Como consigo viajar sempre com uma mala de mão de 10 kg 

Acredite: com desapego e planejamento é possível curtir boas férias, linda, leve e solta, em qualquer destino – e sem sair com a mesma roupa em todas as fotos!


qqYpk2Hl Minimala 2 01
Ilustração: Mariana Baptista



A história que vou contar agora começa em 2018, quando fiz um mochilão pela Europa. Foram cinco cidades, quatro países e uma mala de rodinha gigante. 

Bom, ela não era tão enorme assim, mas a cada deslocamento que eu fazia, parecia crescer exponencialmente. Ainda me lembro da rua de terra em Barcelona na qual quase perdi uma rodinha e das escadarias do metrô de Paris que, adivinha só, não eram rolantes. 

Tudo isso para estar bem vestida nas duas semanas que passei pelo continente berço da moda. Mas quem disse que o objetivo foi alcançado? Eram muitas roupas e sapatos que: ou não combinavam entre si ou não me deixavam confortável. E, na pior das hipóteses, as duas opções juntas. 

Mas com tanta coisa na mala, como pude chegar a esse resultado? Essa foi a pergunta que eu me fiz por 15 dias seguidos. E não encontrei resposta. 

Já de volta a São Paulo, passeando pelo Instagram, descubro uma consultora de imagem chamada Rachel Helidonis, que prega a filosofia do armário-cápsula. Você já deve ter ouvido falar, mas, resumidamente, o conceito é ter poucas roupas, de forma que consiga visualizar todas facilmente, e viver uma vida mais sustentável, pautada no consumo consciente. 

A proposta me chamou a atenção e resolvi testar. Joguei tudo o que tinha em cima da cama e separei as peças que mais gostava. Nesse momento, também apostei na técnica da Marie Kondo, a japonesa expert em organização, que sugere abraçar o item e perceber o sentimento que ele traz, para, então, decidir sobre o descarte. 

Confesso que as roupas foram bem fáceis, mas sapatos e acessórios eram meu calcanhar de Aquiles. Levei alguns anos até reduzir essa parte do armário. No entanto, tirando esse detalhe, o resultado foi promissor e fechei as portas do guarda-roupa com menos de 70 peças. UAU! Quem era aquela Julyana? 

Uma pausa dramática para responder o que deve estar passando na sua cabeça: “Eu vim aqui ler sobre como fazer uma mala pequena e estou perdida em um texto sobre armário-cápsula?” Já vamos chegar lá. A contextualização é importante, pois foi o começo de um novo estilo de vida (que dura até hoje). 

Retornando, aquela Julyana acabava de descobrir como é bom viver com menos opções de vestimentas. Verdadeiramente, abrir o armário e visualizar tudo de uma vez me tornou a pessoa que nunca mais disse: “Não tenho roupa”. Eu tinha 69 peças, mas elas me atendiam sempre e, pasme, passei a criar combinações que nunca havia imaginado.

No dia a dia, estava tudo incrível, mas e as viagens? Logo pude responder a esse questionamento. Em 2019, viajei bastante a trabalho e tirei férias longas também, então, o armário-cápsula foi posto à prova diversas vezes. 

A primeira viagem com ele foi um passeio de três dias em Curitiba, durante a primavera, ou seja, os casacos ficaram de fora da minha malinha de mão de 10 kg. O desafio: eu iria visitar uma jazida de mármore, então, era necessário uma bota que não condizia com o restante dos looks. O resultado: separei todas combinações para os eventos programados, pijama, uma muda extra para qualquer imprevisto, acessórios e voilá. Coube tudo, confesso que com algum aperto. 

Mas, durante a viagem, observei os possíveis erros. Primeiro: levei mais sapatos do que deveria (lembra que eu disse que tinha um amor a mais por eles, né?), e esqueci que, geralmente, usamos as partes debaixo do look mais de uma vez antes de ir para lavanderia, certo? 

Aprendizados anotados, próxima viagem: cinco dias em Nova York. O nível de dificuldade cresceu demasiadamente. Era outono por lá e a terceira peça do look costuma ser a que mais aparece, ou seja, não queremos sair com o mesmo casaco em todas as fotos. 

Então, parti para um planejamento prévio mais minucioso. Com a programação em mãos, separei as roupas para os eventos mais importantes: o coquetel de inauguração de um hotel de luxo, uma coletiva de imprensa e um jantar elegante. Looks bem diferentes entre si. E adicionei, na sequência, as combinações para os outros momentos, além do pijama que eu nunca viajo sem. 

Com todas as peças separadas, comecei a eliminar itens parecidos. Por exemplo: uma calça jeans preta e uma legging na mesma cor: só uma delas viajou comigo. O mesmo eu fiz em relação aos sapatos. 

Já sobre os casacos, apesar deles serem diferentes entre si, não teria como eu levar cinco opções. Então, reduzi para dois (um deles eu fui vestindo) e adicionei um cachecol, que caiu como o acessório que mudava todo o look e ainda me aquecia, pois tenho zero resistência ao frio. 

Sim, eu viajei com a mesma mala de mão de 10 kg. Daí em diante, ela foi minha única parceira por sete dias no México, dez dias no Ceará, cinco em Buenos Aires e muitos outros destinos. 

Ter poucas peças no armário muda sua relação com o vestir. Leva um tempo, é claro. Eu, por exemplo, só consegui reduzir os sapatos em 2021. E, ainda na semana passada, enquanto pensava sobre como escrever sobre a minha malinha, reparei que fazia um tempo que não tirava peças do armário, e fiz. Lá se foi um dos meus vestidos favoritos, mas ele já estava parado há muito tempo no guarda-roupa. E uma peça não utilizada acaba por atrapalhar a rotina. Essa Julyana desapegada ainda me surpreende, mas também segue evoluindo e já está com saudades de fazer uma minimalinha. Qual será o próximo destino?

Obs: em caso de desespero, adicione uma mochila para colocar nécessaires, documentos e até alguns acessórios pequenos. Boa viagem!

Julyana Oliveira é jornalista especializada em comunicação digital e apaixonada pelo universo da arquitetura, decoração e design

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes