A história de Matthieu Blazy, o novo herdeiro do trono da Chanel
Tudo sobre a trajetória de Matthieu Blazy, que assume a direção criativa da tradicional marca francesa.
Na próxima segunda-feira (06.10), Matthieu Blazy, 41 anos, estreia na direção criativa da Chanel. Foram meses de especulações sobre quem assumiria o cargo, após a partida repentina de Virginie Viard, em junho de 2024. Em dezembro daquele mesmo ano, o nome do francês, então no comando da Bottega Veneta, foi anunciado para a sucessão.
Confira a seguir os momentos que marcaram a trajetória do estilista:
De maison em maison
Desde cedo, Matthieu Blazy esteve imerso no universo artístico. Nascido em 27 de junho de 1984, em Paris, na França, ele é filho de uma pesquisadora de história e de um especialista em artes. Em Bruxelas, ele estudou na escola La Cambre, onde concluiu um curso de cinco anos chamado de artes liberais. A formação, que englobava disciplinas como moda, música, semiologia e semântica, proporcionou a ele uma visão ampla e transversal da indústria criativa.
Um pouco antes de receber o diploma, em 2006, ele estagiou na Balenciaga, na época sob o comando de Nicolas Ghesquière. No mesmo ano, participou do Concurso International Talent Support (ITS) de Trieste, uma plataforma que oferece suporte e visibilidade a jovens talentos. Embora não tenha conquistado o prêmio, o designer recebeu uma oferta de emprego de Raf Simons, um dos membros do júri na época. Matthieu integrou a equipe da linha masculina da label homônima do belga até 2011, quando o francês migrou para a Maison Margiela.

Kanye West com a máscara de cristais criada por Matthieu Blazy na Maison Margiela. Foto: Getty Images
Na Margiela, deixou sua assinatura nas coleções femininas e na linha de alta-costura Artisanal – uma de suas criações mais notáveis foi a máscara cravejada de pedrarias usada pelo rapper Kanye West durante sua turnê em 2013 e 2014. Ele o fez justamente no período em que a casa estava sem diretor criativo: entre 2009, com a saída do fundador, e 2014, quando John Galliano foi contratado para assumir a direção artística. Em 2014, se tornou designer sênior da Céline, sob o comando de Phoebe Philo. Dois anos depois, ele voltou a trabalhar com Raf Simons na Calvin Klein, em Nova York.
Em 2018, porém, Raf e Matthieu foram desligados abruptamente da marca novaiorquina, após a companhia-mãe considerar que suas criações eram conceituais demais e pouco acessíveis ao grande público. Desiludido com os rumos da indústria, o estilista optou por se afastar momentaneamente da moda e passou a colaborar com o artista plástico Sterling Ruby, em Los Angeles, nas obras que ele apresentaria na Pitti Uomo daquele ano.
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Design, it bags e outros sucessos
Em meio ao cenário turbulento de 2020, marcado pela pandemia de covid-19, Matthieu Blazy viveu um momento decisivo na sua carreira. Ele foi contratado para ser o braço direito de Daniel Lee, então diretor criativo da Bottega Veneta, etiqueta fundada em 1966. Em novembro de 2021, Daniel se despediu da etiqueta e o francês assumiu oficialmente o seu cargo. Ele não era um estilista conhecido pelo público, mas seu extenso currículo e o fato de ele já ser diretor de design da etiqueta foram primordiais para a decisão do grupo Kering de efetivá-lo à maior cadeira criativa da etiqueta. Aos seus cuidados, a Bottega ganhou novo fôlego e ele se consolidou como um dos nomes mais relevantes do circuito fashion.

Inverno 2023 da Bottega Veneta, por Matthieu Blazy. Foto: Getty Images
“Todos nós podemos fazer um desfile bombástico, mas eu estou interessado em enraizar as coleções em algo que seja lido mais como estilo do que peças ‘de moda’. Eu não quero apenas criar grandes statements”, disse o estilista à revista Fantastic Man em 2022. A sua fala reflete bem o seu trabalho. “Eu gosto da ideia de uma calça bem feita em um tecido incrível. Isso já basta. Se houve atenção aos detalhes, um pensamento cuidadoso por trás, e se a peça não transmitiu preguiça ou tédio, eu acredito que o objetivo foi alcançado”, ele afirma, na mesma reportagem.
A estreia na marca italiana com a coleção de inverno 2022 apresentou looks confortáveis – como conjuntos que lembram pijama e roupões – caminhando ao lado de peças volumosas e exuberantes. A construção de silhuetas de Matthieu, a sua seleção de materiais e a forma como ele desenha o corpo são elementos centrais para entender o seu tempo na marca.

