Boteco à japonesa: conheça 10 izakayas imperdíveis

Com boa comida, boas bebidas e clima festivo, os izakayas conquistam clientes em São Paulo e no Rio de Janeiro. Saiba mais sobre os bares no estilo nipônico.


prato servido em izakayas
Gyoza do Kō Bā Izakaya, no Rio de Janeiro. Foto: Tomas Rangel



Quando se fala em culinária japonesa, sushis, combinados e temakis costumam ser os primeiros pratos que vêm à cabeça, pelo menos por aqui. Mas a cozinha nipônica vai muito além disso – e inclui até uma autêntica gastronomia de boteco. Berinjela no missô, asinhas bem temperadas e mais uma infinidade de petiscos para compartilhar são servidos nos izakayas, ambientes descontraídos com clima de botequim, que entraram na rota gastronômica dos mais antenados.

Se antes os izakayas eram portinholas simples no bairro paulistano da Liberdade, conhecidos só por iniciados na cultura japonesa, hoje eles já podem ser encontrados em lugares como o Itaim Bibi, o Jardim Paulista e até o Leblon, no Rio de Janeiro (o chef Claude Troisgros adora).

Os estabelecimentos seguem, em sua maior parte, sendo familiares, passados de geração para geração. Mesmo nos lugares mais novos, com decoração moderninha e sofisticada, os izakayas passam longe de modismos gastronômicos. Esquema de rodízio, por exemplo, não existe. E nem pense em pedir um hot Filadélfia ou similares.

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A proposta dos izakayas é fartura de bebida e comida típica de boteco japonês, preparada em pequenas porções para petiscar enquanto se bebe um saquê ou uma cerveja no balcão. 

“Gosto do ambiente descontraído do izakaya, onde posso receber os clientes, amigos, todos no balcão, enquanto cozinho e tomo saquê com eles. Acho que as pessoas ficam se sentindo em casa, com comida boa e despretensiosa, mas sempre bem feita”, diz Toshi Akuta, chef do Otoshi Izakaya, em Pinheiros. 

A palavra izakaya é composta por 3 kanjis (ideogramas da escrita japonesa) que significam, na ordem, “ficar-beber-lugar”. No Japão, os izakayas fazem parte da cultura local desde o período Edo (1603-1868), a era pré-moderna do país. Surgiram meio por acaso: como os comerciantes tinham o hábito de experimentar o saquê que queriam comprar, os armazéns começaram a oferecer pequenos petiscos para acompanhar a degustação.

Mas o conceito ganhou força mesmo na década de 1940, quando o Japão precisava, de alguma forma, amenizar a tristeza do país após a derrota e o trauma das duas bombas atômicas na Segunda Guerra Mundial. Os izakayas viraram uma maneira de reforçar a cultura japonesa e celebrar novos tempos com goles de saquê, acompanhados de receitas tradicionais em porções pequenas.

Hoje, os izakayas são uma verdadeira instituição japonesa, onde as pessoas vão para beber e petiscar depois do trabalho, esperando a hora do rush passar. Curtiu o conceito? Então, conheça izakayas em São Paulo e no Rio de Janeiro e eleja o seu balcão favorito para se encostar!

São Paulo

Otoshi Izakaya

Localizado em um simpático imóvel de esquina, em Pinheiros, o izakaya do chef Toshi Akuta (ex-izakayas Issa e Matsu) tem no primeiro andar uma decoração clássica dos izakayas japoneses, com um extenso balcão de 12 lugares, de onde se vê a preparação dos pratos. 

Filho de pais japoneses e criado em comunidade nipônica em São Paulo, Toshi aprimorou seus dotes culinários nos izakayas Issa e Matsu, dos chefs dona Margarida e mestre Haraguchi. Além disso, é Sake Expert pela Japan Sake Association e faz pessoalmente a curadoria da carta de saquê da casa.

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Kinoko Sautée. Foto: Divulgação

Uma das pedidas mais famosas do Otoshi é o prato autoral Kinoko Sautée (R$ 40), um mix dos cogumelos shiitake, shimeji e eryngii grelhados cobertos com molho de creme de leite e shoyu. Na hora de servir, ganha ainda farofa de panko crocante de alho e limão. Toshi considera o Kinoko um bom exemplo de yoshoku, que consiste na junção das técnicas japonesas com culinárias ocidentais.

“Muitas das minhas inspirações são de pratos que um dia eu comi e me senti confortável, com algumas adaptações para o meu paladar e para o paladar dos clientes. Às vezes lembro de algum prato que me marcou e quero reproduzir aqui, do meu jeito”, explica Toshi.

