Brasileira comanda um dos perfis de arquitetura mais bombados do mundo

Fundadora e CEO do perfil Architecture Hunter, no Instagram, Amanda Ferber lança canal no YouTube e conta que prefere atuar longe dos holofotes.


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Foto: @kiearch /@biombo_architects via @architecture_hunter



Nem todo mundo que segue o Architecture Hunter sabe quem é Amanda Ferber, a cabeça e o olhar por trás de um dos perfis de arquitetura mais hypados das redes sociais no planeta. Low profile, a jovem arquiteta brasileira de apenas 26 anos prefere se manter nos bastidores, até para fugir da imagem tradicional de influencer, o que definitivamente ela não é nem quer ser. “O foco é a arquitetura, não sou eu”, avisa. “É saudável que eu não tenha uma megaexposição.” Com esse script de conteúdo especializado, ela fez a página ganhar fôlego e chegar perto de três milhões de followers, muitos deles, nomes poderosos, como o dono do Facebook, Mark Zuckerberg, e arquitetos do nipe do italiano Renzo Piano, do japonês Toyo Ito e do francês Jean Nouvel, além do escritório norueguês Snohetta e do top designer inglês Tom Dixon. Mais sucesso, impossível – pelo menos, por enquanto. A selfmade Amanda já está pronta para a próxima aventura: um canal no YouTube dedicado a vídeos sobre arquitetura brasileira e internacional, que o Architecture Hunter lança nesta segunda (15). “Será uma plataforma para tratar do assunto com mais profundidade”, diz ela, que conversou com a ELLE sobre o novo projeto, suas ideias e aspirações.

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Amanda Ferber, a discreta idealizadora do perfil Architecture Hunter, com 2,7 milhões de seguidoresFoto: Corsini

 

Qual é a estratégia para o Architecture Hunter conquistar a mesma relevância no YouTube?

Arquitetura é percurso, e vamos explorar isso em vídeos originais criados por nós, aqui no Brasil, e naqueles trazidos de fora, inicialmente de produtoras e filmmakers parceiros de Portugal, Grécia e México. Alguns mais poéticos, outros com a participação de arquitetos. Será muito legal visitar os projetos ao lado dos profissionais, escutá-los e ampliar assim a percepção sobre esses espaços. Se uma imagem vale mais que mil palavras, um vídeo vale ainda mais. A estreia é com a Lagos House, do português Mário Martins.

Desde o início, em 2013, você apostou na curadoria como um diferencial. Qual é o seu segredo?

É um “X factor”, um superinstinto (risos) para achar projetos e fotos com algo especial, algo diferente. Isso é natural para mim, eu sou apaixonada por arquitetura e fico extremamente empolgada em compartilhar espaços incríveis.

Mas alguma característica em especial direciona essa busca?

A gente faz um balanço semanal dos posts mais e menos curtidos para tentar achar um padrão de engajamento. As pessoas hoje desejam conforto e isso se traduz em ambientes com elementos quentes, como a madeira. Mesmo naqueles mais frios têm de ter algum toque de calor. Para mim, conforto na arquitetura são os espaços com atmosfera de abrigo, mas conectados com o mundo lá fora.

O que o seu perfil tem que a maioria não tem?

Paixão, ineditismo, constância, customização e trabalho em equipe. Amo cada um dos posts da página, olhados no detalhe por todos os seis profissionais com perfil bem eclético que formam o nosso time. Às vezes, os projetos vêm direto da fonte, vários escritórios importantes brasileiros e gringos já nos enviam material em primeira mão. Em outras, buscamos em algumas plataformas, como a Behance, ou nas redes sociais de fotógrafos especializados. E tudo passa por uma curadoria muito detalhista, que valoriza a unidade visual. Ao descer o feed do Architecture Hunter, você vai encontrar projetos diferentes, mas todos têm em comum um certo minimalismo, integração com a natureza, equilíbrio dos volumes e da luz, boa composição fotográfica.

 

 

Alguma vez você já escolheu algo que não animou a audiência?

Adoro projetos extremamente minimalistas, como os da arquiteta russa Maria Osminina. Acho o trabalho dela puro, claro, poético, parece que pegou um paninho e foi enxugando os excessos. Mas, quando a publiquei, não fez sucesso. Acho que o pessoal achou vazio demais e não curtiu.(risos)

O seu perfil tem uma legião de seguidores famosos e você não parece nem um pouco deslumbrada com isso. Como lida com o sucesso?

Ter muitos dos principais escritórios de arquitetura do mundo entre os followers da página nos dá a chancela de que o nosso trabalho tem grande relevância. Cada um desses nomes é uma conquista importante. Lembramos deles a cada post e até brincamos: será que o Jean Nouvel vai curtir esse? E o Marcio Kogan? Mas é o Architecture Hunter que é famoso, não eu, e pretendo continuar assim. Eu raramente apareço, exceto para mostrar minha imagem de vez em quando, porque é importante o público saber quem está por trás. Por muito tempo eu fui anônima, só em 2017 decidi colocar o meu nome na biografia, pois a maioria das pessoas achava que era uma página gringa. Até hoje, muitos arquitetos ainda se surpreendem com o fato de o Architecture Hunter ser de uma menina. Desde pequena, eu sempre fui tímida, o que explica o imenso esforço para aparecer no Architecture Hunter pela primeira vez. Tive de gravar um vídeo para o stories da página umas 36 vezes. (risos) Então, na verdade, é melhor deixar tudo como está…

Qual é o próximo sonho depois de ter criado um dos maiores perfis das redes sociais?

