis em qualquer coquetel clássico que peça absinto, banido do bar por um longo período. Entre essas receitas, a mais simbólica é a do Sazerac, nascido em Nova Orleans, um drinque polêmico tal qual o Dry Martini – todos os sabichões do bar acreditam dominar sua composição perfeita.

Sazerac

Ingredientes

60 ml de bourbon ou rye whiskey
Algumas gotas (aproximadamente 5 ml) de licor de anis
1 torrão de açúcar (ou 10 ml de xarope de açúcar simples)
2 lances de Peychaud’s Bitters
1 casquinha de limão siciliano ou um anis estrelado para finalizar

Modo de preparo

1. Despeje o licor de anis em um copo baixo. Gire o copo, fazendo com que ele passeie por toda a superfície do recipiente, como se o estivesse untando.

2. Descarte o excesso de licor (ele entra mais como agente de aroma no coquetel). Encha o copo com gelo, para resfriá-lo.

3. No copo misturas, hidrate o torrão de açúcar com o bitter (pode adicionar um tiquinho de água, se quiser acelerar o processo).

3. Coloque bastante gelo no copo de misturas, verta o uísque e mexa com a colher de bar até resfriar.

4. Dispense o gelo que está no copo baixo, despeje o coquetel.

5. Decore com a casquinha de limão torcida ou com o anis estrelado.

P.S: O Sazerac, originalmente, era preparado com conhaque, mas a versão com bourbon ou rye é largamente aceita nos bons bares de coquetelaria do planeta. Há quem misture uísque e conhaque, uma versão híbrida. No fim das contas, outras bebidas envelhecidas de qualidade – um belo de um rum, por exemplo – vão render ótimas releituras do Sazerac.

Fernet

Quando Chico Buarque e Gilberto Gil encontraram-se para compor Cálice, o anfitrião ofereceu ao convidado o digestivo que andava curtindo no momento: Fernet-Branca. Gil amarrou a boca, fez cara feia e, do choque de sabor, veio a primeira estrofe da letra: “Como beber dessa bebida amarga?”

Esquisitão à enésima potência, o fernet que Gil não conseguiu engolir continua causando discórdia – ou rendendo grandes canções. Deve ter inspirado diversos e intensos tangos, pois uma das bebidas mais populares da Argentina é fernet com Coca-Cola.

Sua potente alquimia – em que gritam os sabores amargo e de menta – mescla ruibarbo, camomila, quinino, canela, tília, açafrão, cúrcuma, mirra e outros ingredientes de caldeirão de bruxa. “Com suas notas herbais e mentoladas muito acentuadas, recomendo bebê-lo como digestivo, após as refeições”, diz Tom.

É bom lembrar que fernet não é uma marca, mas o nome de uma categoria de amaros. Fernet-Branca, criada em 1845 por Bernardino Branca, na Itália, é o mais conhecido. Existem diversos rótulos no mundo e, por aqui, é possível encontrar os fernets brazucas San Basile, Valverde e Dubar.

Nas rodas etílicas paulistanas, o fernet tornou-se mais palatável a bordo do coquetel Macunaíma, nascido no Boca de Ouro e replicado por outros bares, com 45 ml de cachaça branca, 25 ml de xarope de açúcar, 20 ml de suco de limão e 7 ml (um tiquinho) de Fernet-Branca. Tudo batido na coqueteleira e coado para o copo baixo com gelo. “O fernet comporta-se muito bem nesse coquetel brazuca, mas, para mim, o melhor drinque com ele ainda é o Hanky Panky, criado pela bartender Ada Coleman, no American Bar do Savoy Hotel, em Londres, nos anos 1920”, diz Tom.

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Fernet-Branca: amargor inspirou uma das obras-primas de Chico Buarque.Foto: Divulgação

Hanky Panky

Ingredientes

45 ml de gim
45 ml de vermute tinto doce
2,5 ml de fernet

Modo de preparo

1. Coloque todos os ingredientes no copo de misturas com muito gelo e mexa-os com a colher de bar até resfriar.

2. Coe para uma taça martini (ou coupe) previamente resfriada.

3. Decore a taça com uma casquinha de laranja torcida.

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