Fibras naturais viram hit na decoração

Móveis, luminárias e objetos que combinam técnicas tradicionais da cestaria com design contemporâneo dão aconchego e charme extra à casa.


W4vXUiUW origin 850
Foto: Divulgação / Gebrüder Thonet Vienna



Piaçava, bambu, corda, sisal, rattan, palha de carnaúba, vime, taboa, capim dourado… Nem sempre a gente se dá conta de quantas opções existem quando o tema é fibra natural. A cultura brasileira, em especial, é pródiga em trabalhar boa parte desses materiais. A arte da cestaria, que acaba multiplicando seu trançado também em objetos de decoração, móveis e luminárias, faz parte da nossa história, tem raízes bem fincadas na tradição indígena, está presente no dia a dia das populações ribeirinhas do norte do país e enche os olhos dos turistas em peças espalhadas pelo Nordeste e Centro-oeste. Fortes também na Ásia e no continente africano, as tramas naturais voltaram a marcar presença na decoração, encantando também marcas europeias de décor.

A tendência tem ligação estreita com os novos tempos, nosso desejo de reconexão com a natureza e a busca por produtos sustentáveis. Mas a grande novidade é que os métodos usados para trançar esses materiais, antes mais frequentes em suvenires e objetos decorativos, vêm ganhando outra perspectiva na mão de designers. Em parcerias com artesãos que dominam técnicas ancestrais, eles têm dado um novo rumo a essa produção. “A cestaria brasileira pode ganhar importância se ressignificada. Por isso, é preciso ter um olhar inovador sobre ela. Temos muita gente capacitada, com técnica incrível, mas que precisa de uma realização nova”, diz Zizi Carderari, que fez carreira como editora em revistas e no mercado de decoração e agora se experimenta como designer. Sua colaboração com a artesã Evanilce Souza, por exemplo, rendeu belas e delicadas luminárias de palha de carnaúba, construídas com formas orgânicas.

sala em tons claros com grande luminaria de palha de carnauba

Luminárias de palha de carnaúba do Projeto Sertões, de Zizi Carderari e Evanilce Souza, em ambiente decorado por Julio Rosa Interiores. Foto: Salvador Cordaro

Outra experiência semelhante foi vivida pela designer Ana Neute, que mergulhou no Jalapão, no interior do Tocantins, para conhecer de perto o trabalho da comunidade quilombola de Mumbuca com o capim dourado. Da viagem, surgiu a coleção de luminárias Bruta, com direção criativa de Mariana Amaral. “Durante muito tempo nosso design foi voltado para fora, observando o que acontecia nas feiras internacionais, como o Salão de Milão. A nossa contribuição agora é olhar para dentro”, diz Ana. “Acredito muito na somatória de forças entre artesãos e designers. É uma forma de a gente se fortalecer dentro do Brasil, criando relações entre as cidades grandes, como São Paulo, e o interior do país. Eu incorporei o capim dourado. Esses círculos já eram feitos com esse material, mas agora ganharam um frame industrial, muito bacana porque valoriza ambos os lados e gera uma renda constante para a comunidade”, completa.

 

image 1489

Luminária de capim dourado, da coleção Bruta: design de Ana Neute, com direção criativa de Mariana Amaral, para Itens.Foto: Divulgação

O designer Sérgio Matos já está há tempos nessa estrada. Há 10 anos, trabalha com comunidades do Alto Rio Negro, na Amazônia. A proposta parte sempre de uma troca. Os artesãos entram com as técnicas tradicionais e a matéria-prima, enquanto Sérgio leva novas ideias de formatos, peças e desenhos, muitas vezes esboçadas ao longo das horas de viagem que ele enfrenta de barco (e com prazer) até os vilarejos. O resultado são peças que despertam o desejo em lojas badaladas nos grandes centros urbanos e acabam mudando a vida dos ribeirinhos que participam do projeto, ampliando o alcance de suas obras.

image 1490

Cestas do designer Sérgio Matos, produzidas em parceria com comunidades do Alto Rio Negro, na Amazônia.Foto: Fellipe Abreu

