Endereço da Love Story reabre com performances sobre corpo e desejo

Em algum tempo da noite paulista, todo homem dizia ter uma história no Love Story. Facundo Guerra, empresário, começou a dele após a casa ter sua falência decretada e tudo dentro do símbolo da noite paulistana ir à leilão. 

Mesmo sem planos definidos para o local, Facundo decidiu fazer sua oferta e, junto com Cairê Aires, seu sócio no Bar dos Arcos, arrematou “o lote” por 200 mil reais, quando foi aberto o lance mínimo livre. Ninguém apareceu nas rodadas anteriores, de lance mínimo obrigatório no valor de mais de 1 milhão de reais.

A empresária Lily Scott se junto à dupla e, em setembro de 2021, começou o projeto do Love Cabaret, que será finalmente inaugurado nesta sexta-feira (23.06).

A transformação da Love Story

O despudor d´A Casa De Todas As Casas, como era chamado o Love Story em seus tempos áureos, dá uma pinta no Love Cabaret, a começar pela programação e pelo tema da primeira temporada: “A casa de todas as casas é o corpo”. 

Nessa nova vida, no entanto, o endereço deixou de ser pensado como uma boate para se tornar um local de performances. O palco principal do Love Cabaret é o meio do salão, ou seja, a pista de dança, conhecida por quem já deslizou por ali. “Eu não queria soterrar o lugar”, explica Facundo, sobre a manutenção da pista e da entrada original. 

A pista da Love Story é o palco da Love Cabaret.

Facundo fala do Love Cabaret com um olhar de apetite. Com experiência em shows nos mais diversos locais, do Cine Joia ao bar Z Carniceria, o empresário nunca havia montado um palco para teatro. “Eu amo teatro, e o Love Cabaret tem isso. É uma narrativa sobre corpo e desejo, e as ferramentas para contar essa história são as performances.” 

Na nova proposta, os tabus e a aura marginal, que ainda hoje cercam tudo o que se relaciona a sexo e erotismo, se diluem entre apresentações, drinques com nomes de deusas ligadas ao prazer, assinados por Michelly Rossi, e pratos e aperitivos criados por Matheus Zanchini (chef do Borgo Mooca). O convite é para admirar o belo, compactuar com o esquisito, praticar o voyeurismo em números como o de Shibari, técnica oriental que utiliza corda e amarrações em um contexto erótico.

Drinques e comidinhas acompanham a programação.

Os espetáculos da casa unem elementos do teatro de revista, shows de burlesco e do gênero Vaudeville, teatro de variedades iniciado na França no fim do século 19 e que tomou os Estados Unidos e o Canadá até 1930. Nessa primeira temporada, vão se revezar no palco-pista 20 apresentações diferentes. Serão entre cinco e sete por noite, com duração de até 15 minutos cada uma.

“É uma narrativa sobre corpo e desejo, e as ferramentas para contar essa história são as performances.” Facundo Guerra

Para chegar a essa programação, foram mais de 100 audições, com curadoria de Mayumi Sato, diretora do SexLog, uma das maiores redes sociais de sexo, swing e fetiches do Brasil, e Ikaro Kadoshi, artista, jornalista e atual apresentadora do programa “Caravana das Drags”.

Costurando os números, que incluem pole dance, BDSM, burlesco, ASMR e voguing, está Indra Haretrava, coordenadora artística da casa e performer, que interage com a plateia e também apresenta seu show.

Ao redor do palco, o maximalismo e a excentricidade se combinam entre móveis e curvas, espelhos e um neon na parede, que remete à cauda de pavão que decora a pista. O projeto de arquitetura e decoração, assinado pela Todos Arquitetura, de Maurício Arruda, tem traços da estética da Biba, boutique que marcou a swinging London dos anos 60 e 70, e elementos dos cabarés dos anos 70 e 80 do centro de São Paulo. 

A previsão é de receber até 320 pessoas por noite, que vão poder se espalhar pelos espaços ao redor da pista com 51 mesas até o fundo da casa, pelas arquibancadas nas laterais e pelos camarotes no andar de cima. O horário de funcionamento é das 19h à 1h, às quartas e quintas, e das 19h às 3h, às sextas e aos sábados.

Os ingressos colocados à venda online para as duas primeiras noites já estão esgotados. A maioria deles foi comprada por mulheres – e essa talvez seja a mudança mais significativa entre o mundo onde reinava a antiga Love Story e o Love Cabaret. Se antes as mulheres ocupavam a pista e o “palquinho” numa posição mais coadjuvante ou passiva, agora as novas frequentadoras do endereço na rua Araújo se mostram dispostas a tomar as rédeas da sua sexualidade, dos seus corpos e dos desejos que se manifestam ali, em suas variadas formas.

Love Cabaret: Rua Araújo, 232, República, São Paulo.

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