Davi Ramos lança curadoria de móveis e objetos vintage

No perfil Achado, no Instagram, o stylist publica peças que garimpou ao longo da vida – todas disponíveis para compra.


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Engana-se quem pensa que o ofício de stylist consiste em somente escolher roupas e acessórios para um ensaio fotográfico ou desfile. Seja em uma foto ou na passarela, este é um trabalho que requer cuidado na composição. A iluminação, o mood, as cores, o cenário. Foi esta visão global que fez com que uma paixão despertasse no stylist e chapeleiro Davi Ramos: o garimpo de mobiliário e objetos vintage. Há cerca de três meses, ele decidiu mostrar ao mundo sua relação íntima com o décor lançando Achado, perfil no Instagram onde publica móveis e objetos de época – todos disponíveis para compra. “O nome representa exatamente o que este projeto é para mim. São coisas que eu achei a minha vida inteira e fui guardando”, compartilha o stylist, colaborador frequente da ELLE, onde já assinou vários editoriais de moda com a parceira de longa data, Flavia Pommianosky.

Há 35 anos no mercado de estilo, seu primeiro trabalho foi na Moda Brasil, icônica revista dos anos 1980 que consagrou profissionais como Bob Wolfenson e J. R. Duran. A partir daí, e com ajuda de Flavia, o mineiro de Uberlândia ficou famoso por composições ousadas, pensadas especialmente para estilistas e celebridades, a exemplo de André Lima e Ivete Sangalo. Certo dia em um ensaio, Davi sentiu falta de um acessório no cabelo da modelo, – surgiu aí a habilidade de pensar adornos customizados para a cabeça. Em 2015, ele lançou uma coleção comercial de chapéus, casquetes e turbantes feitos em edição limitada. Em breve, essa produção se tornará livro e exposição, adianta Davi com exclusividade à ELLE.

No Achado, são exibidas poltronas, mesas, abajures, roupas, sapatos e objetos diversos, como tapeçarias, vasos e até uma antiga embalagem de perfume, garimpados em “antiquários de beira de estrada”, brechós e lojinhas de antiguidade do interior. Elas fazem parte do acervo de cerca de 150 peças do stylist, que adora viajar por dias a fio em busca de tesouros para sua coleção. “É claro que eu adoro achar algum móvel assinado por grandes designers, como Percival Lafer ou Sergio Rodrigues, mas uma das coisas que mais amo nessas andanças é descobrir um móvel anônimo com um superdesign e uma história para contar.” Isso permite, inclusive, que as peças publicadas no Achado tenham um valor mais acessível, em comparação com galerias, antiquários ou brechós tradicionais. “Quero atingir um novo público, permitindo que mais pessoas tenham uma peça de design em casa.”

Ramos não apenas garimpa como reforma as peças. Sua verve criativa como stylist e designer de acessórios possibilita que ele traga um tom autoral para os móveis, promovendo transformações pouco óbvias, como a aplicação de estofados coloridos ou cúpulas exuberantes. “Normalmente, quando restauram um conjunto de poltronas dos anos 1950, que cor colocam? Bege! No meu caso, gosto de brincar com as cores, transformar aquela peça em um objeto especial.” Em uma delas, tecidos de coleções antigas de André Lima passaram a compor uma luminária verde dos anos 1970. O resultado é uma peça vintage com ares contemporâneos, feita com material de reúso. “O nosso tempo é hoje, não é nem ontem nem amanhã. Se eu e Flavia temos uma carreira tão longeva no mundo do estilo é porque sempre respeitamos e acompanhamos o tempo das coisas. E no Achado não poderia ser diferente”. Sustentabilidade e colaboração estão mesmo na agenda do dia.

Para provar isso, outras parcerias povoam o perfil no Instagram: uma collab com a artesã Marcia Granado Nachbar, criadora da marca Pavio Vintage, deu novo propósito a peças de vidro, transformando taças de milk shake, travessas, xícaras e cumbucas em velas feitas com cera de coco e aromas diversos. Mais recentemente, o DJ e performer Johnny Luxo posou para as lentes de Adriano Damas, com roupas de Conrado Segreto – cedidos por sua irmã Rita Segreto –, beleza de Rogerio Santana, styling de Davi e Flavia, e, claro, móveis do Achado, numa sessão fotográfica que se inspira no mood vintage e, ao mesmo tempo, o subverte. “O Achado nunca vai ser apenas um álbum de fotografias, há todo um pensamento de estilo por trás.”

Ramos conta com dois assistentes para gerir as demandas na caixa de entrada da rede social, por onde efetua as vendas dos objetos e móveis, e colaboradores para conduzir os restauros sob sua cuidadosa direção artística. O stylist até sonha com uma loja física, mas, por enquanto, afirma que o Achado permanecerá apenas online e com novidades frequentes: são quase 70 peças prontinhas, à espera de publicação. Diante de tanto carinho por esses objetos, não soaria estranho que Davi sentisse falta de um móvel que passasse de mãos. “Não estou com dó de vender nada. Quero fazer da minha casa um elemento vivo, mutante. E, para isso, preciso abrir espaço para novas coisas. Sempre penso nessas peças como um sonho que já vivi. Agora é hora de outra pessoa viver este sonho.”

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Davi Ramos com a parceira de estilo e aventuras, Flavia Pommianosky.@flaviapommianosky

Falando em sonho, tem um que Davi já conquistou: fazer o que ama ao lado de uma parceira criativa: “Eu e Flavia temos um lema: juntos somos fortes. Sou apaixonado pelo que faço. A Flavia é apaixonada pelo que faz. E juntos, tomamos o cuidado para estarmos sempre em movimento, observando nosso entorno. Fazemos trabalhos comerciais, mas também estamos na Casa de Criadores, trocando e nos nutrindo de novas perspectivas, bem como alimentando novos estilistas com nossa experiência.” Para quem se encanta com Davi, mineiro de risada contagiante e criações especiais, parece que chegou a oportunidade de ter um pedacinho de sua criatividade em casa. E em grande estilo, ou melhor, design.

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