Já a palhinha percorreu um caminho diferente. Seu tradicionalíssimo entrelaçado, originário da Índia, ganhou a Europa no século 17 e virou ícone da era industrial do mobiliário pelas mãos do alemão Michael Thonet, que desenhou em 1850 uma cadeira desmontável, empilhável, com o encosto da madeira moldado a vapor e o assento de palhinha. De imediato, a novidade ganhou os cafés de Viena, onde a empresa estava baseada, assim como os parisienses, e se destacou também no Brasil. Até hoje, a Gebrüder Thonet Vienna (nome que a companhia ganhou em 1976) é referência no trabalho com palhinha e se reinventou lançando móveis inovadores utilizando esse material, como a poltrona que abre esta reportagem, com design do grupo Front, ou o armário abaixo.

image 1491

Armário com palhinha, com design da Storage Milano para Gebrüder Thonet Vienna.Foto: Divulgação

Nas duas últimas temporadas, a mesma palhinha virou febre, ganhou leituras contemporâneas e caiu nas graças de arquitetos e decoradores. Virou hit nos salões de mobiliário mais importantes do planeta e apareceu nas mais diferentes versões, decorando de estantes a luminárias. O Dimorestudio, de Britt Moran e Emiliano Salci, assinou uma coleção de objetos de decoração para a Dior, usando o material, que se tornou um dos ícones da grife francesa, pois remete às cadeiras Napoleão III usadas para receber os clientes durante seus desfiles no passado. Já Gustavo Bittencourt misturou a palhinha a elementos como metal, tecido e madeira em algumas de suas criações, entre elas, a cadeira Iaiá. “Me inspiro muito nos modernistas, no que usavam aqui nas décadas de 1940 e 1950, e a palha natural era muito presente nos móveis brasileiros porque remete à nossa cultura de usar fibras e se adequa bem ao nosso clima. Gosto de sua textura e transparência, mas admiro sobretudo sua elegância”, afirma. De fato, com tons suaves e fáceis de combinar, as peças em fibras naturais, das versões rústicas às sofisticadas, trazem uma elegância sutil ao décor. E podem dar um toque fresh aos ambientes mais comportados.

image 1492

Banqueta Iaiá, do designer Gustavo Bittencourt Foto: Divulgação

Décor de fibra

image 1493
Vasos do Dimorestudio para Dior Objects.

Foto: Silvia Rivoltella

\u200bPainel de sisal
Painel de sisal, da Oiamo.

Foto: Divulgação

\u200bNamoradeira de palhinha
Namoradeira de palhinha MAD, com design de Jader de Almeida.

\u200bBanqueta Palhinha
Banqueta com assento de palhinha do Atelier Morito Ebine.

Foto: Divulgação

image 1497
Adorno de parede feito com seda, lã. couro, rami e sisal, de Marcos Bazzo.

Foto: Divulgação

\u200bBuffet Accord, de madeira de mangueira e palhinha, da MKT Living.
Bufê Accord, de madeira de mangueira e palhinha, da Mkt.

Foto: Divulgação

\u200bCadeira de corda, Audoux Minet, BetonBrut
Cadeira de corda com design de Audoux-Minet, na Béton Brut.

Foto: Divulgação

Cadeira, tapete e Objeto decorativo Bloomingville
Cadeira, tapete e objeto decorativo, tudo em fibras naturais, da Bloomingville.

Foto: Divulgação

fruteira
Fruteira do designer Sérgio Matos.

Foto: Fellipe Abreu

Guarda-sol de palhinha
Guarda-sol de palhinha, com design de Marc Dibeh, batizado de Somewhere Under The Leaves.

Foto: Marco Pinarelli

Lumin\u00e1ria de piso C\u00e9lula. Feita de metal e palha de carna\u00faba
Luminária Célula, do designer Erico Gondim, feita de metal e palha de carnaúba.

Foto: Salvador Cordaro

\u200bLumin\u00e1ria de Piso Navi. De palhinha
Luminária com cúpula de palhinha, à venda na Westwing.

Foto: Divulgação

\u200bLumin\u00e1ria de rattan e corda, Pasha, Soane Britain
Luminária de rattan e corda, da Soane Britain.

Foto: Divulgação

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes