No Praia do Patacho, em Alagoas, o luxo é desacelerar

Na Praia do Patacho, em Alagoas – um dos trechos mais preservados do litoral brasileiro – um novo hotel propõe algo cada vez mais raro na hotelaria de alto padrão: tempo. O Origem Patacho Design Hotel, exclusivo para adultos, nasce com a ambição de ser menos um destino e mais uma experiência de permanência, onde design, arte e território não funcionam como ornamento, mas como estrutura da hospitalidade.

Praia do Patacho, uma das mais preservadas do litoral brasileiro. Foto: Divulgação

Aqui, o luxo não se anuncia em excesso, mas em escolhas. Da escala intimista – são apenas dez cabanas – à relação cuidadosa com o entorno, tudo parece pensado para que o hóspede desacelere e observe. O projeto tem direção criativa de Juliana Pippi, que também assina os interiores, em parceria com o arquiteto Rodrigo Fagá, profissional com forte atuação na região. Arquitetura e interiores foram concebidos de forma integrada, evitando a lógica do “resort isolado” e privilegiando o diálogo com a paisagem da Praia do Patacho e os saberes locais.

As cabanas têm hidromassagem, piscina aquecida e varandas generosas. Foto: Divulgação

O design é o fio condutor da experiência. Em vez de peças genéricas, o hotel funciona como um espaço curado, reunindo mobiliário, arte e objetos que atravessam o design e o artesanato brasileiro contemporâneo. Obras de Domingos Tótora, Irineu Albiero, Victor Collor e do coletivo BA Arte convivem com criações de importantes artistas e mestres artesãos do território alagoano, como Mestra Dona Irinéia, Adriana Capela, Nem, Rodrigo Ambrósio e Victor Collor, além de nomes da Ilha do Ferro, como Sr. Nonô, Russiel e Carlos André. O conjunto se amplia ainda com cerâmicas de Fátima Campos, cestarias produzidas por cooperativas de mulheres do Ceará e obras têxteis de Patricia Saraiva e Irineu Albiero, criando uma narrativa que conecta tradição e linguagem contemporânea.

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Essa lógica se estende às cabanas, todas privativas, com piscina aquecida, hidromassagem e varandas generosas. Os ambientes combinam linhas limpas com materiais naturais e peças artesanais, criando uma atmosfera acolhedora, sem afetação. Em vez de ostentação, o conforto aparece no silêncio, na luz filtrada, na textura dos objetos e na sensação de estar isolado do ritmo acelerado de fora.

Há duas categorias de hospedagem. A Cabana Mar, voltada diretamente para o oceano, oferece a experiência quase hipnótica de dormir e acordar ao som das ondas. Já a Cabana Vila aposta na imersão total na vegetação local, pensada para quem busca recolhimento e privacidade absoluta. Em ambas, o espaço convida mais à contemplação do que ao consumo de atividades.

A curadoria de objetos valoriza o design e o artesanato brasileiro. Foto: Divulgação

O mesmo vale para a gastronomia. Comandada pelo chef Wellington Olímpio e por Mylenna Luz, a cozinha valoriza ingredientes frescos e receitas que dialogam com a cultura local, servidas em um restaurante com rooftop, bar intimista e deck à beira-mar. Não há pressa: o café da manhã é servido no horário escolhido pelo hóspede, reforçando a ideia de que o tempo, ali, pertence a quem chega.

Sustentabilidade não aparece como discurso isolado, mas como prática: da arquitetura integrada ao uso de materiais e mão de obra locais.

Todo o processo de criação do Origem Patacho foi documentado em um filme e em um livro exclusivo para hóspedes, resultado de uma pesquisa de três anos conduzida por Juliana Pippi em Alagoas. Mais do que material institucional, o registro funciona como memória do percurso – uma forma de revelar que o hotel é, antes de tudo, fruto de escuta, deslocamento e tempo.

No Origem Patacho, o luxo não está no excesso de serviços, mas na coerência entre discurso e prática. Um lugar onde design deixa de ser cenário e passa a ser experiência – e onde descansar é, também, uma forma de se reconectar com o território.

Susana Barbosa viajou a Alagoas a convite do Origem Patacho Design Hotel.