O look inteiro de couro do inverno 2023. Foto: Getty Images
Durante a passagem pela grife, o designer transformou a forma como o couro é percebido, trazendo ao material mais leveza e fluidez. Um dos momentos mais emblemáticos dessa reinvenção aconteceu no verão de 2023, quando ele vestiu Kate Moss com o que parecia ser uma simples camisa de flanela combinada a um jeans e uma regata canelada. À primeira vista, se tratava de um look básico, mas, sob devida inspeção, era possível ver que as peças eram feitas de couro. Esse jogo de ilusão, capaz de expandir os limites do tecido, se tornou um recurso recorrente em suas criações, presente do início ao fim de sua trajetória na grife.

A bolsa Sardine, criação de Matthieu Blazy. Foto: Getty Images
Além de repensar maneiras de trabalhar com o material, Blazy criou acessórios importantes para a história – e as vendas – da casa. Logo em sua estreia, apresentou a Sardine, bolsa estruturada no icônico intrecciato (trama de couro entrelaçado), mas com uma alça metálica no formato de peixe – detalhe que a transformou rapidamente em uma it bag. O modelo ganhou novas versões ao longo dos anos, como a edição em que o animal foi substituído por vidro de Murano. Com apenas 25 exemplares, a série limitada se esgotou em tempo recorde. A tote bag Andiamo está igualmente na lista de feitos do estilista. Ela foi apresentada pela primeira vez na temporada de verão 2023.
Os cenários de seus desfiles refletiam também a capacidade de aliar rigor criativo, frescor e arte. Entre os mais emblemáticos, está a parceria com o arquiteto e designer italiano Gaetano Pesce (1939–2024), que resultou nos bancos coloridos do verão 2023, e os pufes em forma de galinha, raposa e coelho, do verão 2025, inspirados na cadeira Zanotta Saccho dos modernistas italianos Piero Gatti, Cesare Paolini e Franco Teodoro, que transformaram elementos infantis em um mobiliário divertido e altamente desejável.

Os puffes do verão 2025 da Bottega Veneta. Foto: Divulgação
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Novos caminhos
Após o período próspero de produção criativa, em dezembro de 2024, a Bottega Veneta anunciou a saída de Matthieu Blazy. Logo em seguida, no mesmo mês, ele foi confirmado para a direção criativa da Chanel.
A escolha do francês para comandar a tradicional maison faz sentido, dá liga. A sua história é costurada pela paixão por artes – da formação, na La Cambre, em Bruxelas, às colaborações com o estadunidense Sterling Ruby e o italiano Gaetano Pesce. Matthieu é, por exemplo, um curioso colecionador de rascunhos de obras de arte, e não dos artefatos em si. “Tudo começou porque era o que eu podia comprar, mas eu adoro a ideia de que eles são as primeiras expressões de algo”, disse ao jornal The New York Times, em 2023.

A campanha de inverno 2022 da Bottega, em Veneza. Foto: Divulgação
Na Bottega, a sua primeira campanha foi lançada durante a Bienal de Veneza de 2022. Os seus parceiros criativos ao longo dos anos, como Raf Simons, Phoebe Philo, Nicolas Ghesquière e Daniel Lee, têm uma relação especial com o universo. Na Chanel, essa simbiose deve funcionar: a casa tem uma longa trajetória de incentivo à arte, especialmente à artistas mulheres.
Bruno Pavlovsky, presidente da Chanel, afirmou que a etiqueta confia no trabalho do estilista para trazer modernidade por meio de uma abordagem singular. O executivo também exaltou o trabalho de Blazy: “Matthieu tem respeito pela herança, mas também um estilo muito específico para o prêt-à-porter, silhuetas e bolsas. E nós gostamos disso. Queremos que ele se esforce, teste, vá onde acha que é certo. Não queremos dar a sensação de que a marca está presa”, explicou em comunicado oficial. Nesta segunda-feira, no dia 6 de outubro, nós teremos uma ideia do caminho escolhido pelo estilista para a maison francesa.
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