Da ala dos clássicos de izakayas, são servidas receitas como onigiri grelhado (R$ 13), a anchova fresca grelhada, yakizakana (R$ 40), gyoza suíno grelhado (R$ 35, 5 unidades) e shumai, que consiste em dumpling de camarão com carne suína cozido no vapor servido com ponzu da casa (R$ 40, 5 unidades). 

Otoshi Izakaya: Rua Padre Carvalho, 335, Pinheiros.

Kinboshi Izakaya & Karaokê

Com cara de speakeasy, é necessário tocar a campainha para entrar pela portinha discreta dessa casa no bairro do Paraíso, comandada pelo chef e ex-lutador profissional de sumô Fernando Kuroda. Com clima de bar secreto, o izakaya conta ainda com salas de karaokê fechadas, ótimas para quem quer se divertir em grupo, separadas do restante do estabelecimento para a cantoria não incomodar quem deseja um passeio mais tranquilo. No salão, o balcão diminuto acomoda apenas duas pessoas.

Fernando aprendeu a cozinhar por causa do sumô, já que todo sumotori deve ser instruído na cozinha. O seu gosto por izakayas veio dessa época em que morava no Japão e frequentava os botecos japoneses com colegas de luta. 

De volta ao Brasil, Fernando abriu o Bueno, seu primeiro izakaya, e, após sair da sociedade, abriu o Kinboshi. Curiosidade: kinboshi significa”estrela dourada” e é usado no sumô quando um atleta maegashira (nível mais baixo da primeira divisão do sumô) vence um yokozuna (nível mais alto).

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Língua grelhada. Foto: Ricardo Matsunaga.

Os pratos são os mesmos do Bueno, inspirados nas comidas que Fernando gostava no Japão: “Eu praticamente comecei a servir língua grelhada no Brasil, em 2005. No começo, foi difícil a aceitação entre os brasileiros, mas hoje já tiram de letra”, conta, animado.

No menu do Kinboshi, a porção de língua de boi grelhada, chamada de o gyutan, sai a R$ 36. Outras receitas caprichadas são a mabo nassu (R$ 35), berinjela japonesa com carne moída suína, e o tonkatsu (R$ 35), lombo suíno empanado.

Kinboshi Izakaya & Karaokê: Rua Coronel Oscar Porto, 319, Paraíso, tel. (11) 3637-5387.

Shima Izakaya

As boas surpresas que saem de trás do balcão desse izakaya na Vila Carrão são típicas de Okinawa, região conhecida como a “Fernando de Noronha do Oriente”, por seu clima subtropical e praias exuberantes. Até 1879, a ilha fazia parte do Reino de Ryukyu, uma monarquia independente do resto do Japão, com a sua própria cultura, língua e história.  Foi só em 1872, depois de muitas disputas e a queda do reino de Ryukyu, que Okinawa foi anexada ao Japão. Após a Segunda Guerra (1939-1945), passou a ser base militar estadunidense. A devolução do território ao governo japonês aconteceu em 1972. Dessa forma, no que se refere à culinária local, Okinawa recebeu grande influência de outras regiões do Sudeste Asiático, da China e dos Estados Unidos.

A família proprietária do Shima é dessa parte do Japão e abriu o izakaya no núcleo okinawano da Vila Carrão. O cardápio faz jus a essa origem, com muito porco, por exemplo, carne popular no arquipélago.  

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Buta no kakuni. Foto: Divulgação

O buta no kakuni (R$ 40), barriga de porco cozida lentamente , o mimiga (R$ 38), face do porco com molho shoyu cítrico, e o medalhão de tomatinho (R$ 20, duas unidades), espeto de bacon enrolado com tomate cereja e tempero do chef, são os xodós da cozinha. 

O Okinawa soba (R$ 58), com macarrão de trigo sarraceno e caldo à base de frango, porco, shoyu e gengibre, também é queridinho dos entusiastas da gastronomia de okinawana e é servido com tempurá, omelete japonês, costela de porco, cebolinha e gari. 

Shima Izakaya: Rua Iacri, 65, Vila Carrão, tel. (11) 91128-3171.

Izakaya Issa

Talvez a razão seja o cardápio com 14 tipos diferentes de macarrão. Ou a presença de dona Margarida Haraguchi, a proprietária, figura conhecida e querida por todos, que garante um atendimento atencioso. Pode ser ainda sua vasta quantidade de rótulos de saquês e shochus, dos mais caros aos mais baratos. O fato é que o Izakaya Issa é um dos mais famosos e tradicionais da Liberdade.