Transformar a página numa plataforma de mídias de arquitetura, com conteúdo mais amplo. Planejamos lançá-la em 2022. Com o Instagram, a gente inspira os arquitetos, no Youtube, vamos oferecer arquitetura como entretenimento e, nessa plataforma, arquitetura como conhecimento, por meio de entrevistas mais profundas e assuntos super-relevantes. A ideia é alcançar não apenas profissionais da área, mas despertar o interesse do público em geral sobre arquitetura.

 

Quais são as suas maiores referências?

Gosto especialmente do arquiteto finlandês Alvar Aalto, também pela produção de design; do escritório espanhol Fran Silvestre, pelos projetos que brincam com os vazios; do Woha, de Cingapura, especializado em biofilia; além do brasileiro Marcio Kogan, que é um parâmetro e tanto para mim, inclusive por eu ter trabalhado no MK27. Foi durante o estágio no escritório que eu descobri que minha paixão não era projetar, mas falar de arquitetura. Na época, eu ainda era uma estudante e mantinha o perfil mais como um hobbie. O Marcio me apresentou para o pessoal do ArchDaily (um dos sites de arquitetura mais importantes do mundo) e até brincou dizendo “essa menina tem mais seguidores do que vocês”. Eles me convidaram para um estágio e acabei trabalhando lá por dois anos. Foi uma grande escola, nesse período aprendi como transformar o Architecture Hunter num projeto profissional.

Como o perfil é monetizado?

Por meio de branded content. A gente não cobra dos profissionais para manter a credibilidade da curadoria. Como 70% do nosso público são arquitetos e designers, as marcas têm interesse em parcerias com a página para lançar seus produtos. Postamos fotos dos lançamentos sempre no contexto de projetos que nós fazemos a curadoria. Faço isso há oito anos e sei do que o meu público gosta. E isso é importante para as marcas.

Você passa muito tempo conectada nas redes sociais?

Sempre que posso, em momentos livres, estou em busca do próximo post do Architecture Hunter. Adoro fazer isso, é como um hobbie para mim. Mas no meu perfil pessoal eu entro pouco.

 

Quais serão as grandes tendências no morar?

Na pandemia, a gente entendeu a importância da interação humana. Então acredito que os projetos irão valorizar cada vez mais os espaços sociais integrados na casa, que serão mais abertos e arejados, com muita iluminação natural e outros elementos da neuroarquitetura para promover a sensação de abrigo.

Com a pandemia, precisamos considerar os benefícios e perigos de cruzar o limiar entre espaço público e privado. Quando a pandemia acabar, poderemos apagar essas fronteiras novamente? Há esperança para projetos que celebram a interação social? Como você imagina a arquitetura pós pandemia?

É muito difícil afirmar algo com toda a certeza. Vemos muita gente afrouxando medidas de isolamento, então pode ser que as coisas voltem a ser como eram antes da pandemia. Mas talvez mude algo sim, na arquitetura, especialmente nos espaços públicos. Na teoria da arquitetura, lembro dos professores falarem na faculdade da bolha proxêmica (o espaço invisível que constitui o espaço de cada pessoa) e como os espaços definem o comportamento humano. O que pode acontecer, na verdade, é os arquitetos projetarem uma bolha proxêmica maior, principalmente nos ambientes corporativos, para que as pessoas não trabalhem mais tão próximas umas das outras. Essa medida poderia ajudar a evitar o contágio. A pandemia escancarou o quanto a gente é frágil e o quanto a gente precisa de lugares mais generosos, mas que mantenham a interação social. O ser humano vive em grupo, e esse contato é uma das coisas mais importantes para a saúde mental. Então, acredito que projetos que favoreçam isso continuarão existindo, porém mais preocupados com a questão da segurança.

Seria esse um momento revolucionário, um chamado para a arquitetura repensar tudo – como nos conectamos, como interagimos, como nos movemos?

Sim, a gente já está vendo uma transformação, as pessoas estão começando a valorizar mais a arquitetura depois de terem sido obrigadas a ficar dentro de casa. Os escritórios estão sendo mais solicitados, crescendo, contratando mais arquitetos. É um momento muito importante. No pós-pandemia, vejo um movimento muito forte no mercado corporativo também. Alguns acham que os espaços de escritórios vão acabar, eu não acredito nisso. Como eu disse antes, somos seres sociáveis, precisamos de contato humano. Para crescer, as empresas precisarão de espaços que estimulem a interação entre as pessoas, a troca de ideias, é isso que faz um negócio, uma ideia ir para frente. Depois da pandemia, quando todos entenderem que essa interação, que não precisa ser diária, mas de alguns dias por semana, está fazendo falta, vão se dar conta de que precisam investir em um espaço bem projetado. A tendência será o “office home”, o conceito de trazer mais o espírito da casa para o trabalho, para que as pessoas se sintam mais abrigadas e confortáveis. Quando se fala em neuroarquitetura, por exemplo, se percebe a importância de uma quantidade diária de luz solar, da ventilação cruzada, do contato com elementos naturais, não apenas com o verde, elementos que estimulem a nossa saúde, o nosso bem-estar, a nossa criatividade. O home office não é eterno, vai passar, pois é saudável separar a casa do ambiente de trabalho. Tem muita gente inclusive tendo síndrome de burnout em casa, durante a pandemia, justamente porque não se desliga nunca do trabalho.

Além de arquitetura, quais são os seus outros interesses?

Cinema, moda e literatura. Acabei de ler, em dois dias, o livro Essencialismo, do Greg McKeown, muito legal. Eu adoraria falar também que sei cozinhar, mas sou péssima nesse assunto. Espero um dia aprender.

Como você se definiria em cinco palavras?

Leal, entusiasta, persistente, otimista, paciente.

Este texto foi atualizado em 15 de fevereiro de 2021.

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