A casa, que abre para almoço e jantar, tem uma área pequena, resumida entre o balcão de madeira e um corredor estreito, onde é possível receber apenas 12 clientes por vez. Não deixe de pedir o okonomiyaki (R$ 45), panqueca salgada japonesa com recheio de legumes, camarão, molho e raspa de peixe. Entre os petiscos, a estrela é o takoyaki, popular bolinho de polvo, de massa leve e cremosa, muito encontrado nas ruas de Tóquio.

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Katsudon. Foto: Carol M.

Destaque ainda para os tsukemonos, guarnições japonesas em conserva feitas pela própria dona Margarida, além do katsudon (R$ 68), tigela de arroz japonês coberto de carne suína frita e cebola em caldo levemente adocicado com ovo, e do sara udon (R$ 70), macarrão frito servido com caldo grosso de legumes, carne suína e frutos do mar.

Izakaya Issa: Rua Barão de Iguape, 89, Liberdade, tel. (11) 3208-8819.

Izakaya Matsu

Comandado por Sérgio, filho de dona Margarida, a ideia do local é ser uma filial do Issa, com o diferencial de só abrir à noite. O Matsu, ou “pinheiro” em japonês, é pequeno, com poucos lugares fora do disputado balcão, onde o chef prepara os quitutes gastronômicos na frente dos clientes. Os tebasakis (R$ 32), deliciosas asinhas de frango da província de Aichi, feitos com molho especial da casa, são dos mais famosos da cidade

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Tebasaki. Foto: Divulgação

O katsusando (R$ 38) é outra atração: o chef e proprietário Sergio se envolve em todo o processo de feitura do sanduíche, desde a confecção do pão até a apresentação final aos clientes: sanduíche feito com pão de forma tostado, milanesa de copa lombo suíno e molho da casa, servido com repolho fatiado. 

Izakaya Matsu: Avenida Pedroso de Morais, 403,  Pinheiros, tel. (11) 3812-9439.

 Yorimishi Izakaya

O ambiente deste izakaya no bairro do Paraíso, com uma arquitetura nipônica moderna, lembra pouco os tradicionais bares japoneses. O chef Ken Mizumoto abriu o estabelecimento em 2016, com o desejo de ter um izakaya parecido com os que costumava frequentar em Tóquio. Filho de japoneses, morou 11 anos na cidade trabalhando em casa de sushi.

No seu próprio restaurante, serve pratos autorais como o tempura de milho, que criou em 2011: “A dona da banca de verduras que eu era cliente disse que ninguém queria comprar o milho doce e me deu espigas para eu testar alguma receita. Fiz um bolinho e fritei. Os clientes adoraram e hoje é o prato mais vendido da casa”, conta. O tempura de milho doce frito sai por R$ 25.

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Tempura de milho. Foto: Giovanni Barelli

O cardápio inclui ainda outras receitas autorais, como wafu steak (R$ 58), um entrecôte grelhado na brasa com molho japonês e cebolinha picada, e o ikura kimi onigiri (R$ 40), combinação do arroz de sushi com ovas de salmão. Quem gosta da culinária tradicional encontra o fuwafuwa omuraisu (R$ 54), risoto japonês com omelete cremoso por cima, e o butabara (R$ 12,50), espeto de panceta de porco grelhada na brasa, servida com molho tarê.

Yorimishi Izakaya: Rua Otávio Nébias, 203, Paraíso, tel. (11) 3052-0029.

Izakaya & Karaokê Donchan 

Endereço tradicional na Liberdade, o Kintaro ficou famoso por seus acepipes de balcão nipoportugueses e decoração inspirada no sumô. A clientela cresceu ao longo dos anos, mas o lugar não: “Nossa família toca o Kintaro desde 1993. Como não há possibilidade de aumentar o tamanho de lá, a forma natural de expandirmos foi abrir o Donchan, em 2017″, diz Taka Higuchi, filho de dona Líria, fundadora do Kintaro. No novo endereço, no Jardim Paulista, a família fez alguns ajustes: “Adicionamos karaokê e mudamos o cardápio e o horário de funcionamento para ficar mais compatível com as condições do bairro”, explica Taka.

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Kare raisu de ossobuco. Foto: Marcelo Colmenero

No cardápio, pensado para acompanhar copos cheios, estão delícias típicas como a berinjela ao molho de missô (R$ 28), popularizada por dona Líria. Já o karaage (frango frito), integra três pratos diferentes no Donchan: frango marinado e frito (R$ 29, a porção), o sanduíche karaage sando (R$ 29), que leva karaage, coleslaw, wasabi e maionese, e o domburi (R$ 42), servido na tigela com molho de ovos, cebola e cebolinha sobre gohan. O tonkatsu (R$ 29), copa lombo suína empanada e frita, e o gyoza frito de porco (R$ 29), com nirá e kimchi (R$ 23), são outras pedidas ideais de para acompanhar a cerveja, o soju, o saquê e demais bebidas à disposição. 

Já o kare raisu de ossobuco (R$ 42), curry ao estilo japonês em caldo à base de ossobuco, acompanhado de arroz e ovo estalado, é uma das apostas dos pratos mais substanciosos.

A música se mistura com a degustação, já que o karaokê funciona no próprio balcão. 

Izakaya & Karaokê Donchan: Rua Batataes, 380 A, Jardim Paulista,

tel. (11) 94513-0179.

Izakaya Kuroda by Little Tokyo

Localizada no Itaim Bibi, a casa tem Fernando Kuroda como chef e é tocada em sociedade com Chen Rue. Grande e com decoração requintada, ela serve hits como o chicken sando (R$ 44,80), sanduíche feito com frango empanado no lugar do tradicional porco, pão de leite japonês, folha de shissô, maionese do chef, molho do chef, mostarda e repolho. 

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Chicken sando. Foto: Eduardo Ohara.

O cardápio também seduz com o nassu (R$ 28,80), berinjela ao molho do chef, e com as opções de kushiyaki, conhecidos como espetinhos, que são preparadas na grelha a carvão. Quiabo (R$ 9,80), abobrinha (R$ 8,80) e coração de frango (R$ 10,80) são os destaques.

Izakaya Kuroda by Little Tokyo: Rua Leopoldo Couto de Magalhães Júnior, 777, Itaim Bibi, tel. (11) 3078-5220.

 

Rio de Janeiro

 

Pabu Izakaya

Primeiro izakaya do Rio de Janeiro, o Pabu foi idealizado, há seis anos, para apresentar ao carioca a comida japonesa além do sushi. Com uma arquitetura que mescla a ancestralidade e a contemporaneidade japonesas, o izakaya tem como protagonistas o papel e a madeira em sua ambientação. O nome é uma referência à forma como se pronuncia a palavra inglesa “pub” no Japão. 

Criativa em suas propostas, a chef Akemi Hirose, filha de um japonês com uma carioca e formada em Belas Artes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), adapta o menu de acordo com a estação, incorporando pratos que são do cotidiano do japonês. 

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Hashimaki. Foto: Tomas Rangel

“A comida da rotina do japonês não é o sushi, que no país é uma iguaria mais festiva. A culinária do dia a dia do país são os caldos, por exemplo, os ramens e o arroz, que é a base da culinária japonesa. Por isso, a culinária do Pabu é quente, mas ainda faz uma gracinha com o sushi bar”, diz a chef. 

No menu atual, que surge em um quadro negro ao lado do balcão, destacam-se o batchatcha (R$ 21), feito com chips de batata-doce e sal de matcha, hashimaki de camarão (R$ 37), panqueca japa no hashi com molho tonkatsu, maionese caseira, katsuobushi e croc de tempura, e o ramen de porco, peixe ou veggie (R$ 58). Como de costume, a dica infalível é sentar no balcão

Pabu Izakaya: Rua Humberto de Campos, 827, Leblon, tel. (21) 3738-0416.

Kō Bā Izakaya

Uma entrada discreta pela Rua Redentor, em Ipanema, dá acesso ao pequeno salão, com balcão central em formato de U, além de mesas que comportam grupos de até seis pessoas.

O cardápio não tem invencionices. Ele é fruto de pesquisa in loco dos chefs Cristiano Lanna, Erik Nako e Luiz “Pétit” Santos. Os três estiveram em terras japonesas recentemente, explorando a culinária de Aomori a Osaka, e importaram especialidades para a casa. A ideia era trazer novos pratos tradicionais para os cariocas.

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Okonomiyaki. Foto: Tomas Rangel

Entre as sugestões exclusivas estão o katsu-sando (R$ 39), sandubinha em pão de miga de porco à milanesa com repolho, mostarda karashi e picles, e o okonomiyaki de cogumelos (R$ 49) ou de camarão e bacon (R$ 54). 

A carta de saquês da casa divide de igual para igual as atenções com os pratos. As garrafas são expostas em uma prateleira suspensa, chegando a aproximadamente 22 rótulos. A bebida da casa é um futsu-shu, ideal para o dia a dia, além de variedades como honjozos, junmais, ginjos, dai ginjos, genshus e espumantes. No menu de bebidas, há ainda rótulo de cerveja próprio, uma seleção de shochus e drinques com referências japonesas. 

Kō Bā Izakaya: Rua Maria Quitéria, 111, Ipanema, tele. (21) 3502-4637.

 

Preços pesquisados em novembro de 2023 e sujeitos a alteração. 

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